ANA JÚLIA MACHADO CRÍTICA LITERÁRIA POETISA E ESCRITORA ENSAIA À LUZ DOS FILÓSOFOS HUSSERL E SARTRE O AFORISMO ASES VELAM O PÔQUER**/
No texto tempo de travessias e imaginação fértil…do
escritor Manoel Ferreira Neto, em que o título surge na minha despretensiosa
convicção para baralhar ainda mais o leitor. Mas que não deixa de ser
inoportuno, porque quem joga pôquer oculta o real…não deixa de viver num mundo
imaginário…e que vulgarmente fazem bluff, para enganar o que está no jogo com
ele…ganha quem tiver mais imaginação…cada um procura o seu destino. E, quando
fala no que é isto de existir’? Pois se calhar não deixa de ser uma utopia, visto
que vivemos mesmo uma fantasia transitória…a vida um dia termina, não é eterna.
Assim como quando termina com a frase: Folhas secas caídas, húmus para outras
(estrume que será para outros que virão), serão emprenhadas no tempo - flores,
exalarão odores deleitáveis, aformosearão a natureza, arrebatamentos dos
observares.
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Folhas estopadas no chão hoje. Assim vê a vida…
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Vou fazer uma análise que não sei se correta, pois
tanta coisa se poderia dizer deste aforismo...focar-me como vejo este aforismo,
ou seja, um modo de ler literatura que se centraliza na faculdade de provocação
dos apegos e no relacionamento que se refere ao físico com exceção das
entranhas, do ledor no mundo dos factos, via idealidade. Como extensão anómala
do conhecimento – coacto ou seja, que foi coagido; que não possui o direito de
escolha; desprovido de tomar suas inerentes decisões. Que no jogo diz-se do
poderoso que já não pode-se mexer na enchente temporal, mas aberta as
faculdades intersiderais –, a imaginação é o império que, descarregado pelo
texto literário, introduz o corpo do leitor ao saber vivo da erudição, que, de
outro modo, se circunscreveria à criação de sentido, com toda a eficácia do
texto e do leitor se transformando em ponderação. Está em entrelinhas que aquilo
que da prática viva resiste à exegese, facilita, de feição veloz, um local da
Erudição que trata das leis gerais que reinam o universo. Ao leitor, o que se
entende, como uma “volta para casa”; e consente a vivência carinhosa de
oportunidades divisíveis por meio da comunicação entre imaginário e ilusório.
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Calculo que quer dar a ideia de presença em uma
hipótese da imaginação aplicável à leitura, em que as concepções de escrúpulo,
autoconsciência e atenção, dispensadas às ciências cognitivas e à filosofia do
intelecto, são postas em diálogo com a contenda sobre a conexão entre físico e
subjetividade e com a fenomenologia husserliana e sartriana, para a ponderação
sobre uma circunstância afetiva da consciência. Atribuo, então, um carácter
dúctil à imaginação, que a aproxima da memória, como dimensões em que se
interpenetram a realidade externa e os afetos. Leva-me a argumentar nesse caso
a aptidão de se pensar a experiência literária como um jeito de
representação/afeto.
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Ana Júlia Machado
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ASES VELAM O PÔQUER#
GRAÇA FONTIS - PINTURA: #O JOGO#/
Manoel Ferreira Neto - AFORISMO
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Fácil a descida ao inferno
Inda mais leve é trazer
No bojo, na algibeira
As chamas que urdem
As idéias controversas, re-versas
Dos pensamentos as perquirições in-versas
Quais fios que tecem o vazio
Para as palavras que ardem de perseverança
Insistência por des-construir a fidúcia das
vaidades.
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Lágrimas velam as estrelas sejam cadentes, sejam
cintilantes - "Águia, conduza-me por uni-versos e horizontes...",
"condor guiai-me por in-finitos e in-fin-itivos dos verbos, a estilística
meta é a luz do gerúndio per-fazendo outras dimensões e ângulos da tangência do
espírito e da alma -, sentimentos indizíveis, in-explicáveis, emoções
in-auditas, in-inteligíveis. A outra dimensão da alma, concebida e gerada à
mercê do tempo de ventos, dada a luz por inter-médio dos mistérios e enigmas da
solidão do silêncio no instante de lazer.
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Tempo de travessias.
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O que é isto - ec-sistir? É engalfinhar-se na teia
de aranhas das decisões e consequências que o homem "des-enleia com a
exultação e a erudição do habitar." Nesta inspiração que compõe esta
baila, floresço, apesar da quimera que é o seu eidos, floresço, teço alamedas e
becos para as verdades nostálgicas e dúvidas ancestrais. Avisto no Éden as
exíguas constelações do medo e da fuga... - o que é isto a aura surdir com sua
aparência magnificente nas sombras das idéias e dos sonhos?
