Ocaso,
con-templado, enxergado sob outros prismas e perspectivas, aquele olhar denso,
em cujos fictícios cais da memória reside o lince que, se visto re-colhe e
a-colhe neve prata sobre as ondas, revelará sobre a língua do tempo o que vibra
em segredo, isto o que se me a-nunciou num átimo de instante, com evidência
deixando-me surpreso e admirado, tanto que me perpassara um calafrio na espinha
dorsal tendo lhe sentido profundo, e esvaeceu-se.
Não tenho
certeza, se alguma vez já experimentei um sentimento tão presente e forte, mas
o que vibrava em segredo - sei o que desejo dizer, mister encontrar as palavras
certas - podia ser investigado em todos os níveis, sobretudo o inconsciente,
solstício de inverno a vista da vidraça da janela, cheiro, paz, espalhando
sentidos ininteligíveis, podendo isto explicar no instante do mover de
párpados, não havendo quem não confesse serem as palavras certas, nos seus
ínfimos átimos de instante, não tenho polícia na minha captura, a minha ilha
não tem porto, o padrão de mitos por que vivera muito tempo... desmoronaram de
repente.
Posso dar
voltas no jardim pelos seus caminhos sinuosos por alguns minutos, desejando
traçar as idéias e pensamentos, sentimentos, emoções, o ziguezague, o mar
trans-lúcido a tocar-me, siguesagueando os ventos e as ondas, perdendo-me,
distanciando-me, dispersando-me, estando inda lúcido, estando inda racional,
confissão completa, desabafo rasgado de verbos, diria muito pouco daquele
instante de calafrio na espinha dorsal, pensando que poderia enviar para Freud
e a alguns de seus colegas dogmáticos sobre isto de não me ser dado dizer o
sentimento que me perpassara o íntimo, mas algo dizia-me "... a noite
esconde ilhas a quem não sabe pescar...", a resposta a este dizer
levarem-me longos anos e inda pouco seria para sentir e contemplar o que é
pescar numa ilha em que a noite não esconde, remessando-me para o vazio,
solidão, murmúrios nesta tépida noite, e a mesma voz dissera-me em Latim
"Nemo me lacessit impune", imaginando eu que assim seja escrito, mas
habitando os mistérios do calafrio na espinha dorsal, tendo compreendido seria
um prisma de re-velação deste sentimento neste/nesse ocaso que o senti,
aportando-me, dando-me ao cântico das águas. Embora não soubesse o que a máxima
latina significa, para mim significava, se assim posso asseverar com lucidez,
um suporte psíquico para o entendimento de "... a noite esconde ilhas a
quem não sabe pescar...", assim descobriria o acaso de passar alguns dias
numa ilha, hospedado em casa de uns amigos, indo ao topo de um morro para
assistir ao ocaso, tendo a vista do mar à frente, de longe, ilha pequena,
esquecida, onde ninguém sabe de ninguém, tocada pelos ventos do norte. Em
quaisquer outros pores-do-sol não me seria re-velado este sentimento.
Inconscientemente estou espalhando pistas de minha identidade, como diz Hamlet,
os sonhos podem se converter em qualquer coisa, o investigar com percuciência,
platinando exibições no crepúsculo, revelar-me-á a dádiva, a graça de estar
realizando esperanças antigas, o pôr-do-sol à luz de sentimentos reais e
verdadeiros, lânguidos e precisos passos ao se diluírem na areia inocente, nós
dos nossos sais, em quaisquer sóis das quatro estações, em êxtase. A língua do
tempo interpreta no chão desta caminhada há cores, brilhos estelares, tudo
vibra em segredo.
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