AS MEMÓRIAS DE UM INDIVÍDUO - Ana Júlia Machado/Manoel Ferreira Neto
Cada um de nós frui o inerente tormento para transportar, quiçá se
importe!
Cada um de nós tem o metro do sofrimento para declamar
Cada um de nós tem a métrica da angústia e náusea para recitar
Cada um de nós tem as estâncias do bem-querer para arrazoar
Cada um de nós tem a ninharia na aljafra para conduzir à perpetuidade,
quiçá tenhamos a cor-agem da verdade in-condiscional.
Cada um de nós tem a perpetuidade nos recônditos, interstícios, quiçá
in-terdida, quiçá inaudita à intuição, percepção, a-nunciações
Do bem-querer para ofertar e doar à genesis da vida, aos cânticos das
utopias e quimeras, aos apocalipses das sorrelfas e querenças
Cada um de nós, para declamar o que arrazoamos no quotidiano
Das experiências, aprendizagens da gnose, assimilações da sabedoria com
que a alma sacia a sua fome, é-nos mister a sensibilidade eterna, a que reúne
todas as dimensões da alma e do espírito, sintetiza as luzes das constelações,
tem o espírito para afagar os sentimentos e emoções
Cada um de nós tem a elocução da ventura para fantasiar
Cada um de nós tem sémitas e atalhos por onde contundir
Cada um de nós tem as fantasmagorias e confianças para habitar
Cada um de nós amanha a sua sátira da querença
Alvorece o seu tributo do volo,
Crepuscula a sua ode ao verbo da esperança, inspiração do entardecer,
talentos de anoitecer, dons de madrugar, até mesmo de cacarejar
Anoitece o seu soneto de sons, ritmos, melodias, músicas,
Orvalha a sensibilidade do vir-a-ser com a neblina do questionar
Indagar, perguntar sobre as origens da vida, quiçá tantas sejam que
seria in-inteligível compreender-lhe e entender-lhe a inteligência
Ensaiando e realizando a linguistica, semântica, semiologia
Do afluir-a-ser
Cada um de nós tem taciturnidades, tristezas de inolvidáveis transactos,
de inauditos e in-terditos das travessias invisíveis
Cada um de nós tem prantos a decairem no semblante proveniente das
contrariedades
Cada um de nós redige seu conto dos anseios ao limiar da perpetuidade
Cada um de nós tem a crença na revivescência, remição, éden sumido
Cada um de nós tem seus estrépitos, desapontamentos, desilusões
Cada um de nós mora a fugaz dita, alacridade, consolação,
Cada um de nós é o olhar o universo e buscar contemplar o que lhe habita
nas ad-jacências e bordas
Cada um de nós tem as asas para alçar voo, dirigir para o que
trans-cende o sido e o sendo
Hoje me experimento mais cônscio de todas as azáfamas que licenciei para
antes, mangofas que libertei do covil dos gênios para a consumação dos tempos
Hoje me experimento mais robusto para transportar o meu crucifixo de
quem sou
Hoje me experimento mais fantasiador de expectativas da elocução de mim
Hoje me experimento mais ameno e leve para vislumbrar
Hoje me experimento mais bardo para poetar, rimar a energia do espírito
Hoje me experimento mais tranquilo para percorrer a minha caminhada ao
ensaio do verbo, à pesquisa do ser
Hoje me experimento douto para apreender as esfinges e arcanos da
existência
Hoje me experimento mais ditoso por desenhar o juízo da alma
Hoje me experimento que o fenecimento é essencial para a existência ser
Hoje me experimento Cruzada
Hoje me experimento passadiço, passadouro
Hoje me experimento a ninharia que atravessa cosmos e perspectivas, caos
e retros-pectivas
Hoje sou a biografia de mim.
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