#CANÇÃO ARTÍSTICA DE GRAÇA FONTIS E MANOEL FERREIRA NETO# - MANOEL FERREIRA NETO: AFORISMO/Graça Fontis: PINTURA
"O silêncio que nos retrate somos nós, mas o silêncio in-fin-itivo
é que é o silêncio vivo de nós." (Manoel Ferreira Neto)
Se as vozes tudo perguntam - a Esperança do Verbo de Ser é o Amor Pleno
à Vida? A Esperança é a Luz de todos os caminhos da Vida? -, as quimeras nada
indagam, só oferecem respostas, são músicas que fluem, permitindo que os sons
se mostrem livremente, con-sentindo que ritmos e melodias ressoem livres e
re-presentem o cântico do Ser atrás da Vida.
Resta-nos apenas encontrar o tom com que abordar os sentimentos, com que
artificiar a sensibilidade e subjetividade dos sonhos, desejando a cada passo,
seja no deserto ou na floresta íngreme, revelar o íntimo: "Eis o Ser de
mim!..." Achado o tom para as abordagens à busca de revelações, esperamos
que se abram vários eixos e que eles cubram o mundo por cima, um sudário.
Aumentando o calor, a sombra também se aquece, sentimos o sol na pedra
acima de nós, ele, bate, bate, como um martelo sobre todas as pedras, e é a
música, a vasta música de meio-dia, vibração de ar e de pedras sobre centenas
de quilômetros, ah, como antigamente, ouvimos o silêncio.
Sim, não é o mesmo silêncio que nos acolhera há anos, quando nos
encontrávamos sem rumo e destino, desesperançados e angustiados, necessitando
ouvir vozes que nos dissessem algo sublime sobre a vida, mesmo que quimeras.
Disse-nos o silêncio mais que isto, mostrara-nos o sublime e a possibilidade de
atingir a sublimidade desde que estivéssemos dis-postos a abrir-nos, deixando
as coisas entrarem, deixando a vida espiritualizar-se de verbos e sujeitos da
verdade.
Desde então, o silêncio acompanha-nos, ouvimos-lhe as vozes todas.
O prazer faz com que toque a tristeza da felicidade. É extremo.
Conhecemos a voluptuosidade do vôo e do pairar do pássaro neste lugar nenhum,
macio e claro, para onde o prazer nos arremessa antes de esmagar-nos no chão.
Conhecemos a voluptuosidade de imobilizar o tempo num átimo de segundo e de
prender por meio do corpo o corpo mesmo do tempo, antes que se esvaeça, tendo
apenas aflorado. Conhecemos o êxtase e o logro do êxtase. Numa palavra,
experimentamos agora a falsa eternidade da união e não reconhecemos nisso o nosso
presente, não desconhecemos as futurais perspectivas do sol numinando os campos
de algodão.
Tantos séculos de silêncios armazenados atrás das cabeças conferem à
solidão uma densidade de chumbo, e os minutos entre as palavras e as imagens
que vamos dizendo a nós próprios passam como horas, entre as utopias que vamos
tecendo perpassam-nos tão insustentáveis, leves, suaves, serenas. Até o momento
em que os lábios, ou melhor, os maxilares se descerram, e são agora as palavras
que parecem violar uma proibição, como uma rachadura fendendo um muro sagrado.
Vivemos horas cheias de uma imperfeição vazia e tão perfeitas, por isso
mesmo, tão diagonais à certeza retângula da vida. São horas caídas nesse mundo
de outro mundo mais cheio de orgulho de ter mais desmanteladas angústias.
Se pudéssemos ser sarcásticos a ponto de nos imaginar rindo, riríamos,
sem dúvida, de nos imaginarmos vivos, felizes, rindo em plena madrugada, até a
barriga doer. Vivemos horas impossíveis, cheias de sermos nós... e isto porque
sabemos, com toda a carne de nossa carne, que não somos uma realidade.
Que horas, ó companheiro de nossa "solidão", que horas de
desassossego feliz, horas de cinza de espírito, dias de saudade espacial,
séculos interiores de paisagem externa. Nada vale a pena, ó nosso amor
longínquo, senão o saber como é suave saber que nada vale a pena, que as vozes
simuladas em quimeras merecem o olhar aberto, os ouvidos atentos às coisas que
existem.
(**RIO DE JANEIRO**, 05 DE MAIO DE 2017)
Comentários
Postar um comentário