#ISHDRIM# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA POÉTICA
ISHDRIM:
Acarreto em
mim a energia descomunal de questionar, mais robustez que a robustez de uma
questão. Porque a questão é uma interpelação inferior ou casual e a refutação,
a expectativa para que a existência prossiga a sua expedição sem limites em
procura do “Ser”, à cata de suas águas transparentes e vítreas. Sinto a
cadência dos passos, adivinho os movimentos, porventura lúbricos...
CORO:
Tu – quem
és? Quem és – tu? És tu – quem? Quem tu – és? Quem és – quem? O que é isso –
ser tu? O que é tu – ser isso? Tu – quem isso ser? Isso – quem é o ser?
És a
esperança de fé que perpassa os tempos de amanhã, do infinito, dos horizontes,
do uni-verso, de confins, de arribas, ornamentos de arrebiques; és a fé que
suprassume as controvérsias dos desejos e vontades do eterno e imortal; és a
utopia da consciência-estética-ética, da cristianidade, da transcendência, da
divinidade, trans-elevância do absoluto; és o desejo do belo e da beleza, de
sonhos de encontro do ser, de ser o verbo do sublime e eterno de ser a carne do
perpétuo, da cáritas; és a consciência-ética-estética que re-cria e cria outros
uni-versos de sonhos e quimeras, de fantasias e vontades da beleza
resplandecente do amor e da felicidade.
ISHDRIM:
Passo a vida
a questionar-me acerca do meu eu, e que cogito que até ao fim dos meus dias
jamais vou saber o que realmente pretendo. Pois não se afigura um tema simples.
E, olhando ao nosso redor cada dia ficamos com mais dúvidas, incertezas, aquele
sentimento de haver-me tornado um poço de equívocos e enganos. Sou eu ou o
outro que está certo, mesmo sendo um ser execrável, mas que é mais apreciado do
que o ser que pensa ser genuíno? Logra afigurar-se uma questão inadequada e sem
significação. Curiosamente, a réplica não se sacia com um acessível: “Chamo-me
…, e para os amigos … e profissão…”, e adicionar o habitual “às suas
disposições e às de Divo”. Quê encenação teatral de diplomacia e etiqueta,
ainda na expectativa do coro a declamar a luxúria dos deuses. A questão é muito
mais penetrante e igualmente não chega a largada célere e “filosófica”: “Eu sou
eu (e as minhas razões) ”. “E tu, quem és?” é uma questão de muita relevância e
sublimidade. Creio ser concentrada análise sobre mim próprio, sobre as
convenientes capacidades e carências. Para qualquer circunstância que se deseje
conduzir a efeito deveras na existência (isto é, para as coisas que representam
e que nos cativam) é necessário interrogar-se a si exclusivo acerca dos
expedientes de que se conciliam para alcançar o fim.
Em primeiro
lugar, coerentemente, é necessário erudição em que posição nos achamos.
Entendermo-nos do “A” ao “Z”: os feedbacks, os prazeres, as propensões, as
tendências, o jeito de cogitar. “Entende-te a ti próprio” era para os helenos
da Antiguidade a máxima erudição, o rebo enviesado para a edificação do homem
incorruptível.
CORO:
És tu –
quem? Tu - quem és? Quem és – tu? És – tu quem?
És o verbo
que perpassa o sonho de esperança do amor que fecunda o desejo de conhecer,
concebe a sede de compreender o inaudito do espírito de luz; és a poiésis nos
interstícios das querências de alegrias que preencham o vazio do ser; és a
vontade que habita o sonho de fecundar o verbo do amor, o verbo do ser e das
quimeras, conjugando temas e temáticas nas raízes do tempo, nas sementes dos
re-versos, in-versos, avessos das querências, contramãos das tristezas; és o
amor da esperança de conhecer o que é o divino em ti, em nós, nos homens.
ISHDRIM:
Deveras,
quem quer que faça-se o feitor desta máxima, redigida no templo de Delfos,
alcançou em repleto. No princípio do feito mais afamado de Sófocles, Édipo
é-nos ostentado como rei e, ao mesmo tempo, pai apoquentado pela epidemia que
fustiga o seu povo. Partilha o seu pesar, mas não se ajusta com expelir um
berreiro infrutífero. Busca os meios para achar o recurso para as imperfeições
de Tebas. Édipo é um homem coeso que alcança concretizações incontestáveis e
não se lega capturar na mata dos “desejaria”, “apreciaria de”, “inquieta-me”. O
seu cunhado Creonte retorna do oráculo de Delfos com a resolução, deportar o
homicida de Layo (antigo rei de Tebas e esposo de Yocasta). Mas quem era tal
indivíduo? Após de questionar o agoureiro Tirésias e um emissário de Corinto,
Édipo encontra com a maior das constrições que ele é o homicida de Layo, seu
pai, e que reside em porte incestuoso com a sua mãe. Quis conhecer a sua
essência a todo o preço e remunerou custoso, mas chegou a saber-se tal como
era. Não é de admirar-se que o final de Édipo fosse funesto. Exasperado, após
de recuperar a sua cônjuge e mãe estrangulada, orfana-se deliberadamente dos
olhos, enterrando neles dois broches da sua indumentária. E idêntico desataque
conduz-nos a interrogar o que é que teria sido melhor para Édipo: se insciência
alegre, ou erudição desventurada.
