**SE AMANHÃ HOUVESSE - V PARTE** - Manoel Ferreira
Se amanhã houvesse de recitar versos e estrofes -
metrificados como reza a práxis dos eruditos e clássicos nos tabernáculos da
tradição - das utopias do belo e eterno que extasiam, estesiam, impulsionam a
caminhada na metafísica de poeiras da estrada, incentivam a re-criar e criar
outros horizontes em cujos cernes esplendem desejos e vontades das
perfect-itudes, verdades, inspiram a in-ventar e re-in-ventar as esperanças das
sublim-itudes do perpétuo, sin-cronia, sin-tonia, harmonia do efêmero e nada,
correspondência entre náuseas e vazios, verso-uno dos volos de vontades e
sorrelfas do presente que justificam quaisquer manque-d´êtres, mauvaise-fois, o
peito em estado de gloria, euforia com a alegria de as nonadas intersticiarem
os recôndito baldios da alma, absurdos e absolutos, instantes-limites
perpassando as ausências e faltas do ser, sem quaisquer dogmas, preceitos,
valores e virtudes, morais, estéticas, éticas, simplesmente a jornada de estar
no mundo circundado, circunvagado de manque-d´êtres, forclusions, abismo e
solidão plenos, hoje não comporia poema para tudo isso re-velar, alfim são
merecedoras de ternura. carinho, em suma, amor em todas as suas dimensões, e
serem registradas para re-velarem esta condição do homem no mundo é
des-respeitá-las, a vida sem sentido e significado isto é com quem a vive, com
quem blefa, tripudia com as circunstâncias e situações, mauvaises-foi, fugas,
covardias, incapacidades de debulhar o terço das buscas e desejos do eterno
apesar do efêmero que vai acompanhar por sempre, a metáfora do século XXI será
cacófato do XXII, e este, o vício de linguagem do XXIII, mas eterno porque nas
trevas a luz se a-nuncia, vice-versa.
Se amanhã houvesse...
Não comporia hoje
Começar no in-verso
Para atingir o verso verdadeiro
"Onde só o infinito é o limite
Dentro desse mundo uno
Em expansão
Ainda longe da verdade absoluta..."
Se amanhã houvesse de acender uma vela na janela, do
lado de fora, começando, assim, um ritual para o alvorecer ser feliz, para a
felicidade ser plena no espírito do verbo sonhar, hoje com todas as letras em
riste diria ter estado louco, varrido, doido de pedra, pois que homem algum é
vocacionado à plen-itude de felicidade, não saberia con-viver com ela,
vomitaria os bofes, náusea absoluta, dores e sofrimentos lhes são inerentes. Aí
o incólume e insofismável questionamento : "Por que a busca desatada da
verdade, se as in-verdades são eidos de minh´alma? Não seria de bom tom viver
as in-verdades com grande amor e paixão, as mentiras com tesão e fissura?"
Quê tristeza: impossível para a felicidade plena, impossível para as
in-verdades perenes. Simplesmente com este idílio de amanhã houvesse de acender
vela no canto da janela, princípio de ritual para a felicidade ser perene,
cobrir-me-ia de nostalgias, melancolias, saudades de pretéritos e passados,
idílios, quimeras, fantasias de gerúndios e infinitivos do vazio, mas não me
trans-portaria, trans-elevaria, trans-cenderia ao amanhã, alfim o amanhã é
elucubração, rima pobre de soneto saudando o vir-a-ser, o vir-a-ser só se me re-vela
no instante-limite de aqui-e-agora, só me vejo sendo o outro de mim na
consciência e sabedoria do que estou sendo. O verbo do presente ilumina-me,
numina-me para outros efêmeros que re-velarão eidos, essência, cerne do vazio,
e só este pode re-colher, a-colher o múltiplo, absoluto, divino, que nada mais
são que húmus para outras contemplações do há-de ser.
Se amanhã houvesse...
O verbo do presente ilumina-me,
Pobre de soneto saudando o vir-a-ser
Cobrir-me-ia de nostalgias,
Fantasias de gerúndios e in-fin-itivos do vazio
Quimeras de particípios e gen-itivos do nada,..
Se amanhã houvesse...
Outros efêmeros que revelarão
O cerne do vazio...
Outras contemplações do há-de ser
Outras intuições do ad-vir
Outras inspirações do porvir.
Se amanhã houvesse de me redimir dos pecados capitais
da carne e ossos, por haverem interferido nas sorrelfas do bem e do mal,
tergi-versado de prazeres e gozos, fazendo de mim unicamente instinto,
jogando-me no beco sem saídas das coisas fúteis e fortuitas, terreno baldio dos
nonsenses, na madrugada de ontem para hoje não teria dormido um instante
sequer, pesar-me-ia a consciência, sentir-me-ia o mais vil da laia humana.
Se em consequência de amanhã houvesse de, haveria de hoje enfiar o rabo entre
as pernas, seguir o meu itinerário de cabeça baixa, preferiria o passado de
ontem, ontem de quaisquer ontens, pois que nada disso se me re-velou, se me
a-nunciou.
Era livre e não sabia, a liberdade estava nas minhas mãos feitas conchas e não
a conhecia.
Manoel Ferreira Neto.
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