DE TANTO CHEIRAR...**đ GRAĂA FONTIS: PINTURA Quinzinho de Parafusos a Menos: SĂTIRA
Nada mais
agradĂĄvel que o cheiro das rosas, de preferĂȘncia as brancas, tĂŁo agradĂĄvel que
o desejo é de cheirå-las até que cheire a elas; assim, no quotidiano das
relaçÔes com as pessoas, sintam prazer os mais esplendorosos e inusitados,
divinos e inestimåveis, com a minha presença, dizendo-me alegres e saltitantes:
“VocĂȘ, Quinzinho de Parafusos a Menos, cheira a rosas brancas. Que perfume
gostoso”. Se me faço entendido no sentido de que nĂŁo tomei banho com sais de
rosa, sabonetes importados lå de França, mas de tanto cheirå-la, desejar tanto
o seu perfume, e poder ser, assim, uma pessoa cheirosa intimamente, e nas
atitudes com os Ăntimos, serena, entregue, a solidariedade de mĂŁos que tecem o
crochet de outros sonhos e esperanças.
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Surgem as
curiosidades de saber que perfume ou desodorante estou usando, onde foi que
adquiri, na loja da Natura na Praça Benedito Valadares, se encomendei da
capital, se mandei buscar em Portugal ou Inglaterra – da curiosidade Ă inveja o
limite Ă© mĂnimo, o mesmo da loucura Ă sanidade, da insanidade ao bom senso. NĂŁo
hĂĄ como estabelecer o limite.
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Toda
pergunta merece a devida e sapiente resposta – muito comum aos professores,
sejam de que disciplina for, dizerem nĂŁo existirem perguntas imbecis, existirem
sim respostas cretinas, e são as que mais sabem dar com educação e finesse,
enfim precisam conservar os valores inestimĂĄveis, adquiridos nos estudos
universitĂĄrios, leituras de obras importantes, experiĂȘncias docentes.
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O
problema Ă© responder ao questionamento feito sobre estar cheirando a rosas
brancas. Dizer que, em verdade, nĂŁo estou usando qualquer desodorante ou
perfume. Ăbvio, a manifestação de espanto, olhos brilhantes, um quĂȘ de
desconfiança surgem logo. Outra pergunta: “Se nĂŁo estĂĄ usando desodorante,
perfume, como Ă© que cheira a rosas brancas? E Ă© um perfume tĂŁo agradĂĄvel”.
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Faz-se
mister preparar o espĂrito para mostrar com transparĂȘncia a seriedade,
sinceridade da resposta, caso contrĂĄrio entende-se como cretina, e isto causar
insatisfação, raiva, ódio, mal-estar, até mesmo palavras de baixo calão. Dizer
Ă pessoa que... "...embora a resposta possa parecer indelicada, absurda,
mas a verdade deve ser dita. Visto as pessoas jĂĄ me conhecerem, saberem que em
determinados momentos rasgo os verbos com todas as letras, nĂŁo me importando
com as reaçÔes óbvias, torna-se complicado responder a questionamento tão
percuciente, a razĂŁo de estar cheirando a rosas brancas." O que poderia
alguém res-ponder a esta fala, nada senão silenciar-se pela consumação dos
sonos eternos.
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O fato de
cheirar a rosas brancas se explica por tanto cheirĂĄ-las, passei a cheirar a
elas, nĂŁo me custara muito tempo. Pode ser que com outra pessoa isto leve tempo
infinito, pode ser que morra sem o conseguir. Com esta prévia explicação, com a
resposta dada com finesse, a pessoa nĂŁo pense, julgue, de antemĂŁo Ă s revezes,
nĂŁo haver sido agressivo, sua pergunta fora cretina, a resposta devendo sĂȘ-lo.
EntĂŁo, o que fora apenas curiosidade torna-se inveja, a pessoa passa a cheirar
rosas, nĂŁo podendo ver uma, pulando muros de casas, de terrenos baldios,
bandidos assaltando os canteiros pĂșblicos, nas floriculturas comprando e
levando para casa, colocando na sala de visitas, cozinha, alcova, para
cheirĂĄ-las a todo momento, passando a vida a fazĂȘ-lo, sem conseguir, dizendo
que fui privilegiado por Deus ou pelos deuses.
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AliĂĄs, se
não for devidamente explicado, jå disse com finesse e educação, a pessoa vai
logo dizer, perguntar como Ă© que na vida sempre senti o cheiro de coisas velhas
e nĂŁo cheiro a coisas velhas, ao contrĂĄrio o meu cheiro Ă© de ser humano mesmo,
salvo nas ocasiÔes em que sou obrigado a usar perfume de grife. Deveria estar
cheirando a coisa velha, a vida inteira sensĂvel a isto; no entanto, estou
cheirando a rosas brancas.
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Caso seja
destes espĂritos percucientes, sedentos de transcendĂȘncia, mergulham no cheirar
o infinito, desejando que cheirem a ele, vindo a decepção, frustração, por mais
que tentaram, fizeram das tripas coração, nĂŁo conseguiram, a percuciĂȘncia
espiritual que julgaram ser portadores dela jamais existiu, passaram a vida na
mentira e aparĂȘncia. O que todos agora pensam delas? Jamais alcançarĂŁo a
transcendĂȘncia, jamais se espiritualizarĂŁo, morrerĂŁo zero Ă esquerda.