O não -ser
tudo imaterializa
O não -ser
tudo deífico
O não- ser
tudo baseia na essência
O não- ser
tudo formata para ser usado
Tudo
desmaterializa o não -ser
Tudo endeusa
o não- ser
Tudo baseia
na essência o não-ser
Tudo formata
para ser usado o não- ser
O não- ser
tudo desabrocha.
O não- ser
tudo aromatiza.
O não- ser
tudo emprenha
O não- ser
tudo despetala.
Tudo fica
desnudo o não-ser
Tudo
emprenha o não- ser
Tudo eflúvio
o não- ser
Tudo
desabrocha o não- ser
O não- ser
tudo enuncia.
O não- ser
tudo captura conhecimento
O não- ser
tudo psicológico
O não- ser
tudo enternece.
Tudo
enternece o não- ser.
Tudo
psicológico o não- ser.
Tudo captura
conhecimento o não-ser
Tudo enuncia
o não-ser.
Nos nossos
dias são minúcias os indivíduos que aventuram o conforto da existência que
transportam para acharem a realidade acerca de si exclusivos. A narrativa de
Édipo é uma ocorrência limite. É uma comédia, logo uma fábula. Mas o exemplo é
claro: é relevante entender-se a si próprio. É mais arriscada uma existência de
quimeras que, não é mais que um lapso que logra transportar-nos a uma
existência que não ocorre de uma vida que é uma aldrabice. Ele, ao entender-se,
ingressou em exasperação. Mas ambulando a mesma senda até à realidade, porque
não terminar com um sublime final? Conseguimos concretizar enormes factos no
decorrer da nossa vida, porque perceberemos quem somos, como operamos, quanto
conseguimos conceder. Saber-nos a reentrante, é o começo para toda a existência
que queira existir em plenidão.
CORO:
Quem – somos
nós? Nós – quem somos? Somos quem – nós? Nós – quem somos?
A ausência
de nós, a querência do múltiplo, o instinto do obtuso, a busca do pleno, a
vontade do absoluto, a perda, o des-encontro, o vazio, o vácuo, o nada, as
sorrelfas, os idílios, as nonadas, travessias, os olhos voltados para o
infinito, a alma no compasso do quotidiano e do real em busca da presença das
alegrias, prazeres, do eterno e imortal, mesmo no vai-e-vem do efêmero e
etéreo, mesmo na rede do sim e do não, mesmo na dança escalafobética da
contradição e das ambigüidades da consciência do presente entrelaçada à
consciência histórica.
Somos nós –
quem? Somos quem – nós? Nós quem – somos?
Somos os
braços para a-colher, envolver, afagar e dar o colinho do peito ao outro, aos humildes,
aos pobres, aos simples; somos o coração para amar, somos o espírito para
sensibilizar, somos a alma para desejar, somos a vontade da paz, da felicidade,
de nos encontrarmos, de nos encontrarmos em Deus, nas emoções verdadeiras, nos
sentimentos de compaixão, solidariedade, somos a verdade à busca do Espírito
Santo de nossos pecados e culpas.
Que cantamos
– nós? Nós – o que cantamos? Cantamos o quê – nós?
A graça de
sermos vocacionados à felicidade, à paz, ao conhecimento de sermos quem somos;
o espírito no ritmo das buscas do bem e da compaixão, nos acordes do tempo e
vivências, da solidariedade e da amizade, a alma na musicalidade dos desejos de
ser, da verdade.
De quem
cantamos – a graça? A graça de quem - cantamos? Cantamos a graça – de quem?
ISHDRIM:
O não-ser
tudo abriga
O não-ser
tudo alberga
O não-ser
tudo reduz
O não-ser
tudo dissimula
Tudo
dissimula o não-ser
Tudo reduz o
não-ser
Tudo abriga
o não-ser
Tudo abriga
o não-ser
O não-ser
tudo espelha
O não-ser
tudo substitui
O não-ser
tudo revive
O não-ser
tudo renova
O não-ser
tudo conserta
Tudo
conserta o não-ser
Tudo renova
o não-ser
Tudo revive
o não-ser
Tudo revive
o não-ser
Tudo espelha
o não-ser.
O não-ser
totalidade
O não-ser
enigma de totalidade
O não-ser
incógnito de totalidade
O não-ser
inacreditável de totalidade
De
totalidade o não-ser inacreditável
De
totalidade o não-ser xis
De
totalidade o não-ser enigma
Totalidade o
não-ser.
#RIODEJANEIRO#,
01 DE NOVEMBRO DE 2018)
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