#PÓSTUMO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Epígrafe:
E diz Machado de Assis:
"Há homens que já nascem póstumos."
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Tem dias que nos sentimos póstumos
E este sentirmos-nos póstumos
Apaga todas as luzes da percepção,
Intuição, inspiração,
Razão, intelecto.
Sinto-me assim hoje, apagado de tudo:
Não existo, estou fora de mim,
Nenhum ritmo de balada recoloca-me em mim,
Nenhum som dos poemas acende-me
Os versos do nada, estrofes do vazio. "
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Póstumo.
Nada de imortal, nada de eterno,
Nada de perene, nada de perpétuo.
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A morte é-nos, somos vida e morte,
Somos silêncio e algazarra,
Somos solidão e presença de presentes quimeras...
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{Efêmero, nostalgias, melancolias,
Vazios, náuseas, tristezas,
Falhas, faltas, equívocos...
Habitam-nos...}
Póstumo
É o nada de ventos
Soprando as brisas leve e suave,
Na {in}-sustentável leveza do ser,
Sibilando nos abismos os sons poéticos
Do espaço, as claves versáteis do in-audito,
Há-de re-versar as antíteses da síntese,
Há-de in-versar as teses da antítese,
Para com-preender as melodias da luz
Em cujas interstícios perpassam na maciota...
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Desejo de estar dizendo algo que ultrapasse as
letras, des-conhecendo as entrelinhas, além das linhas, onde me encontro em
verdade, nada havendo que me liberte das teias que, desde há muito, tomou-me
inteiro, não pude desvencilhar-me, entreguei-me por completo... Ordinário
mundo, vejo, enxergo dentro dessas miríades que a sensibilidade concebe, gera,
pare...
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Con-templamos as esperanças, sonhos,
Desejamos-lhes, são a vida,
Entregamos-nos, doamos-nos,
Afagamos-nos nos braços da entrega.
Seguimos a estrada, alguém, algo
Espera-nos nalguma estação, casebre,
Nalguma choupana, nalguma vendinha,
Esquecida de poeiras,
E se nada, ninguém estiverem esperando
Horizontes, uni-versos estão de braços abertos,
Arredondando os lábios para o ósculo sereno.
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Existe algo superior à Liberdade?
Até o Amor necessita da Liberdade,
A Liberdade escolhe, re-colhe, a-colhe
Quem é o Amor que pulsa no seu corpo, alma,
Qual é a sua Esperança, a que lateja em seu peito,
Melodia do Silêncio,
Ritmo do In-visível,
Qual é o Sonho que lhe corre nas veias,
Qual é a sua Morte, a que está dis-posto a lutar,
Qual é a sua Imortalidade, a por que anseia,
Tremor, temor...
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A bomba do tempo explodindo, aeiou, féretro, feto,
preciso de amor, de carinho, de poder entender o porquê desta música agora
poder revelar sentimentos outros próximos do que sinto e penso, dos verbos e
regências de que servir para conjugar os tempos levados nos alvoreceres e
crepúsculos, do que penso em sentir, sinto pensar em mim, dos sentimentos de
amor que borbulham de prazer e alegria, felicidade nos âmagos da alma, e tudo o
mais se me apresenta difícil, impossível, senão em outras situações ad-versas
ao quotidiano das fantasias e quimeras...
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Póstumo.
Quimeras, fantasias, sorrelfas
No alforje, algibeira, mochila
Desejo de ser inteiro,
Vontade de ser tese de antíteses e sínteses,
Volos de ser antíteses de teses sintéticas,
Requer ser inteiro nas contingências
Neuroses, psicoses, escalafobeticismos,
Pitis, mazelas,
Néctar dos deuses,
Prazeres e risos da própria condição
Quê gargalhada esplendorosa!
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Póstumas
São as idéias... pensamentos, ideais, utopias
Que o vento re-colhe, a-colhe, leva consigo
São a sensibilidade, a alma, o espírito
Que re-versam os questionamentos, indagações,
Que de re-vezes de re-flexões tecem com linhas
Trans-versais a solidão de idéias...
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Nada havendo de mais prazeroso senão isto de
brincar de nada, de nada dizer com a engenhosidade e arte de seguir o fluxo da
consciência, às vezes contrariando em absoluto os princípios da linguagem e
estilo eruditos, criando imagens que só com muita intuição se pode in-vestigar
o que porventura possa significar, se é que signifiquem alguma coisa, mas que
dizem!...
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Póstumas
São a percepção, intuição, imaginação
Que fecundam e febundam os volos...
Modos de olhar o mundo,
Os céus estrelados lá no alto,
A magnífica tensão do espírito,
O impulso de verdade.
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Postumas
As palavras seguindo o fluxo de algumas emoções
Que se mostram leves,
De uma leveza sem frios
Nem invernos
Que a(s) cubra(m) de desejos de poesias,
Flores que a(s) ornamente(m),
Dando-lhes um caráter ingênuo e inocente,
E toda a busca fosse primeiro entender
Esta imagem que se me apresentou ao espírito,
E, ouvindo música sendo executada e interpretada,
cantarolada
Por um vocalista,
Podendo imaginar os seus gestos e atitudes
Em dança com os desejos e vontades
Que habitam o íntimo,
E só a liberdade irá tornar possível o encontro e o
desencontro,
Outro passo distante do longínquo imaginado...
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E diz Machado de Assis:
"Há homens que já nascem póstumos."
#riodejaneiro, 20 de fevereiro de 2020@
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