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Se for
“analfa de pai, mĂŁe e betos”, desejoso de cultura e intelectualidade, ouvindo
isso de tanto cheirar a "coisa", o " Ă", ele passe a
cheirar a ela, enchafurda-se no cheirar a cultura e intelectualidade através
das obras de autores imortais e eternos na histĂłria universal, ler a BĂblia de
trĂĄs para frente, de frente para diante, do meio para as bordas e das bordas
para o princĂpio. Pode atĂ© ser que consigam. NĂŁo me lembra mais quem dissera:
“O melhor mestre Ă© um bom livro”. PossĂvel intelectualizar-se, sabendo que isto
leva tempo infinito, mas a esperança Ă© a Ășltima que morre. Cheirar Ă cultura e
Ă intelectualidade nunca serĂĄ possĂvel.
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RisĂvel
mesmo Ă© alguĂ©m começar a cheira uma flor, de cujo nome nĂŁo me lembra –
conheci-a na infĂąncia, no pasto da fazenda de meus saudosos pais -, mas o odor
Ă© mesmo de merda, por sempre ouvir as pessoas dizerem ser homem de merda,
carĂĄter e personalidade espĂșrios, comportamento e hĂĄbitos indecorosos,
viperinos, até concordando com um artigo escrito no tablóide O Corvo, Viver é
muito perigoso, por ele cheirar a merda, tirado da obra de GuimarĂŁes Rosa,
Grande SertĂŁo: Veredas,– precisa provar a si mesmo, certificar-se desta
realidade, jĂĄ que de outro modo nĂŁo lhe Ă© possĂvel, passando a cheirar a flor,
e, quase sem esforço ĂĄrduo, o cheiro de merda impregna-lhe por inteiro – pelo menos,
serviu-lhe para se conscientizar do homem que sempre fora; o problema Ă©
transitar no quotidiano: enquanto merda de carĂĄter e personalidade, mesmo que
discriminado por alguns que conheçam o que é isto ter caråter e personalidade,
mas com o cheiro de merda que adquiriu por desejar mostrar-se ser o que diziam,
difĂcil transitar, a rejeição nĂŁo Ă© psicolĂłgica, Ă© real. SĂł lhe resta
enchafurdar-se em casa, esperando a morte com o cheiro de merda, até que o
cheiro seja outro bem diferente, de carniça.
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Agora,
fico pensando nos historiadores, intelectuais, cientistas, doutores,
especialistas, ficcionados na cultura francesa do século XVIII; claro, é
preciso muito estudo, espremer os miolos para compreender e entender, para
registrĂĄ-la com dignidade, sem entrar nas mediocridades da ideologia chinfrim,
sendo real com os acontecimentos. Sendo Paris, neste século, a cidade mais
fedorenta do mundo – meu Deus!... Dizem que a fedentina era sĂ©ria, os
parisienses andavam com os dedos da mĂŁo no nariz, tornou-se moda, estilo de
vida.
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HĂĄ
aqueles historiadores, intelectuais, escritores, capazes de tudo para
fundamentarem a histĂłria com primor, serem os que mais dignamente mostraram,
homens que serão respeitados por todos os séculos, amém, e por toda a
eternidade serem estudados. Para que isto seja possĂvel, faz-se mister
mergulhar na fedentina parisiense, explicando as razĂ”es polĂticas, sociais,
individuais que culminaram nisto, nĂŁo lhes restar alternativa senĂŁo se
entregarem a cheirar Paris até que eles cheirem a Paris. Fica sutil sugestão:
leiam Paris de Balzac, quem sabe a obra possa ajudar a realizar os tĂŁo
desejosos sonhos. Bem, deixemos Paris: leiam Atenas Atéia, de Bernardo Mendes,
quem sabe possam com-preender a fedentina de coisas velhas em nosso mundo.
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Bem...
Fica complexo, dificĂlimo, complicado saber o que os homens, indivĂduos de
nossa contemporaneidade irĂŁo pensar deles, mas, com certeza, dirĂŁo, com
espontaneidade e liberdade, que o “habitat” deles nĂŁo Ă© o de hoje, sĂŁo
intelectuais que se esqueceram de cair duro e fedendo, prolongaram a dureza e
fedentina até os dias presentes; e eles, ressentidos, magoados, humilhados,
ofendidos, respondem com propriedade e categoria que a “fedentina” do sĂ©culo
XVIII francĂȘs dera origem aos perfumes requintados e esplendorosos de nossa
modernidade, dias atuais, custando fortunas inestimĂĄveis, dependendo das
empresas responsĂĄveis pela qualidade do perfume que comercializam no mundo
inteiro.
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Assim, a
ficcionalização dos historiadores em mostrar o sĂ©culo XVIII francĂȘs encontra
justificativa, sĂŁo justificados por mostrarem que as merdas da histĂłria podem
ser transformadas a partir da determinação de transformå-las radicalmente.
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Conforme
esta lenga-lenga que venho escrevendo neste artigo, venho pensando em nossa
histĂłria, no desejo de alguns – sĂł conheço dois escritores cronistas capazes,
portadores de inteligĂȘncia e sensibilidade, de avaliar estas questĂ”es – de
serem responsĂĄveis e dignos com suas escritas em mostrarem as nossas realidades
nuas e cruas, um deles espiritualista, o outro memorialista, dizem ter havido
um metafĂsico, filĂłsofo, mas nĂŁo li a sua obra.
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De tanto
cheirar os desejos e vontades de ser o mundo algum dia autĂȘntico com os seus
princĂpios, Ă©ticas e morais, homens que realmente honrem e identifiquem suas
vidas, espero, ansiosamente, que passem a cheirar ao mundo, e a partir de entĂŁo
assistam às transformaçÔes e mudanças reais em nossos tempos hodiernos.
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Ih, ih,
ih…
#RIO DE
JANEIRO, 18 DE ABRIL DE 2020, 6:00 a.m .#
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