#A ESCULTURA É O VERBO DA GOIVA, A IMAGEM ESCULPIDA, A CARNE DA ARTE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Até concorda que nem sempre pela metáfora se exprime espiritualmente, o
que lhe custa algumas pequenas depressões e angústias, pensando que, enfim,
havia encontrado um limite para as criações, as recriações, e isto nunca pode
acontecer, pois que, se houver, com certeza, não será tão agradável de conviver
com a idéia de que encontrou um limite, as suas forças todas reunidas não
conseguirão isto vencer. As insinuações, as alegorias, as imagens são um vasto
campo de pensamentos engenhosos, de idéias artísticas, de sentimentos humanos e
divinos, de emoções transcendentes, enfim, das águas límpidas do rio que correm
sem cessar, sabendo de antemão e revezes o seu destino, a sua aspiração, a sua
vontade, o seu desejo, muito embora estas águas deem muita importância ao
destino, à aspiração, à vontade, ao desejo, e não como desejam alguns que a
natureza pouca importância dá aos homens, os seres humanos, embora nisto exista
até verdade inconteste, a insistência em com-preender a vida a partir da razão
e do intelecto, quando ela é a vida a partir da sensibilidade, da fragilidade,
enfim, de sua verdade.
Após sair do restaurante e churrascaria Espaço Livre, andava o escultor
de cabeça erguida, retornando a casa, olhando os movimentos de pessoas e
automóveis, sem nada enxergar, perdido nos seus pensamentos.
Os efeitos da natureza, a fábula, a história, presentes na memória,
fornecem à imaginação bem-dotada frases de espírito que ela emprega na ocasião
conveniente. Se existem espíritos, inteligências, sabedorias que isto podem
captar, intuir na fonte originária, crê que o espírito seja algo difícil de
definir, é uma qualidade do dis-curso que se considera re-veladora de uma
qualidade da alma, isto se pensa em uma luz, algo que ilumina a idéia, o
pensamento, re-velando a sua essência, a luz. O espírito afirma a possibilidade
de produzir o novo, a partir do feito de caminhar, sem nada mudar na ordem
antiga; a escolha de uma estética leve e enxuta, límpida e clara, o contrário
da pesada pompa que acompanha a influência sensual da razão, a influência
corporal do intelecto, se assim pode dizer, e alguns doutos podem com isto não
concordar, enfim, de definir uma vida cuja excelência se defina pelo saber,
pela experiência, pelo sonho e utopia.
Tal como as raízes do passado - não é um homem alto, mas suas sombras
estão compridas -, as radiações para o futuro estabelecem quando ocorre a
des-coberta do presente em Sentimento do Mundo. Com a "pros-pectiva do
futuro" mais a retros-pectiva do passado", a consciência temporal se
trans-forma numa equação cujo equilíbrio é a somatória da intuição (presente),
mais a memória (passado) e a expectação (futuro). Como será capaz de
re-presentar todas estas idéias em sua escultura do "deus pagão",
tornar-lhes realidade. Engraçado é, quanta vez não se admirou, que, após idéias
surgidas em fluxo, não conseguiu representá-las noutras esculturas, novos
trabalhos esculturais. Teve de deixar de tentar esta façanha, esculpir
livremente.
Alguns galgam paciente e prudentemente, um a um, os degraus da criação,
que costumam corresponder mais ou menos aos da fortuna. São degraus que
exigiram sim o movimento das pernas para que os pés os alcançassem, sentissem
no solado do pé, se isto não é uma imagem bem vulgar, mas não conhece da
linguagem própria do corpo, em termos científicos. Primeiro, é mister que se
conscientize de um dom divino, um dom gratuito, algo que trans-cenda aos
limites todos, que os homens normais enfrentam a todo momento...
Qualquer nível da Arte requer e exige o artista em sua plen-itude
ec-sistencial. Lembra-se de quando, para receber seu certificado na Escola de
Escultura, o professor disse-lhe que teria de esculpir no Parque Municipal, no
domingo, horário de passeio das pessoas, especialmente de turistas.
Auto-esculpiu-se.
O homem-escultor sobre os movimentos da criação.
Também se não houvesse falhas no esforço e no talento, não seria algo
verdadeiro, estaria negando o que possibilita sim a luta, a busca, a tensão
entre o sim e o não, mas que exige uma atenção e uma perspicácia de intuição e
inteligência para compreender e entender as estratégias do destino e dos
sonhos.
Abre o portão de sua residência. A rampa esta coberta de flores amarelas
do ipê.
A escultura, opinião sua, é o verbo da goiva, a imagem esculpida é a
carne da arte, a partir da qual o homem-escultor se estabelece, liberta-se da
história e se "refestela ao sol feliz".
(**RIO DE JANEIRO**, 15 DE MAIO DE 2017)
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