#POR QUEM OS SINOS DOBRAM# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
À Amiga e
Companheira das Letras, Ana Júlia Machado, com os meus sinceros cumprimentos.
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Há dias
os sinos tocavam e repicavam os ares de um firmamento azul do dia como se
fizesse pazes com o mundo, saíam pombos da pequena igreja, esvoaçando baixos,
preenchendo os espaços da pracinha, pessoas paradas, observando, no peito
ad-miração e felicidade por cena tão mágica e maravilhosa. São momentos de
lembranças, são instantes em que a sensibilidade se apresenta sedenta e ávida
de vôos profundos, aproveito o ensejo para tecer em palavras o que presenciei
naquele dia em que o povo do lugarejo invadiu o templo como se fossem canibais
de um mito; os pássaros cantavam suas músicas que, no tempo e este integrava na
perfeição de um espaço distante, a brisa da manhã era como o espelho dos
reflexos humanos. Sonhei e naquele sonho supus as mais lindas histórias de um
conto de fadas e como numa fábula resplandecia a paz que mais uma vez julgava
intermediária dos próprios homens.
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As
criaturas... pequenas grandes criaturas que formam mito salva uma frase inerte
e insensível aos ouvidos, memorizam uma expressão latina que suscita incólume
verdade... à loucura... São elas o fulgor de uma estrela de um ponto que
esconde e trans-parece lá bem distante, são o brilho atrás da lua que reflete
para trás a sua luz branca e resplandecente, incidindo nos campos silvestres,
nos chapadões solitários e íngremes, nas corcovas de serras e montanhas, onde
as estrelas sinuam por outros trajetos e itinerários, não é negócio velarem os
seus osssuários. As criaturas da noite são apaixonadas. Fazem anarquia. Uma
farra que descobre sentimentos, que envela dores e sofrimentos, que omitem
mágoas e ressentimentos. Que amam a madrugada, o latido dos cães. Que cantam
com fervor cânticos os mais di-versos na esperança de a aurora nascer
performando novos passos de dança, à luz do corpo, constituído de carne e
ossos. Que somem sem deixar quaisquer vestígios.
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Ali, à
face da montanha, vejo sumir-se, nos pingos dágua, expressando de outro modo
asco e náusea que me habitarão, enquanto for vivo, mesmo debaixo de sete
palmos, mesmo por toda a eternidade até a consumação dos tempos, e serão
sentidos por qualquer indivíduo, embora a sua sensibilidade seja apenas para
sobreviver no mundo, a mentalidade bem menor que o salário do egregíssimo Prof.
Raimundo, o milagre da obra humana, a magia das esperanças de algo ser
construído à luz da verdade e do amor. Na minha voz tranqüila, impérios ruíram,
orgulhos e vaidades escusas desmoronaram, ostentações de moral e ética
indevassáveis quedaram sem direito a único suspiro, até as letras, em
princípio, uni-versais e eternas conheceram o nada e o vazio do nascimento da
razão, uma luta de morte pré-cede todas as mudanças, no sil-êncio da ordem
uni-versal rigor da razão cobre o tempo novo, a fé nova que nasceu, as velhas
que se transformam, mudam de fisionomia, mudam as faces.
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Todo dia,
faça chuva ou faça sol, há o jogo de luz e sombra, jejum repleto de gula, o
réptil subreptício com sua gosma de íntimo. Quem não sabe dos buracos negros
nas profundezas do poeta? Quem não conhece os vazios e nadas nas pré-fundas do
escritor? No observatório do coração alucinado, perdido nas costelas das
constelações, nas costas das estrelas e da lua, de sonhos e atônitas
realidades, o escritor, o poeta são galileus no breu das inquisições. Todo cair
da tarde a toada de medo, de insegurança, poema ou prosa de merda, merda de
prosa poética, o morrer que começa feito cócegas nos dedos.
#RIO DE
JANEIRO, 14 DE ABRIL DE 2020, 07:13 a.m.#
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