**SE AMANHÃ HOUVESSE - IV PARTE** - Manoel Ferreira
Se amanhã houvesse de explicar a intencionalidade de dividir "Se
amanhã houvesse" em sete partes, houve de disponibilizar-me um tempo para
pensar o estar-no-mundo em comunhão com as conquistas, esperanças, para isto
mergulhar no "eu poético", investigar-lhe as situações e
circunstâncias, só vislumbrando a felicidade de uma criança que brinca como
jogo das palavras, tripudiando com o tempo, blefando com o verbo. Hoje seria
quem re-versasse, in-versasse a verdade da plen-itude com os interstícios
baldios da alma, interditos sarapalhados de regências e declinações das utopias
das esperanças e pretéritos mais-que-perfeitos que se sintetizam na pectiva de
retros, retros de crepúsculos, entardecer, retros de anoitecer e madrugar,
alvorecer a semente de orquídea que será a flor e a beleza nívea da náusea das
mesmidades no instante de travessia para outras dimensões do absurdo e divino
ser no transcorrer dos ipsis e litteris das páginas de um sono o picadeiro do
circo de gestos e intenções do in-fin-itivo verbo de haver nascido do trapézio
que oscila de uma perspectiva a outra, mas o grande espetáculo seria no
picadeiro de quem tudo pode para criar a alegria através de gestos tragicômicos
da liberdade; nasci no meio dos livros, vou morrer no meio deles, com efeito, epigrafarei
a solidão do palhaço, silêncios e vazios, re-presentando na metáfora dos
subjuntivos gerúndios os vernáculos eruditos do vir-a-ser jogados no jogo
lúdico do tempo, jogo de ruminâncias de ouro e riso, epitafiarei os re-versos
in-versos da morte nada sendo senão a mediocridade em não saber, trazer a
sabedoria em dentro, que o "Das" do mistério poiético da verdade
borrificar de loção a face esquerda dos idílios, conspurcados de batidas do
sino da igreja sob a luz da notívaga noite da libido na querência sensível e
trans-sensível de acontecer o sublime das palavras que versificam e proseiam os
liames de vestígios do nada na característica específica e sine qua non de
pretéritos que originam os ritmos e acordes do "eu poético" que se
re-vela ao mundo por inter-médio da arte circense da Estrela Polar, romance de
idílios da "ec-sistência", desvelado o nítido nulo do cócito cogito
das sorrelfas idílicas que da lídima "persona" ilumina a liberdade do
abismo.
Se amanhã houvesse...
Ruminâncias de ouro e riso
Querência sensível e trans-sensível
De acontecer o sublime das palavras!
Acordes do "eu-poético...
Se amanhã houvesse...
Das páginas de um sonho
O picadeiro de um circo
De gestos e intuições
Liames de vestígios do nada
Desvelado o nítido nulo
Do Cócito Cogido das sorrelfas idílicas!
Se amanhã houvesse...
Epitafiarei o blefe do verbo,
A luz da notívaga noite
De idílios da "ec-sistência"...
Se houvesse o "se" de amanhã no eu poético das poiésis...
Se houve o eu poético da poiésis, o amanhã de mim representado de
palavras alegres, de plen-ersejar os sibilos da vers-itude, seduzindo a nudez
da sabedoria, a ruminância das ad-vers-itudes, bolinando a pureza da
eternidade. Sou quem no sou, no ser-de-mim... sou palavras do inter-dito dos
baldios terrenos da alma, a orquídea simbólica da sorrelfa sob a chuva fininha
do eterno.
Fico sentindo e con-templando o nublado
Do amanhecer, olhando o mar à distância.
Orvalh-itudes de quimeras tocando as páginas viradas, se amanhã houve de
imortalizar os interditos de sonhos e esperanças, melancolias e nostalgias
pretéritos, cujos estilos de linguagem olvidei, ad-nominando e ad-verbiando o
caos do efêmero, seria hoje, após sono profundo, nem me lembra se sonhei, a
plena saudade de manhãs em que regava os canteiros de flores, amava tocar o
orvalho nas pétalas e folhas, dizendo-me estar orvalhando as palavras, sorrindo
de soslaio, a jornada era longa, sem fim. Mister criar-me, re-criar-me,
inventar-me, a verdade, as verdades me esperavam nalgum terreno baldio de
minh´alma, era engajar-me, arrancar-me de mim, destrinçar-me, a face
afiadíssima de dois gumes do efêmero e eterno cortava-me em todas as direções,
a minha missão era o eu poético, utensílio que amenizaria as dores da
contingência, dialética da naúsea e dogmas do "ser". A força do
sonho; haveria de ser quem sou, as letras não mentiriam, a verdade do
"sou" seria registrada pelos dedos das mãos. Hoje estaria sentindo e
pensando estar bem distante ainda do que sonhava realizar, são apenas garatujas
fortuitas, quanto mais eu ando mais vejo metafísicas e metáforas na poeira das
estradas.
"A única coisa que levará desta vida
São os ideais, as idéias, o pensamento,
A sensibilidade, esperanças e sonhos" - dizendo a mulher entre o
sono e a vigília.
Se amanhã houvesse de recordar sentimentos e emoções vividos com as
leituras das cartas de leitores de Dostoiévski, carinho e ternura deles com o
grande escritor, haveria com efeito de lembrar dos sonhos de ser querido e
reconhecido por meus leitores. No tangente às profundidades da alma,
Dostoiévski é o meu grande mestre, à luz de sua alma mergulhei na minha, homem
e escritor se realizam na relação com os companheiros das letras, amigos da
vida. A minha eternidade são as letras, a vida conjugada com a companheira, o
grande amor, os amigos, todo o resto são efemer-itudes que devo viver
plenamente, embora as contradições e dialéticas, o verbo é a luz das sendas e
veredas no silvestre caminho do "ec-sistir", sei que represento a
verdade no que digo de mim, enfim só na Bíblia não existe
"re-presentação", tudo é a verdade absoluta, eternizada de
divin-idades.
Manoel Ferreira Neto
(Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2016)
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