**RAIOS DE LUZ E CORES** - Manoel Ferreira
O que tu, oh nostalgia?
Por que o silêncio des-folha sentimentos de mim, despetala idílios de
pre
téritos, miríades de esperanças, espectros de volos eivados de cores
fluem de antanho a presença de instantes, o estar-sendo de a-nunciações do que
há-de vir de sendas, dos caminhos desertos desertas de veredas de estradas sem
metafísica do horizonte, de silvestre das florestas, a estenderem o lírio de
jardins distantes, paisagem do vale que se esplende in-finitamente?
Lâminas de águas sobre as ondas serenas do mar... paisagens pintando o
espírito da criação, a divin-itude da natureza.
O que tu, oh nostalgia?
Por que a solidão re-colhe de versos do efêmero as estrofes do eterno
que se esvai nas bordas do tempo,
nos limites celestes do per
pétuo, das emoções que deambulam pelos corredores vazios, os terrenos
baldios que se alongam pelas estradas do nonsense, a musicalidade das
esperanças perambulam pelos becos boêmios sibilando de sendo em sendo o verbo
do amor des-correspondido, des-compassado, a melodia da fé que trans-cende a
alma de
des-afetos,
vagando de perdidas ilusões do amanhã, eterno, encontrando nas arribas
de uni-versos o Uno do nada, o Verso do vazio, a musicalidade da nonada?
O que tu, oh nostalgia?
Por que o nada a-colhe de poesia do "Verbo Espírito" a chave
de ouro do soneto que recita a imagem líquida do in-finito em fin-itudes de
amor, do in-fin-itivo em in-finit-ividades de doação plena, de-compondo de
palavras os sentidos, metáforas do além vestidas das arribas a plen-itude da
beleza, desfacelando de prefixos, sufixos, raizes das categorias as
significâncias, criando outros vocábulos de ritmos e melodias?
Mistério da noite in-finita, da madrugada que anda em passos lentos em
direção aos primeiros indícios da manhã, o dia clareando, do dia que tecerá os
novos horizontes, uni-versos, tristezas, angústias, decepções. Roda-viva. A
companheira na sala de jantar, criando a sua mais nova Peça de Pintura, altas
horas da manhã, aqui brincando com as letras, inventando-as.
"Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu"
Só – sem esta solidão sem limites, sem este silêncio sem deserto e
arrebiques, sem esta mudez sem confins, sem esta nonada sem travessias e
partidas pontes, sem arco-íris na escuridão, sem sombras nas trevas. Só - livre
e solto.
Ante a luz que ilumina o quarto, olhares enviesados à grade, sensações
re-versadas ao horizonte além, ante a escuridão da janela aberta, a fumaça do
cigarro entre-dedos, tragando o não-ser, expelindo o que há-de vir, vazio de
perpetu-itudes...
E digo a mim que o silêncio é companheiro, solidário, compassivo, está
em mim, sou eu nas suas re-presentações, a-nunciações, sou suas palavras,
expressões, e sua vontade é de me perder nele, deixar-me ser levado pelas asas
da águia que atravessa, travessia!, de re-velar-me na alma as transparências de
brilhos divinos.
Vozes sussurram-me palavras quase ininteligíveis, quase destituídas de
símbolos e sílabas, sibilâncias, ressonâncias, quase desnudas de signos e
inter-ditos, quase despidas de significantes, os sentimentos perpassam-me,
nascem e re-nascem espontaneamente, as emoções divagam além das fronteiras de
de-fectivos verbos, aquém dos abismos das metáforas do espírito...
Meu Deus, onde estarei sem a solidão que me acompanha? Em que montanhas
trilharei meus passos sem o silêncio que em mim habita? Em que colinas
sentar-me-ei e ficarei a con-templar as ipseidades que moram as forclusions e
manque-d´etres dos ventos e tempo?
Eternidade de idéias cobre-me em seu manto de sonhos, utopias, cada
vazio em mim de desejos preencho horizontes e uni-versos, de êxtases a-colho
infin-itudes do finito, efemer-itudes do nada em pleno conúbio com as volúpias
da náusea, "Conúbio de Serafins e Querubins", de clímaces re-colho
fin-itudes do infinito, de volúpias con-templo a clar-itude sideral do
universo, de estesias lanço à peren-itude a poética do espaço.
Sibilâncias sibilantes
Aquém dos abismos das metáforas do espírito
Alhures nas cavernas de sin-estesias da alma
Nas grutas de estalactites a pingarem as gotas da continuidade
De ex-tases... extasio plen-itudes do absoluto
A-colho infin-itudes do finito engabeladas do nada
Em pleno conúbio com as volúpias da náusea,
Vômitos dos gozos e clímax das regências do perene
Além das front-eiras de de-fectivos verbos,
Fectivas regências de clímaces do efêmero, etéreo
De volúpias, con-templo a clar-itude sideral do universo,
De estesias desnudas de signos e inter-ditos
Lanço à poética o espaço da peren-itude...