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Tempo de metáforas versejando a noite ao longo de
sua passagem ao alvorecer, versos e estrofes inscrevendo nos ideais o som do
"Ser" que se ritma e melodia de querências e volos do eterno,
lágrimas descendo faces, velando estrelas que cintilam os silêncios do
vir-a-ser. Tempo de metafísicas das turvas elucubrações desorientadas havendo
inúmeras passagens em que se re-vela um segredo secreto, vontade cansada e
incerta de pregar um verdadeiro retrocesso, de pregar a con-versão, a negação
das facticidades e ipseidades e dizer com todas as letras na ponta da língua em
riste: "Procurem a salvação noutra parte. É muito fácil a descida ao
inferno."
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Lágrimas de alegria?
Emergir de um desvario,
florar de um devaneio na floração
de um desejo,
não da demanda de um revérbero
em algum reflexo
na imagem dos sibilos do tempo nos ventos.
Lágrimas de felicidade?
Con-templar ao longínquo, ao distante,
a fragrância do in-cógnito,
Lágrimas por o celeste estar
re-vestido de tanta beleza,
beleza pura,
beleza inocente,
beleza ingênua.
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Noite - noite sim!
Instante-limite da alma
que
sente o sentimento do vazio,
nasce um sonho
de
verbo
que regencia a liberdade,
que gerencia a consciência.
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As perguntas, para as quais não há
res-postas,
são apenas chamas de achas
das utopias, vontades
do Ser,
endossam os limites das
possibilidades humanas,
traçam as fronteiras
da ec-sistência.
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Mas não é momento mais lindo, mais mágico?
Princípio do alvorecer, genesis do amanhecer, quando a vida sente no espírito o
boreal de sua glória, voar, voar por todos os horizontes, realizando sua
essência, o "Ser" em todas as suas dimensões contingentes e
trans-cendentais. Na penumbra, na poeira e na fumaça, parecem muito mais
re-vestidas de perspectivas a serem in-vestigadas e avaliadas.
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Lágrimas velam as estrelas. Estrelas são veladas por
lágrimas.
Elucubração...
Fantasia...
Imaginação fértil... Nada de falta de inspiração,
nada de palavras haverem-se re-colhido para renascerem outras. Esvaeceram-se.
Secaram-se.
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O meu sacrifício é re-duzir-me à existência
pessoal. Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado ou o
disfarce foi o destino da dor. E ter apenas a própria existência é, para quem
já presenciou e viveu as lágrimas, velar as estrelas. Mister tenha a modéstia
de existir. Quiçá o que sou faculta a garra de coalhar-me num AÍ, caracteriza
uma INTELECÇÃO.
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Nada há que se possa considerar, re-conhecer nestas
linhas preenchidas, contudo ficará registrado, testemunho de quê? De nada, em
verdade. Não vou jogar fora algo que me custou angústia sem limites para ser
produzido, ao longo dos ventos o vômito, ao longo do tempos, a náusea, não vou
desprezar o quão refleti e pensei sobre estas lágrimas que velam as estrelas.
Há coisas que nascem póstumas, tenham ou não valores que endossem, a
posteridade que cuide de jogá-las fora ou re-colhê-las.
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O ás do pôquer,
Que esplendorosa e esplendente
jogada: quatro ases,
naipes diferentes,
o desejo da jogada consumada,
é a perspectiva
da outra jogada,
é o sortilégio de cortar o baralho,
a etern-idade não é a poesia da luz,
a etern-itude não é a poiética da sombra,
a etern-escência não é a poemática
da contra-luz, da luz,
da contra-sombra, dos raios de sol,
é intenção do jogo a glória
da harmonia
entre a dialéctica das sombras
que ventos perpassaram,
e o diá-logo mon-ológico
dos abismos do ser
desejos da palavra
que superou e suprassumiu o silêncio,
o que ela exorta com a sua magia,
o que ela expele na fumaça do cigarro, efêmero,
o que ela exulta com a estética da expressão do
estilo,
o que ela concede des-abrochar de prazer e náusea,
alfim as sensações de beleza, de belo,
carecem da exultação das sensações do Ser,
carece do exalar o ser das con-tingências.
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Deixando de lado palavras secas, falta de
inspiração, ausências de molhados sonhos de desejos totens e totens de vontades,
as palavras se re-colheram para re-nascerem outras, sendo hoje tão alheio, tão
disperso, tão inexistente no tempo e existente neste ínfimo e esvaecente sentir
seus tempos, nada me diz quaisquer respeito, tão indiferente, se o abismo se
trans-cender, tornando-se paisagem no In-finito, estou-me nas tintas,
pouquíssimo se me dá. Já-já o anoitecer, virá o sono, estarei dormindo.
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Aquela velha e eterna coisa: "Amanhã será
outro dia..." Murmúrio eleva-se, mas desta vez dá margem a sentir que traz
em seu bojo segredos e mistérios.
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Folhas secas caídas, húmus para outras, serão
concebidas no tempo - flores, exalarão perfumes deliciosos, embelezarão a
natureza, êxtases dos olhares.
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Folhas secas no chão hoje.
#riodejaneiro, 08 de fevereiro de 2020#
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