#À GERAÇÃO DE ROMÂNTICOS E IDEALISTAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA
Epígrafe:
Abóboras e ervas daninhas
Florescer-se-ão sempre,
Intrusos do meu jardim!... (Graça Fontis)
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Ser e nada.
Silésias do inaudito. Silésias da plen-itude
Silésias de sentimentos que pervagam perspectivas
Contingentes do nada
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Pers de sentimentos do sublime perpassados de
ilusões do eterno, velado de esperanças de o ser, verbalizando as verdades do
espírito, despetalem-se qual orquídeas brancas no alvorecer, exalando as
sin-estesias e metáforas do perpétuo, versos e estrofes do além iluminando o
inter-dito da contingência de querenças e desejâncias do vir-a-ser.
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Perguntar-me-ia em primeira instância,
até para ser diplomata e estratégico,
o que devo fazer,
se se me meteu na cachola que
não se vive somente para isto ou aquilo e que,
se se vive,
é num palácio que é preciso ser instalado?
Essa é a minha vontade,
isto é meu desejo, instalar este palácio.
Quem seria capaz de me arrancar esta vontade,
podem tentar anulá-la a partir da perseguição,
preconceito, marginalização, interesses mesquinhos e medíocres,
podem obscurecê-la com máscaras e véus?
Nada pode arrancar-me esta vontade senão quando
alguém perspicaz e inteligente tiver a ousadia de modificar os meus desejos.
Pois bem, direi com todas as palavras e letras legíveis: “modificai-os,
apresentai-me, senhores, outro fim, oferecei-me novas utopias e sonhos, novos
ideais”.
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Enquanto espero que me apresentem, ofereçam de
coração e espírito, recuso-me a tomar um chiqueiro por um palácio de cristal.
Isto até por bom senso: o chiqueiro é chiqueiro, palácio de cristal é palácio
de cristal, a menos que esteja afastado de minhas faculdades mentais, seja
insano.
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É sim possível que o palácio de cristal não seja
senão um mito, as leis do ponto e natureza não o admitam e que eu o tenha
inventado, criado, para satisfazer os desejos de pilhéria e cinismo deslavados,
impelido por certos hábitos inconscientes e irracionais da nossa geração, não
creio os tenha trazido de outras.
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O que importaria, aqui e agora, que o castelo de
cristal seja inadmissível, ininteligível?
Que me importa, pois que ele existe nos meus
desejos
– construindo ou não construindo, em verdade -,
ou, ainda para ser mais profundo,
mergulhar na semente de mamona, pois que o castelo
de cristal existe tanto quanto existem meus desejos?
Se me apresentarem meios e estilos de o instalar,
se me oferecerem as oportunidades reais e concretas de fazê-lo, agradecerei a
todos e oferecerei as mãos para o sacrifício, sentir-me-ei feliz e realizado,
instalei o castelo de cristal de meus desejos.
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Penso e imagino estejam caindo na gargalhada pela
pilhéria sem limites, numa linguagem e estilo clássicos, eruditos. “Ride até
mais não podeis. Ofereço-me a interromper por alguns segundos até que possais
continuar a ler. Ride tanto quanto vos façais felizes”.
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Se me desnudo diante de vós, apresento-me a vós com
estes e aqueles desvios de toda ordem e qualidade, ofereço-me numa taça de
cristal para saborear-me num “à nossa”, aceitarei todas as pilhérias, admitirei
todas as zombarias, recusar-me-ei, contudo, a declarar-me saciado das fomes
milenares, sedes seculares, quando ainda tenho fome e sede; não me contentarei
com uma responsabilidade, com um zero cada vez mais inclinando para a esquerda,
renovando-se indefinidamente, pela única e exclusivíssima razão de que está
conforme as leis da diplomacia, estratégia, os bons princípios.
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Estivera numa garagem, num princípio de noite
chuvosa, conversando com o proprietário quem tinha alguns galões de pinga.
Disse-lhe com todas as letras: “Bem... Você já conhece bem um lema, pode-se
dizer lema, isto de termos de articular as nossas preocupações e não nos
afastarmos delas. Deste modo, não admitirei que o coroamento de meu castelo de
cristal de meus desejos possa ser um chiqueiro, com alojamentos a preço módico
no carnaval”.
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Caíra na gargalhada, talvez por haver compreendido
e entendido que as bagas aqui não são de infiéis e imbecis.
O que teria a dizer, não me referindo às
gargalhadas do amigo? Destruí meus desejos, derrubai meus ideais, apresentai-me
um fim melhor, a infidelidade e imbecilidade são mais dignos, e eu vos
seguirei.