Sou quem sou vivendo-me, vivenciando-me por inteiro. Nesta madrugada
silenciosa, não se ouve o ladrar dos cães, dormem, descansam das vadiagens do
dia à cata de ossos e lixos que reviram à busca do que lhes matar a fome...
“Vigilio” os longos dias, longas noites dentro, desejos, vontades,
sonhos, utopias, dores, sofrimentos, culpas, fracassos, frustrações, decepções,
ressentimentos, mágoas,e sempre a esperança de nova aurora, utopias de trevas
no arco-íris, quando o amanhecer ilumina o coração de amor, e sempre a chama
ardente da alma em busca do crepúsculo, quando a melancolia, nostalgia se
envolvem no espírito de outros sonhos e utopias. Outrora não compreendia,
entendia as razões de "apesar dos pesares", como dizem, dizia das
esperanças, sonhava esperanças, tinha aquele desejo de ser "sendeiro da
esperança", era contraditório, tinha de dizer do que a vida
proporcionava-me, era o destino haveria de cumprir, ao longo da viagem, digo de
tudo e as esperanças presentes sempre, aderi-as, conciliei-as, comunguei-as a
todas.
Hoje, uma esperança estava andando na porta de minha residência, estando
a garatujar, delinear, burilar as idéias e pensamentos. Muitíssimo
interessante. A companheira e esposa estava presente, con-templamos juntos a
esperança andando na porta da "sala de jantar", abraçados. Por um
instante um idílio: quiçá fosse pintor, a próxima peça seria uma esperança na
porta e um casal a con-templá-la.
O silêncio no seu canto en-colhido espera ser re-colhido e a-colhido, e
de manhã distancia-se, esvoaça-se. Por que caminhos anda, por que trilhas dá
seus passos, e passo a passo cada passo é um passo? E na madrugada triste, angustiada,
dor desatinada na perna, deitado de bruços, sem poder mexer-me, sem poder
caminhar, aparece no seu canto envolto em outros desejos e vontades que trouxe
de suas andanças, espera a minha palavra, e eu o deixo sozinho, sonhando outros
amanhãs, dis-sonhando outros outroras, outrens de outroras, e gêneses,
pers-sonhando outros apocalipses e genesis, pectivando de gênese apocalíptica
escritura viciosa de pleonasmos.
Sem este desejo inerente ao espírito de refletir-me nestas páginas
brancas de papel, de nestas letras reunir os pedaços de mim, de nestes
sentimentos comungar os instantes de mim, de nestas emoções enlaçar os abraços
dados e recebidos, de nestas utopias ser artífice de um tempo, oh, tempo,
águias atravessam os horizontes, e no uni-verso de suas asas são sonhos,
desejos, liberdade, são esperanças de fé, de amor, entre os homens, a
humanidade - que são os únicos que me ouvem no silêncio de meus sorrisos e
lágrimas. Os companheiros de minhas solidões, desertas ausências.
Espalhados por todos os tempos de outrora, de ontens olvidados, de
anteontens inestimáveis; sem esta angústia encalacrada no peito, sem esta
tristeza que desconheço as razões, sem esta depressão que, embora os motivos me
sejam transparentes, deixam-me no sangue a essência da incólume insônia; sem
esse medo, meu Deus,
sem esse medo de sucumbir diante da visão das verdades em mim trago
dentro.
Ante a visão do desejo de amor, de ser amado, amar;
sem esta visão de os desejos de amor preenchem o vazio,
visão do verso-uno, o instante presente.
Estes homens que não apenas sussurram, cochicham, murmuram palavras
esplendorosas de amor, ternura, carinho, dedicação; não apenas escrevem lindos,
maravilhosos poemas d´amor dirigidos à amada, confessando-lhe a paixão
devassadora, avassaladora, na realidade são apenas palavras, são desejos de
encantar olhos que buscam no deserto um pingo das águas da esperança, uma folha
verde respingada de orvalho da fé. São vivências, experiências à cata de
poesia, de luz nos seus versos e estrofes, em sua musicalidade, em seu acorde
de paraísos e eldorados, tornando-nos viajantes que a cada passo em outros
campos, trilhas, cidades, esperamos o entardecer, a noite, madrugada, que
conversam com o silêncio e roga-lhe o prazer, felicidade de sua palavra. amo estes
homens
- meu Deus, como os amo – que dizem a verdade de seus sentimentos, não
importando se em dialeto caipira, em latim vulgar, se em sotaque sertanejo,
linguagem chinfrim, português erudito; refletem nas palavras ditas, escritas, o
amor que sentem, vivenciam, vivem, chegando, quase, às melosidades do
sentido... como eu os amo!
