ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO Manoel Ferreira Neto ENSAIA O POEMA LEGITIMIDADE DE Ana Júlia Machado
Habitam-nos
o espírito e toda a nossa vida a busca de real-izá-los, com a real-ização sentirmos
presente a Vida, sentirmos a felicidade e alegria de havermos dado sentido,
havermos construído a nossa imortalidade, havermos alimentado de nosso próprio
pão com o nosso suor e esforços. A vida é curta e muitos deles, devido a estas
ou aquelas circunstâncias, não tiveram oportunidade de real-izarem-se, fomos
obrigados a escolher entre os mais urgentes, necessários, deixando os outros
para outros tempos e possibilidades. E muitos destes, que esperaram por
real-iz-ações depois, eram as seivas da vida, eram as águas que saciariam as
sedes de ESPIRITUALIDADE E VIDA.
***
“Lá se
vão arrebóis/de minhas auroras. Onde estão girassóis/de cor tão louçã?” Cada
pessoa precisa des-cobrir, à sua maneira, as alegrias da velhice. Os arrebóis
dos alvoreceres não são, na memória do personagem, as alegrias da sua vida? -
com certeza, sentiu-os presentes e fortes no passado, sentiu-se alegre e feliz
com eles, e agora nas suas lembranças são sementes e raízes deste novo tempo.
***
E os
girassóis de cor louçã, onde estão? Algumas formas e expressões de alegria e
felicidade características da mocidade, já não possuem o mesmo atrativo, na
velhice; outras já nem são mais possíveis. Por exemplo, a participação em
esportes fisicamente difíceis, as viagens e o fascínio do amor jovem podem ter
sido fonte de felicidade e de júbilo em dias passados; mas para muitos velhos
são apenas lembranças.
Manoel
Ferreira Neto
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Legitimidade
É
legítimo que certas ocasiões ambicione lacrimejar,
Mas se o
gemido tapar a faringe,
Alinho as
costelas, alteio a barbela e gracejo.
Gracejo
francamente
Em
vanguarda aos que encaram-me abatida
Pois
vexatório é desprezar-se os modestos.
É
legítimo que ensaie-me e somente consume-me
No
sem-fim do meu inerente isolamento!
Mas
quando o retiro causar repercussão na minha existência,
E
avaliar-me atormentada mente isolada,
Enlaço o
que cinge-me,
Aspiro
visceralmente e recorda-me que a existência
É um
repto em extenso tempo, ou não...
É um
canto de semideuses, não de derrotados.
Emanei
para avassalar.
É
legítimo que feneça vagarosamente,
Quando
submerge-me na nostalgia.
É
legítimo que feneças
Quando
avalio o pretérito a fugir pelas mestrias,
Como
sombras insufladas pelo vendaval.
É
legítimo que olhe para o passado na agonia
De
jornadear para abaixo da idade.
É
legítimo que os aljôfares pretendam explodir nos olhos
E os
joelhos pretendam flectir ao ónus dos andares,
Quedes de
quem não percebe por onde caminhar...
É
legítimo que a perplexidade desalente
É
legítimo que avalie-me confusa nas datas
É
legítimo que abomine o planeta que circunda-me
É
legítimo que suceda
As
criaturas possuam a aparência de imagens
Narcotizadas,
independentes, trucidadas, desclassificadas.
Seja quem
for a criatura é nula
Nem eu
sou o planeta. O que é o planeta?
Para lá
de tudo é a pujança dos grandiosos
a
mortificar os frágeis;
Frágeis
açaimados com a realidade
a
abespinhar-se pelos interstícios,
Porque a
boca quedou silenciosa,
Escassa a
energia, não da realidade,
Mas a
energia que converte robustos os frágeis...
Assim
inicia a pugna díspar nesta selvática existência.
Na
floresta meramente resistem os robustos!
Se
almejar-me lacrimejar, gracejo
Gracejo
não coercitivamente, mas com tranquilidade
Se
almejar aquietar-me imóvel a um recanto,
Sem
energias para protestar...
Alteio-me
e arranjo -me para operar,
Mesmo que
não possua erudição de como fazê-lo.
Parada
jamais
Os
sepulcrários é que estão habitados
de
representações entorpecidas.
Não cedo
que os distintos ensaiem
a
dimensão da minha míngua
Não
exibo-lhes a tua avidez, nem a tua míngua,
nem o teu
desamparo
Neste
mundo cada vez mais feroz e desumano...
Ana Júlia
Machado
#RIO DE
JANEIRO, 15 DE ABRIL DE 2020, 23:38 p.m.#
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