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Ah, sim, nestes momentos de pilhéria, inda mais que
não dirigido a alguns, aqueles e estes, mas genericamente, a carapuça serve a
uns e outros, dir-me-eis que não vale a pena ocupardes-vos de mim, enfim quem
sou e o que represento para ser tão prepotente, arrogante, com o
“rei-na-barriga”. Neste específico sentido, posso garantir-vos que vos respondo
do mesmo modo, até com uma pitada de pimenta.
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Afianço-vos que não admiro um poucochinho sequer em
mostrar a língua. Se me dirijo a vós nesta linguagem e estilo, é que outras não
me são dadas saber, quem sabe por a língua haver se desenvolvido bastante; não
é que aprecie mostrar a língua.
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Faria cortar a minha língua com todo prazer e
deleite, a medicina está muito evoluída para não estancar o sangue, por gratidão
mesmo, se se arranjassem as coisas de modo que não mais fosse preciso dizer
alguma coisa, causar polêmicas as mais sérias possíveis e impossíveis.
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Não me digais que eu mesmo estou a renunciar o meu
castelo de cristal muito cedo, pela única e exclusivíssima razão de não vos
mostrar a língua. Que me importaria se as coisas não se arranjarem assim, o
castelo de cristal não seja instalado, tendo de alugar um cantinho no
chiqueiro, até com buchas de papel nas narinas para não morrer cedo, inalar tantos
vírus da fedentina,
isto se for possível chegar lá.
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Digo-vos que durante quarenta e sete anos,
permaneci silencioso no meu canto, cuidando disto e daquilo, tentando
desvencilhar-me de inúmeras dificuldades, mas devido a sair do buraco, falo,
falo, falo...
Se vim para dizer alguma coisa, então que seja para
transformar, melhorar... Caso contrário, não mereço nem o chiqueiro, e o pior
de tudo é que sou eu quem respondo pelo não-merecimento.
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Pensativo e distraído, tinha aspecto agradável,
constituição robusta, pouco além da média. Olhar fixo, o que é peculiar às
pessoas distraídas e pensativas. Olhava sem sequer ver. Taciturno e nostálgico,
acontecia, na imaginação e fantasia, mostrar-me loquaz, jovial, rindo só a
Santíssima Trindade sabe de quê. A imaginação não passava de fogo de palha,
assim que se acende logo se apaga.
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Há quem acredita que diante de estilo assim, não
tenha outro interesse senão mostrar a condição humana, ridicularizar e ironizar
tais espíritos. Trata-se de tipo pecuniário à nossa geração de românticos e
idealistas.
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Interessante observar que pilhérias não dão
resultado. Não lhes conhecem as sutilezas. As bochechas começam a dessecar-se
na direção das gengivas. Palhaço autêntico, inato, o mesmo que imbecil e
idiota. Não negava que um espírito medíocre e tolo habitasse nele. Se fosse
mais educado, não dizendo de cultura e intelecto, ter-me-ia alojado em outra
parte. Ele não tem importância alguma. Se me afasto desta descrição, diria: é
figura impoluta de caráter sem jaça.
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Toda a vida, mentira e aparências. Quem mente a si
mesmo e escuta a própria mentira, é capaz de gastar tempo em seus silêncios.
Não mais distingue a verdade, nem em si, nem em torno de si. Perde o respeito
de si e dos outros. Não respeitando ninguém, está inteiramente destituído do
amor. E para se distrair, é suficiente entregar-se às paixões e gozos imbecis.
Quem mente a si próprio pode ser o primeiro a ofender-se e humilhar-se. Por
vezes, creio ser agradável, deleite para o espírito, ofender a mim mesmo, não é
verdade? Um indivíduo reconhece e sabe que ninguém o ofendeu, nem teve intenção
de o humilhar. Ele mesmo forjou ofensa e mente para embelezar, ser espirituoso,
enegrecendo de propósito o quadro, que se ligou à palavra e fez dum montículo
montanha.
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Tipos assim são bem reconhecíveis em qualquer
rincão deste mundo. São inevitáveis até para a nossa referência de figuras
impolutas de caráter sem jaça. Cumprimentei-o pouquíssimas vezes, mesmo porque
estava em presença de pessoas que sabiam de sua conduta. Gostavam de suas
pilhérias, tinham-nas como engenhosas. Admito dizerem coisas similares que
atravessam as almas humanas - não são capazes nem de voltar-se para poder
analisá-las. Não há qualquer interesse em manter relação com ele. As realidades
são bem diferentes. Se me perguntam o motivo porque não nos relacionamos, digo
nossos silêncios serem diferentes. Não tenho paciência de gastar palavras ao
léu.