Suas atitudes, seus gestos, seus silêncios! Como eu os amo, carnal,
amorosa e sensivelmente, até que descubro, nas entrelinhas deste amor, o desejo
de amar e ser amado perseguiu-me pela vida, e, amando os homens que amam,
justifico o amor que não vivo, fujo desta realidade que me oprime, estilhaça-me
por inteiro, da solidão. Nalgum amanhã, os meus restos mortais num esquife,
carregado por quatro pessoas, amigos e íntimos, seguido por alguns conhecidos.
No açougue, onde ontem fui comprar costelinha de porco, em verdade
bisteca, estive observando as mãos de um jovem que destrinçava um quarto
traseiro sangrento, o animal abatido havia pouco, enquanto a cada gesto com a
faca uma nota musical era realizada. Re-pres-ent-ação. Atrás da memória, o que
ela re-colheu de situações, circunstâncias.
Era canção nostálgica, melancólica, triste, desconsolada, sua
“esperança” de liberdade, felicidade, alegria, e amor eterno, refletia em cada
palavra, verso, estrofe. e eu amei este jovem, seu canto só se faz - assim
acredito – quando com a faca na mão tira a carne dos ossos.
Às vezes, quando a madrugada me envolve por inteiro, sentindo os
segundos e minutos passarem no silêncio do relógio, o peito aberto e envolto em
ânsias e desejos, as lágrimas não derramadas, os desejos não realizados, os
compromissos não cumpridos, as dívidas não pagas, palavras, atitudes de não,
dores, sofrimentos. da aurora, do novo dia que trará novas esperanças, sinto a
alma mergulhar nos vazios, abismos, alçar vôos homéricos e prometeicos pelas
montanhas, florestas e mares, buscando luzes, esperanças, fé, escondidas nas
dobras dos medos, frustrações, fracassos.
Hora de um lanche. A companheira e esposa dizendo-me: "Posso ficar
até às cinco da manhã, mas termino esta peça..." Depois de tantos anos
afastada da pintura, "começando tudo de novo...", alegrias, outros
universos, e lhe digo carinhosamente: "Assim é a parceria...",
abraçando-a.
Não conseguira terminar a pintura, deixa-a sobre a mesa. Pela manhã,
reiniciou cedo o seu trabalho. Por trás, fiquei a observá-la, pintando, até que
me aproximei. Continuei a observá-la. Começou a contar-me uma história,
pintando. Para quem não aceitava ninguém ao seu lado no instante da criação,
estar agora contando história enquanto pinta!
Garatujo as minhas "coisinhas" numa mesa de bar, ouvindo
músicas, toda a algazarra que lhes é familiar e peculiar, mas não o faria com
alguém conversando comigo. Ouço músicas enquanto crio e re-crio.
Digo comigo mesmo que a madrugada é gentil, generosa, compassiva e
humana, está ligada à minha solidão, e seu desejo, inerente às Imagens do
horizonte, emolduradas de espectros,
Re-fletidas no espelho controverso de re-versas
In-versidades do tempo,
Ad-versidades do ser,
Trans-versidades do infinito,
Alhures burgalhaus de dimensões des-infinitas
Algures bugalhos contingentes de desejos inolvidáveis
Cintilando fosforescências plenas através do universo
O imperfeito não participa das perspectivas pretéritas
O perfeito não habita das etern-itudes do além
O mais-que-perfeito não é inerente às eter-itudes de confins
As nuanças retros-pectivas do absoluto re-vestido do efêmero
Investido de essências ausentes
Das genesis apocalípticas do divino nada do há-de vir
Amanhã será outro pretérito de contemplações
Amanhã será des-verbo primevo do porvir
Amanhã será des-verdade rítmica da palavra bíblica.
Sou o princípio da luz que, des-velada, des-envelada
Da resplandecência do vir-a-ser
Re-trospectiva a pretérita travessia do além
Á contingência do aquém, des-vestido de dimensões,
Vazio do vazio des-vaziado de essências.
Sou o princípio da sombra que,
Re-velada, des-re-velada,
Da incandescência do Hades,
Deflora o hímen do eterno.
Não é o feio que tem buraco no meio
É o buraco que tem no meio o feio
Barroco dos princípios do absoluto ao nada
Do efêmero ao ser do eterno des-figurado
Barroco dos dogmas da verdade ao vácuo
Do êxtase fugaz ao verbo do imortal trans-figurado.
Hoje é outra utopia
Hoje é outra ilusão,
Hoje é outra fantasia,
Hoje é outro sonho
Do genético verbo das adjacência do porvir
Retrospectiva projetada às pectivas do nada-nada.vida, é de libertar-nos
da realidade de algemas e correntes, de revelar-nos no espírito as divin-idades
que nos habitam, e são a ressurreição, redenção dos pecados capitais, para os
quais não há qualquer modo de negligenciar, livre-arbítrio dos dogmas e
preceitos para os quais não há estilo de des-cender, glorificá-los será sempre
os caminhos para o além. Lei do menor esforço.
Manoel Ferreira Neto
(Rio de Janeiro, 08-09 de setembro de 2016)
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