**INSCREVA-SE NA LÁPIDE** - Manoel Ferreira
Saber não é ter consciência. A consciência é plenamente ação, sentido. A
consciência é responsável por decisões categóricas, radicais, abissais. Momento
de outros horizontes, universos, momento de buscas, realizações, interesses,
projetos.
Por longos, longos anos, trouxe comigo sabedorias comigo, mas recusava a
consciência, por ter de agir, tomar decisões peremptórias. E o pior de tudo:
íntimos advertindo-me, aconselhando-me a agir, tomar decisões, virar as costas.
Agradecia-lhes o carinho, a amizade, o amor. Por vezes, a confissão da verdade
singular, peculiar, pessoal é muito difícil, complicada. Mas a consciência,
quando arma seu barraco, instala-o, nada é difícil, complicado: confessar é o
mesmo que tomar um cálice de vinho bem saboroso. Meu coração sempre foi mole,
bem frágil. No crepúsculo da vida, há-de se endurecer, sem perder a
sensibilidade, como diz Che Guevara. Estou endurecendo o coração, sem perder a
sensibilidade. Àquelas sabedorias, estou virando as costas. O que interessa
primordialmente são a vida, a felicidade, a alegria, os prazeres. Seria que no
crepúsculo da vida, não teria forças suficientes para as decisões radicais,
deixar o coração mole eternizar-se?
Quem não conhece aqueles dizeres: "Mamãe dizia que...". E a
reflexão posterior: "Ah, se eu houvesse ouvido a mamãe..." Não tive
mãe para mo dizer: fora ela apenas biológica. Tive mães, quatro, que me
criaram, e me disseram todas com as letras em riste: "Viva a sua vida.
Esqueça-se de sua família." Não as ouvi. Ainda acreditei que seria possível
alguma contacto, relação. No crepúsculo da vida, entendi perfeitamente o que
disseram. Estou virando as costas à família. Sou filho de mim próprio. Hoje,
minha família é a minha esposa, a minha mulher, a minha companheira Graça
Fontis. Agora, sou eu e ela.
Como escritor que sou, a História investigará até ao "talo" as
origens. A família, conforme ela, será sempre lembrada. A História pode
fazê-lo: é de seu direito insofismável. Particularmente, não assino embaixo.
Manoel Ferreira Neto.
(22 de setembro de 2016)
MEU GRANDE AMIGO. UM INTELECTUAL DE MÃO CHEIA. UM POETA E FILÓSOFO DE PENSAMENTO REFINADO.
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