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Sentir prazer com as ofensas, por sentimento de
estética, porque ser ofendido não somente causa prazer, mas por vezes é belo,
não encontra qualquer possibilidade de relação com uma pequena utopia que
habita o espírito.
Ignoro o que se passa agora entre as pessoas, mas
na infância tive ocasião de ver e ouvir estes homens, nas escolas, nas
famílias, meios sociais e econômicos.
Na igreja, ganiam e ladravam. Recebendo o santo
sacramento, a “crise hipócrita” cessava e suas almas se sentiam acalmadas. Isto
me espantava e surpreendia. Ouvia certas pessoas dizerem, sobretudo alguns
professores: era aquilo simulação e representação para não se dignarem a ser
sinceros e verdadeiros consigo e com os outros. Podia-se citá-las como
referência de figura impoluta de caráter sem jaça.
Algo de folgazão brilha nos olhos sombrios, de
longas pestanas.
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Levanto uma harmonia de idéias, coroada de
eternidade; um destino cego de águas subterrâneas me escavam a segurança. Aqui,
à face da montanha, vejo sumir, na poeira, o milagre da obra humana, uma luta
de morte precede as mudanças, no silêncio da ordem universal um súbito clamor
de fúria medonha arrasa a perfeição de civilizações inteiras.
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Quero-me só, com silêncio no coração, um silêncio
de ventos largos de montanha.
Pensar é acusar-me ou decidir-me a um rumo.
É sentir-me algemado, acorrentado.
Tapar os ouvidos, ir para o fundo, mas sem idéias,
Como uma pedra?
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Estou sozinho, diante de mim, do mundo, perdido no
súbito silêncio ao redor. No instante-infinito em que o espetáculo se inicia,
um impulso absurdo, vindo não sei de que raízes, de que origens, de que fontes
originárias, deixando-me inerte a contemplar a sombra de um “porta-imagens”, se
assim posso chamar, por me haver esquecido o termo adequado.
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A vida é sempre um primeiro dia, a hora, o minuto
primeiro, não o momento e a hora que se somaram a outras horas e minutos. Na
verdade, quem sabe, a minha morte não será afogar-me em riso, vendo asnos
embriagados e ouvindo morcegos duvidarem das verdades solenes e absolutas.
Os antigos deuses não passaram por arrebatamentos
ébrios de profundezas para caminharem rumo à morte – é um sacrilégio dizê-lo. O
desejo me leva longe demais, muito além, para o alto, por entre risos.
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Tamanha solidão dá a este lugar um rosto
inesquecível. Ao nascer da madrugada frágil, passadas as primeiras imagens da
dor e do júbilo, quem sabe derradeiras, é um novo ser que sinto em mim, um novo
ser que fende a água da noite, tão difícil de suportar. A lembrança destas
imagens não é uma saudade triste, por isto sei que me são boas. Tantos anos
depois, ainda persistem em algum recanto de meu coração, cujas fidelidades
costumam ser difíceis.
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Se eu desejasse retornar, o mesmo céu continuaria
derramando sobre mim sua carga de suspiros e estrelas?
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Eis a sábia e inteligente sagacidade de minha alma:
não oculta o seu inverno e os ventos gelados vindos de entre as montanhas; nem
sequer omite a sua primavera que vislumbra o olhar e os mais recônditos sítios
do espírito. Sábia e inteligente astúcia de meu olhar: revela as paisagens e
cenário dos jardins floridos, da grama no alto da montanha verde e viçosa,
armazena na sensibilidade e memória as cores as mais variadas e deixa os
sentimentos se aflorarem inspirados pelo doce aroma principalmente das rosas e
crisântemos.
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Sem me enveredar pelas alamedas do romantismo, olho
as coisas e sinto-as na intuição e percepção de uma vida que realmente existe,
e seu dom e merecimento são a felicidade, e porque não o devaneio compacto?
Ando feliz, reflexivo, sentindo-me homem nas entranhas, e acredito que a Vida é
o Amor que tanto sonho.
Idílios compactos para os ímpios e,
aliás,
só os ímpios muitas vezes são capazes de sonhar e
realizar sonhos por acreditarem em suas palavras,
tornaram-nas uma apresentação e também uma
representação da longa viagem noite adentro,
a caravana passando por lugares íngremes,
os vagalumes acendem e apagam suas luzinhas
próximo à janela,
e sigo a viagem para o infinito,
para a eternidade,
levando na algibeira as verdades que fui colhendo
através das experiências e dificuldades, sempre,
conscientizei-me de que necessitava acender
Vela à janela, após a realização de devaneios e
atitudes ímpias com uma verdade que colhi,
fruto da contemplação,
esta sede de conhecimento.
#riodejaneiro, 24 de fevereiro de 2020#
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