#MORADIA DA VERDADE# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: FILOSOFIA
Perscrutando
os interstícios da verdade... O olhar sobre a coisa transforma a sua aparição
em simples aparência. A noção metafísica de verdade limita-se a estabelecer
relações de identidade ou de conformidade entre os fenômenos observados.
Realizando-o, negligencia o fenômeno orignal da aparição. Como é possível
re-presentar os objetos, não havendo um lugar de onde possam ser iluminados?
Ora, a verdade real-iza-se bem mais no plano desta visão primordial do que no
das visões particulares. Ver um objeto não é, primeiramente, descobri-lo,
abri-lo a algo diferente dele? É no interior desta abertura ontológica, desta
deicência histórica que toda a visão é possível. A abertura é o meio de onde
surge a coisa.
Não
é o nosso olhar que mede a coisa, mas o horizonte da coisa que mede o nosso
olhar. A realidade aparece, com efeito, carregada de significações de que
espírito não percebe senão o esqueleto. O pano de fundo no qual este se desvela
é, primeiramente, o ser-no-mundo, mas também o mundo do Ser. A verdade não
consiste, pois, em referir o espírito ao real, mas em referir estes ao
horizonte ontológico que os ilumina. Ela não reside na medida que regulamente a
conformidade do olhar, mas na abertura que condiciona toda a tomada de medida.
Encontramo-nos
na clareira da Verdade. Pelo fato de ek-sistirmos, fazemos aparecer o mundo na
luz do Ser. A verdade é o ato dinâmico que faz surgir as coisas à luz, o
despertar do nosso pensamento para a pré-compreensão que nos põe no Ser.
Ninguém
possui a Verdade. Nós estamos na Verdade e caminhamos na sua claridade. O que a
metafísica compreendeu sob esta palavra não é senão uma forma determinada de
nos re-pres-ent-ar esta marcha, de tomar a medida do caminho. Não existe uma
Verdade imutável, suspensa no firmamento dos ideais, há somente uma Verdade
temporal que nos constitui e que descobrimos na história. Esta irrompe em nós
sob a forma de um ato interior, de um apelo, de uma questão.
Perscrutando
os interstícios do silêncio, con-templando as miríades de a-nunciações, luzes,
que alumiam a verdade em sua pr-sença, a poiésis do dis-curso do verbo,
dis-curso que esplende as dimensões trans-cendentais do espírito, des-velando
verbos, velando a poiética do in-finito, este velar é convite às investigações
abismáticas e abissais do espírito da ek-sistência que habita a Verdade,
espírito à luz do tempo, na continuidade da ontologia do vivencial e
vivenciário, vivências e questionamentos, alfim a verdade que habita no
silêncio não é absoluta, fosse-o, negaria a poiética do In-finito que é
abertura plena, outro do vir-a-ser, a plen-itude que se in-ova, re-nova, sempre
à luz de miríades a incidirem nas venezianas do tempo, miríades que
perpassam as frinchas, sempre em direção
ao outro, outro que na poiésis poiética da poesia significa o outro das semânticas e linguísticas do
silêncio entre as palavras.
Rubem
Alves aconselha a prestar atenção ao que o
silêncio diz, porque ele, o silêncio, é a dimensão que re-vela, a-nuncia
a cintilância e brilho das perspectivas da Verdade, ontologia do tempo. O
silêncio é o princípio que ilumina o destino da Verdade no tempo, mas não há a
idéia de uma transparência absoluta da Verdade no tempo.
#RIODEJANEIRO#,
07 DE NOVEMBRO DE 2018)
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