**FLOR DE CACTUS** - Manoel Ferreira
Não há pectivas que não trans-cendam as pers do ec-sistir. Não há
stícios que não trans-elevem os sols das contingências. Não há res que não dê
voltas nas trospectivas do ser e tempo. Não há re que não postergue o verso do
desejo e esperança.
Não há trospecção que não mergulhe no in do íntimo, inner da
espiritualidade. Não há "a" que não preceda a temporalidade do nada e
efêmero. Não há "con" que não temple a a-nunciação do inaudito. Não
há re que não vele o vir-a-ser, o desconhecido de amanhã, mistério e enigma do
futuro. Não há stício que não penetre na res dos pretéritos abissais do verbo.
Não há emoção que não desvele o lado oculto do ser. Não há prefixo que não
anteceda o radical da palavra. Não há quem não diga quem conhece prefixos e
sufixos latinos e gregos precise pesquisar no dicionário o sentido dos
vernáculos.
Não há machado que com sua lâmina afiada não ceife a árvore, não faça
lenha para a lareira no inverno da solidão enamorada da melancolia, do silêncio
seduzindo a nostalgia. Não há filosofia que não traga em seu eidos a poesia do
ser, a poiésis do tempo, poiética do pretérito e subjuntivo. Não há poesia que
não verse o re-verso in-verso ad-verso do sentimento, desejo volo dos sonhos.
Não há fumaça no cigarro, se não houver o o ar dos pulmões que a trague
e expila. Não há catavento no alto da montanha, se não houver o vento que o
gire. Não há o verbo do ser, se não houver o efêmero do nada. Não há o eterno,
se não houverem as realizações do sonho e esperanças. Não há a alma, não
havendo dores e sofrimentos que a habitem, fé que lhe projete aos confins do
horizonte, volúpia da perfeição. Não há verbo sem o sonho de amar, quimera de
desejar, sorrelfa da vontade.
Não há sonho sem o verbo da continuidade que se faz e re-faz, cria-se,
re-cria-se, in-venta-se, re-in-venta-se no eidos do tempo que é história. Não
há o eu sem o outro que lhe habita no abismo do espírito, nos cofres da
inconsciência. Não há dialética, não havendo o questionamento da verdade e o
consentimento da in-verdade. Não há o barroco, sem antes haver havido o
clássico. Não há a alma do espírito sem antes não haver havido o espírito da
alma. A carne não se torna cobertura dos ossos, se das cinzas a vida não viesse
e às cinzas não retornassem.
A primavera nao existiria, quando os brotos das flores se despetalam,
exalam perfumes, não havendo o inverno que deixa as árvores sem folhas, fá-las
caírem. Zaratustra nada teria dito, se não se exilasse na caverna de uma
montanha por algum tempo. Memórias Póstumas não existiriam, se Brás Cubas não
as houvessem escrito.
Manoel Ferreira Neto.
(23 de julho de 2016)
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