ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO Manoel Ferreira Neto ENSAIA FENOMENOLOGICAMENTE O POEMA "POESIAS ACORRENTADAS", DE Ana Júlia Machado
Para quem sabe ler, pensar, refletir, o verso
"Nem um verso para ligá-las", ou seja, às "poesias
acorrentadas", é uma lição inestimável de como libertar a poesia de suas
correntes, deixá-la fluir, florar os estados de espírito e de alma, revelando
os recônditos de sua espiritualidade. Como isto tornar possível? Uma das
dimensões mais importantes, no pensamento da amiga, escritora, crítica
literária, Ana Júlia Machado, é a dimensão do Verbo que é inerente ao Ser,
habita-lhe, sendo mister aflorá-lo por inter-médio das conjugações da
"inquietação", "dores e sofrimentos", sentimentos de exílio
do que é mesmo Existir - somente dores e sofrimentos, instantes de alegria e
felicidade, a "invalidez" de segurar a "trajetória do tempo",
assim podendo refletir, reflexionar as "aparências" através da
con-templação, observação, re-cursar os caminhos da existência. Através do
Verbo que irá ligar as "poesias acorrentadas", a LIBERDADE, tão bem
representada no eidos do poema: o indivíduo que está contemplando as derrotas,
fracassos, frustrações, as dores da contingência, dos acontecimentos que
destinam a existência a outras vias difíceis que o tempo inflige ao seu corpo
está operando antes uma observação fenomenológica onde corpo-consciência são um
conjunto indissolúvel. E neste poema, à luz do gênio da escritora, seu
pensamento não se esgota em análises psicológicas, mas se estruturam
metafisicamente. Está Ana Júlia Machado mais interessada em meditar o preço que
tem pago na quotidianidade do tempo através das problemáticas existenciais e em
avaliar o que tem recebido em troca.
***
A consciência mesma da Liberdade se dá a cada um de
modos e estilos diferenciados, conforme as circunstâncias e situações. Fora à
mercê dos acontecimentos que Ana Júlia Machado sentira profundo a Liberdade, o
tempo desvestiu em formas exteriores , mas compensou de um modo mais íntimo e
durável, o verbo tornando-se poema, luz, alegria, baixando sobre o peito
despojado. Libertou-se para o que na tradição nos fala como o Ser do ente.
Destruição e construção permanentes: metamorfose do Ser. Encontrou uma forma
mais depurada e metafísica da expressão. Isto, se prestarmos atenção especial
ao fato de que a obra da escritora reflete a Vida e a Arte autoanalisando-se,
auto-refletindo-se na intemporalidade do Ser suspenso e imóvel no espaço,
transmitindo emoções vivas da poetisa. Assim, o Verbo da Poesia, o verbo que a
habita, são as sombras que habitam a alma, a Poesia do Verbo é a Liberdade de
recompor os versos e estrofes das "palavras suspensas" da água-tempo,
a vida refletida na Esperança. A escritora nada mais é que o prolongamento do
Existir, contínua e surda, do Ser contra o Tempo. Existência e Arte se
auto-analisando, sua poética remete a uma perspectiva diferente da compositura
do existir.
***
Amiga inestimável, querida e amada, tirar-lhe o
chapéu é muito pouco para lhe dizer o quanto me orgulho de sua jornada de
Mulher e Escritora, Poetisa. Continue a conjugar os seus Verbos e a montar as
regências do alvorecer da consciência temporal. Beijos nossos a você e à nossa
amada netinha - ela está bem, Aninha Júlia? - Aninha Ricardo.
Manoel Ferreira Neto
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POESIAS ACORRENTADAS
Aprecio minhas poesias acorrentadas.
Nem um verbo para liga-las.
Palavras suspensas. Análogas.
Afã da vida. Particularmente, da claridade.
E de tantas as juras. O término pereceu.
Os instantes acarretados a domínio.
Na vereda coarctada, um infrutífero.
A inquietação. A trajectória do tempo, inválido.
Liberdade. Diferentes juras acorrerão. Reformadas.
Seja qual for o poema é comparável.
Adquire outra aparência a cada observar.
Ana Júlia Machado.
#riodejaneiro, 28 de fevereiro de 2020#
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