#REMANDO BARCA REDONDILHA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Epígrafe:
Triunfa a
águia porque abre caminho para frente, triunfa o homem porque transforma suas
dores em ESPERANÇAS E Utopias.
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A vida,
alegoria ou pó que grita, que passa, explode e mofa?
Cinza que
é metáfora do efêmero ou chama que arde de forças, sarapalha faíscas de sonhos
e quimeras?
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Hoje
sinto a emoção verdadeira de uma entrega, e com tantos dissabores e enganos,
entrega que se torna fruto delicioso de sentir-lhe o gosto, pois reguei a
semente até ver a árvore dando frutos. Não digo que chegou o instante de
chupar-lhes, sentir-lhes o sabor. É instante de ver-lhes amadurecerem e caírem
da árvore – isto é muito bom, excelente, maravilhoso, mágico, pois que é
a-núncio de que outros virão, ainda mais deliciosos. A árvore sente e repele,
rejeita a nudez crua do boêmio não original, farsante da boêmia, trafulha no
pôquer da malandragem, vestiu a camisa, o corpo encolheu, diminuiu, tornou-se
nada, de ouvidos elétricos.
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Re-nascer
é inevitável. Re-nascer como homem, ser humano é privilégio, ser
divino-contingente, dádiva. É o único estado que permite realizar o despertar
de nossos pecados e culpas, perjúrios e sacrilégios. Levado à descrença, não
pelo conflito, dialética das dores e sofrimentos, sim pela indiferença do
tempo. O que efetivamente tem sentido, eivado de significado, é todo o calor
das quimeras como as flores e o cactus sem espinho. Esconde mistério, enigma,
por isto coisa preciosa. É lavra que não finda.
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Estou só.
Luzes acesas, sombras corporais. Paredes encortinadas, cantos semi-áridos.
Janelas entreabertas, roupas, objetos e jornais. A vida faz teias nos vastos
murais... Vai no meio em romaria, está na intenção fundamental do verbo amar, é
a razão de haver a Ilha, o Bosque das Estrelas, aí de mim, eu morreria se
parasse de REMAR essa BARCA REDONDILHA. Um cálice de Underberg, talvez dois
preencham os equívocos, os planos virão depois, digam-me se sou sábio vivendo
um pelo outro? O Ser pela Esperança e Utopia, a Esperança e Utopia pelo Amor?
Queimamos invernos tão sós, solitários, em quartos tão gélidos de dor
recordações tornaram-se torpor…
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O que se
ergue, desabrocha, floresce e dá frutos, sorrindo ao Sol e ao uni-verso é a
semente que virou árvore. Mas somente pode triunfar porque o húmus, rico e
fecundo, deu-lhe generosamente os nutrientes, ingredientes. Triunfa a águia
porque abre caminho para frente, triunfa o homem porque transforma suas dores
em ESPERANÇAS E UTOPIAS. A cada instante se muda não apenas o instante, não só
o lugar do ponteiro do relógio, mas o que se crê nele, espera-se dele, deseja
que ele realize, a vida passa entre viver e ser, entre re-versos pilares e
horizontes. Quiçá a vida seja inglória, não sei se deveria pensar assim, pois
que há instantes em que é pura glória, é puro resplandecer, outros há que não,
é inglória, mas, com efeito, conhecê-la é inglório, a sede de conhecimento
transcende o próprio conhecer. No alto de algumas colinas, icei-a para não
perdê-la, sentir-lhe a ausência, icei-a aos ventos, como resto de um giz com
que na lousa registrei alguns ideais! Se recordo o que conheci de mim,
sentindo-me contente, prazeres e alegrias perpassando-me, outrem me vejo, e o
conhecimento de antes, o passado é o presente que me habita a lembrança.
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Quem fui
é alguém que amo, contudo somente em sonho. Feliz aquele a quem a luz do
conhecimento se lhe a-nuncie, mas não todo. Que pesa o escrúpulo do pensamento
na balança da vida?
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Ninguém o
sabe, não porque não o permita, não o con-sinta, tudo faço para não me deixar
ver nas percuciências de minh´alma, simplesmente porque esta minha solidão é
mais que particular, é-me a essência, é-me o ser. Silencio-me e finjo. Criei em
mim momentos, intantes-já que até duvido que existam, o giz se perdeu pelos
ventos, os ventos levam-me a vida! Finjo sem fingimento, pois que assim sinto
que não tergi-verso o que em mim habita, não tripudio com as verdades em que
creio impiamente, não jogo a carta da proscrição, naipe amareliçado da heresia,
esperando ser absolvido do erro de querer ser, existir tudo o que um giz tenha
feito simples apagador já causa muito efeito– a cada coração o único bem de ele
poder ser dele.
#RIO DE
JANEIRO, 15 DE ABRIL DE 2020#
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