**VAIDADE E ORGULHO, DONS E TALENTOS** - Manoel Ferreira
Há uma música de John Lennon, God, cuja lírica diz: "Não acredito
em Dylan/Não acredito nos Beatles...", dentre muitas coisas em que ele não
acredita. Termina dizendo: "Acredito em mim..." Acreditar em quem se
é é a expressão máxima de alguém que sabe o que pode Fazer e Fazer de si mesmo,
e enxerga os limites e impossibilidades.
O "outro" ajuíza e julga isto como sendo a pura vaidade, o
absoluto orgulho. Quem o diz, aos olhos do outro, é vaidoso e orgulhoso, na
linguagem popular e chinfrim, "quem se acha". Isto se chama, em
verdade, auto-reconhecimento, imagem de quem sabe de si, vive de si, mergulhou
fundo na sua alma, conhece suas eficiências, seus poderes de fazer as coisas, e
fazer no sentido de construir, de verbalizar seus feitos. Vaidade e orgulho são
o outro lado da moeda, é a coroa: é nada ser e querer figurar solenemente como
quem sendo, como quem sabe, como quem conhece.
Auto-reconhecer os próprios dons e talentos, saber que com eles pode
criar, re-criar, inventar a vida, artificiar idéias, pensamentos, moral é ética
que podem servir a todas as gerações, podem contribuir para o encontro de
outras dimensões da vida e do ser, é expressar a sabedoria de saber o que faz
com a vida, a responsabilidade e compromisso com o estar-sendo no mundo.
Vaidade e orgulho seriam se não fosse eivado, não lhe houvesse sido doado tais
dons e talentos, subir nas tamancas, bater os pés no chão com toda galhardia,
dizendo possui-los.
A grande, insofismável, inestimável ideologia do momento é a
"fama". Ser famoso é a expressão máxima das capacidades, poderes. Há
tanta gente famosa que não possui qualquer valor que mereça reconhecimento, são
os feitos pela mídia, pelas ideologias. Só comer com os olhos a Música,
Literatura, Poesia Brasileiras que se chega a este consenso num piscar de
olhos, não é preciso ser sensível ou intelectual para se conscientizar disso.
Salvas algumas poucas exceções, quase mínimas, a Literatura, a Poesia, a Música
brasileiras hoje são uma porcaria pública e notória. E esta
"porcaria" fez muitos famosos, estão deitando e rolando no dinheiro,
e dinheiro ganho com o nonsense da sociedade e do povo.
Há aquele jargão mais do que conhecido: "Ser famoso não significa
nada, nada é". Quem tem dons e talentos jamais se sente famoso, nunca
dependura, suspende a "melancia da fama" no pescoço, segue a vida
fazendo jus aos seus dons e talentos, criando e re-criando a vida em suas
imensuráveis dimensões. Quem tem dons e talentos agradece de coração e
espiritualmente o reconhecimento do outro, é-lhe carinhoso e terno, toma este
reconhecimento nas mãos feitas concha como responsabilidade e compromisso com a
vida, com o "ser", com as posturas e condutas morais e éticas, sempre
re-novando suas idéias, seus pensamentos, suas utopias, suas esperanças e
sonhos.
Manoel Ferreira Neto.
(Rio de Janeiro, 13 de julho de 2016)
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