**NO MISTÉRIO DO VERDOR** - Manoel Ferreira
Olhar
de com-paixão,
Visão de paixões com os a-núncios,
Luzes
e contra-luzes das imagens passionais. Ouvidos atento às vozes que estão
gravadas na inconsciência, quê esplendor a lembrança de aquando recebi na minha
residência um artista-plástico, e ouvindo Blues na antiga radiola, disco de
vinil, dissera-me Fernando Cunha: "Não sei se você já prestou atenção que
o músico, compositor, cantor de Blues fazem com as cordas da guitarra o que bem
desejam... Quem dera, vocês escritores soubessem dedilhar as letras, fazendo da
palavra o que querem..." Longos anos, longos anos se passaram, estava inda
dando os primeiros passos nas letras, acabara de publicar o primeiro livro de
contos, setembro de 1979. De tanto a companheira dizer disso de fazer com as
palavras o que quero, brinco com as palavras como um garotinho que pega no
brinquedo sem saber o que está fazendo dele, lembrou-me este encontro com o
artista-plástico(pintor) Fernando Cunha.
Re-vers-itudes
de re-vers-idades re-versas in-versas vers-ificam verbos defectivos de
horizontes pálidos à luz de crepúsculo tergi-versado de luzes, ceifados de
brumas, alumbrado de cintilâncias e numinosidades do sol. Sonhos dialéticos de
uni-versos sombrios distantes, long-itudes ensimesmadas de neblinas próximas à
mercê de nuvens celestiais deslizando lentas, per-vagando leves, suaves,
singelas no espaço.
Esperanças
con-tingenciais de in-finitos envelados às furtivas de cânticos longínquos
transpassando o tempo en-si-mesmado de rodas-vivas, redemoinhos, cataventos,
ventos sibilando ao longo do campo de lírios brancos, vers-ejam pers-pectivas
de espelhos convexos, imagens côncavas, perspectivas verticais, ângulos
horizontais, re-definindo visões em miríades livres de silêncios extensos do
ser re-fletindo os entes despidos espalhados entre as estrelas feito poeiras
cósmicas.
Gritos
sufocados atravessam a noite, o mundo pára, alucinado, devorando desejos, os
olhos comendo vontades do longínquo, vers-inicializam na neblina de qualquer
esquina volátil sentimentos efêmeros tão leves e gasosos quanto as nuvens do
céu, rompendo no eterno eclipse da paixão o passado imaginário onde o vento
sopra forte lindos cânticos de complexos versos, decifrando a encriptação, que
reside no coração.
A
floresta não se reduz ao espaço das árvores, em cujo centro se adensaria a
vegetaçao. A floresta é a fluência do verdar, estendendo-se de verde até não
verde através de articulações inesperadas de sempre mais e sempre novas cores.
Na gênese, o verde se abisma em si mesmo e neste abismar-se gera um coração
que, desaparecendo no mistério do verdor, deixar aparecer todas as cores da
realidade.
Re-vers-itudes
de re-vers-idades re-versas in-versas con-templam eternas partidas, re-versando
esgares de melancolia à revelia das dialéticas do ser e não-ser bolinando a
escuridão da noite, fabricando vida plena, seduzindo de cores semi-vivas a
nudez do corpo inter-dita do espírito da vida, re-vers-ejam voláteis melodias,
sussurradas, murmuradas, cochichadas, con-tingência de silêncios trans-passando
de finitos êxtases re-vestidos de luzes opacas o in-finito verso do uni-verso
complexo de dúvidas, inseguranças, medos, desesperanças, re-velando o oculto,
des-vendando mistérios, des-bravando o inconsciente, des-cobrindo segredos,
des-cobrindo o quanto a vida se des-cobre e se re-vela num olhar:
Olhar
de piedade,
Olhar
de compaixão,
Olhar
de perdão,
Olhar
de malícia,
Olhar
de desejo,
Olhar
de volúpia,
Olhar
de sedução.
Caminho
por sobre as espumas da préia-mar no meio da tempestade sulina do inverno,
atravessando montanhas de ondas abismadas de ira. E como não dedilhar as palavras,
cortá-las, destruí-las, amassá-las, criar novos horizontes e universos com os
seus vestígios, restos, fazer delas o que se deseja, até o indesejado,
imaginando a pintura de um quadro: gaivota sobrevoando a montanha coberta pela
neblina e o mar que se encontra com o in-fin-ito.
Manoel
Ferreira Neto
(Rio
de Janeiro, 06 de setembro de 2016)
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