EIS QUE NASCE UMA ESCRITORA#🦉 GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: ENSAIO
"Pro-jectar-se
significa abrir outros horizontes, outras trilhas a serem
palmilhadas."(Manoel Ferreira Neto)
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A
pintora, escritora e poetisa Graça Fontis assume pro-jecto diferente à sua
Arte da Pintura. Envereda-se pela Literatura, Prosa.
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Se para o
iniciante - quem começa a escrever, não pertencendo a outra dimensão da Arte,
como ela -, escrever é angustiante, desesperador... imagine quem pertence à
Pintura embrenhar-se pelos caminhos das Letras é ainda mais angustiante,
desesperador, de arrancar tufos de cabelos, dar nós górdios na língua,
encontrar a Linguagem, o Estilo, tornar o pensamento linguagem, a linguagem
pensamento, tornar-lhes transparentes, nítidos são tarefas de Sísifo, leva-se a
rocha até o cume da montanha, cujo objetivo é instalá-la no topo, mas ela rola
para baixo, assim continuamente, a rocha jamais instalada no cume.
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A artista
não se intimida com esta travessia. Deseja realizá-la não apenas a contento,
mas radicalmente. O seu objetivo sine qua non é comungar a Imagem e as Letras,
arrancar da Imagem as Palavras, tornar as Palavras Imagem.
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É de
ad-mirar-se a sua entrega. Nos seus textos prosaicos, quer mostrar a que vem,
sua intenção fundamental. Outra vereda para esta realização não seria senão o
mergulho profundo na sua sensibilidade, no seu "eu-poético",
"eu-plástico". Numa con-versa nossa, após a produção de "NAS
SENDAS DA CRIAÇÃO", dissera-me que, para criar um texto, ela traz tudo o
que há dentro de si no momento da pintura, e isto é extremamente complexo, dá
vontade de arrancar-se de dentro, é uma dor no peito sem limites, e esta
passagem elucida com primor o instante da criação literária: "... à busca
da razão concebível, não perecível no tempo e no devir...", a busca da
racionalidade da prosa, não havendo alternativa senão "... deixo-me
arrastar pelo indomável portento a abrigar-me nas matas brutas, caverna de prisco
odor neste influxo intrépido sem que se me extravie das ondas indômitas
irreverentes a emitirem uivos em desespero nas sendas da criação..."
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Diz ela
que a Poesia é mais fácil de criar, é deixar os versos e estrofes nascerem à
luz da sensibilidade, intuição, percepção, criatividade. Sente-se livre com a
Poesia. Mas ela não quer esta liberdade, quer se sentir presa, amarrada,
aguilhoada à razão, quer pensar o pensamento que pensa, quer espremer os
miolos, quer a adesão do pensamento e do mundo.
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Quê
metáfora esplendorosa cria para revelar como a prosa se lhe manifesta:
"... São árvores, ninhos, raízes, montados no tempo, néctar dos desejos
transcendendo passado, ventos e limites arquitetônicos na ressuscitação densa e
casual destes instantes aflitos, impacientes..." A prosa é isto mesmo e
transcende a isto, vai muito além. Para mim, a prosa é uma verdadeira floresta
fechada e hermética, em todas as suas sendas corre-se riscos, está-se ameaçado
de todas as intempéries, o que salva de ser engolido por ela é a criatividade
conciliada ao pensamento, às idéias, plagiando as suas palavras reveladoras:
"... tropicália mental dos sonhos voadores".
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E para
identificar com categoria esta "tropicália mental" inicia a sua
jornada na Filosofia, lendo autores filósofos. Aliás, chegou a afirmar-me que
desejava muito fazer faculdade de filosofia, embrenhar-se nas idéias,
pensamentos.
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Este
texto é histórico, é um documento primoroso para se conhecer não só a
artista-plástica, mas também a escritora, uma viagem adentro a alma, a
inconsciência, ao inconsciente artístico. Para se ler e entender Graça Fontis
mister a leitura deste texto. Conheço, no real mesmo, alguns escritores e
poetas de primeira viagem que não se dignaram a esta reflexão, deixando que o
tempo cuidasse de mostrar-lhes o caminho a seguir. A escritora Graça Fontis
não. Já se dignou a fazê-lo na criação prosaica, o que mostra o seu
compromisso, responsabilidade com o pensamento, com as idéias. Por onde passar
nestas alamedas prosaicas haverá passos flexíveis, a in-ovação, a re-novação,
isto é a Liberdade da Criação em questão, em jogo, à busca do Ser.
#RIODEJANEIRO#,
16 DE ABRIL DE 2020, 11:35 a.m.#
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