**ESTOU DE PARTIDA** GRAÇA FONTIS: FOTO Manoel Ferreira Neto: PROSA
Acreditei
haveria de artificiar as esperanças frente a mim próprio, à imagem refletida no
espelho, o solo por onde trilhar os passos solitários, silenciosos, preencher
os vazios com as ipseidades da quimera. Valeu a pena. Perambulei por todos os
cantos, re-cantos, desertos, ilhas e bosques, visualizei o mundo e a terra.
Nada deixei
no parapeito da janela, madrugadas a fora olhando as trevas, assimilando-as,
transliteralizando-as; nada deixei nas poucas conversas com outrens, nem mesmo
palavras e porventura algum verso profundo ou sem quaisquer profundidades; nada
deixei de sentimentos que se esplenderiam nos ares dos bosques em plenos
primeiros raios da manhã. Se algo deixo? Deixo as esperanças que mais elaborei,
laborei, delineei em mim, a memória dos passos trilhados.
Novo Ano se
aproxima. Quero ver a mim palmilhando a orla do mar, deambulando pelo quintal
de minha ilha, apenas eu e o amor que trago em mim, de mãos entrelaçadas. As
veredas e sendas por onde artificiei a esperança, de que tanto carecia, são
sombras, agora é a Luz iluminando outros horizontes. De alguns seres que
preencheram as lacunas lembrar-me-ei, recordarei dos momentos, instantes,
estarão presentes na memória. Se lembrarão de mim, nada posso dizer. Talvez se
lembrem de algumas palavras, de certos gestos, atitudes, ações.
Estou de
partida. A estas plagas não retornarei. São tempos outros. Na passagem do ano,
descerão as cortinas. As últimas cenas até lá re-presentarão o protagonista que
nunca esteve em lugar algum.
Fique
registrado, escrito nas estrelas, pers-critos no brilho da lua, a esperança
trago em mim dentro, forte e presente, fora presente carinhoso, mimo terno, das
letras, da existência, com elas ao longo do tempo e dos ventos de leste fui
tecendo os futurais sonhos, realizando-os.
Se me
disserem com todos os sons, semânticas e linguísticas da palavra e dos
sentimentos, da verdade que a Fé é mais importante que a Esperança, inda fico
com a Esperança, pois que ela é o eidos, a eidética da con-tingência, do
ser-no-mundo, do estar-no-mundo.
Penso e
sinto mesmo que o artista deva, é a sua obrigação, responsabilidade,
compromisso esplender a Esperança por todo o uni-verso, por todo mundo, no
coração de todos homens, da humanidade. Literatura é Esperança do Verbo do
In-finito. Sou letras de Esperanças, de Sonhos, de Solidão. Sem a Esperança não
seria artista, não seria escritor, não seria homem, apenas ser humano que
per-vaga pelos becos e ruas do mundo.
E agora,
maduro e amadurecido, sinto que a Esperança está escrevendo, epigrafando em mim
o Amor, de que carecia para preencher o peito de Quimeras. Seguimos nossas
alamedas juntos
#RIODEJANEIRO#,
18 DE NOVEMBRO DE 2018#
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