#CUMPLICIDADE DO TEMPO E DO SER NO UNIVERSO POÉTICO FILOSÓFICO DE ANA JÚLIA MACHADO" - CRÍTICA LITERÁRIA: Manoel Ferreira Neto/PINTURA: GRAÇA FONTIS
O mais percuciente para tecer idéias acerca do poema da escritora,
crítica literária e poetisa Ana Júlia Machado, buscando atingir a eidética
desta obra, CÚMPLICE, será iniciar com versos nele presentes:
"Deslembro-me, que havia sido nesta existência,/Nesse incitar de era
arrefecida, que não ama/O erudito incorpóreo da nossa capela".
Aquando tecemos as nossas idéias sobre o salto da poesia propriamente
dita à poesia-filosófica, no poema VALADO ACROMO, referimo-nos à prosa ritmica,
ficando em suspenso a origem deste salto. Tal origem, com transparência e
evidência, se anuncia com esplendor e excelência neste CÚMPLICE.
A complexidade do tratamento do tempo e do espaço no poema machadiano,
de Ana Júlia Machado, vai além de efeitos poéticos. Ao realizar a análise desta
complexidade, deve-se dar atenção no elemento verbal, o tempo além do verbo. A
idéia do tempo não é exclusivamente dos verbos, os verbos enunciam e anunciam o
tempo. Em se tratando de uma linguagem artisticamente moldada, "concebida
por chamejante harmonia", entre o preâmbulo de uma "fala camuflada de
dilúculos e de Ocaso" e a verbalização da luminosidade da linguagem da
alma, do espírito, buscando efeitos de simultaneidade entre a Poesia e a
Filosofia, que são os universos da poetisa, o espaço é parte essencial e dado a
partir do qual se deve a cumplicidade do tempo e do verbo, do tempo além do
verbo; o verbo habita o eidos da intenção de atingir o Ser, a cumplicidade do
Tempo e do Ser, Ser e Tempo, e é dado pela Arte e pela Filosofia, buscando
alcançar o erudito incorpóreo da casa-do-ser, "da nossa capela".
A poetisa sabe e re-conhece que esta jornada de cumplicidade só se
efetiva a partir da "erudição", erudição da linguagem e do estilo.
Assim, Poesia e Filosofia se comungam na obra da escritora, torna-se ela
poetisa filosófica, filósofa poetisa.
Todo o poema se estrutura em oposições metafísicas e contingências, pois
que são de relevo sine qua non para estabelecer o verbo-do-tempo, o
verbo-do-ser, num conflito temporal provido de uma angústia espacial, **E
supera da dor de um horto/Que outorgasse a caridade de teus
destinos.../Altíssimo do isolamento, que assim me excluis/Cúmplice do
resplendor de fenecimento, facto sem extinção/Que esbraveja Fulgor das brisas
que tu propagas...", e os demonstrativos, conforme denotem proximidade ou
distanciamento, confirmam o processo de expansão e retração do poema, que, em
última análise, é uma imagem da expansão e contração do ser diante do tempo.
Manoel Ferreira Neto
(**RIO DE JANEIRO**, 22 DE MAIO DE 2017)
Cúmplice
No meio desonras de prostrado altruísmo
De uma inofensiva vernaculidade, que enfraquecia
Enunciar-se-ia, que era cúmplice dessa deploração..
Que boatos de dilúculo e de Ocaso,
Irradiava o seu imo emocionado
Como um escol às lágrimas do desprazer...
Deslembro-me, que havia sido nesta existência,
Nesse incitar de era arrefecida, que não ama
O erudito incorpóreo da nossa capela!
Que se alteia com escóis e que se incrédula
À Luminosidade das tochas para o espírito e termo
Da mercê muito beata que deriva
Do lis incorpóreo que a fragrância espórtula
E supera da dor de um horto
Que outorgasse a caridade de teus destinos...
Altíssimo do isolamento, que assim me excluis
Cúmplice do resplendor de fenecimento, facto sem extinção
Que esbraveja Fulgor das brisas que tu propagas...
Que se dispersa pelos riscos, de rumores
Entrevisto o pender da Luminosidade de enfermo
Ao aproximar às gorjas satânicas
Fui concebida por chamejante harmonia
Por um abdómen de Deia suprema
Titã em conceber que exiba por dom sobrenatural...
Que havia uma nódoa de meiguice humana
De um salífero paladar de diosa imensidão,
Que ventania endereça pelo paraíso e de algo provém...
Preâmbulo de uma fala camuflada
Ana Júlia Machado
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