#AFORISMO NOS TEMPOS ATUAIS# - MANOEL FERREIRA NETO: "CONSIDERAÇÃO"
Quem nunca ouviu dizer a fala popular: "O que não mata
engorda"? Se in-vestigarmos com critério, des-cobrimos tratar-se de uma
re-criação do Aforismo Nietzscheano: "O que não provoca minha morte faz
com que eu fique mais forte."
Por que esta introdução tão categórica? Por ser mister, sine qua non,
questionar sobre o Aforismo. A verdade aliena, o conservadorismo fecha todas as
portas e janelas para a luz de novas des-cobertas, novas linguagens e estilos,
novas idéias. Para elucidar esta posição, cito outro Aforismo de Nietzsche:
"Temos a Arte para não morrer da Verdade".
O Aforismo remonta os primórdios da Filosofia com os filósofos gregos. O
Aforismo, re-presentando a Verdade, tinha como estrutura a Máxima. As Máximas
não morrem, servem à humanidade desde a eternidade à eternidade.
Séculos e séculos são passados, desde os Aforismos dos gregos, embora
não deixando de alevantar questionamentos e indagações, mas os tempos são
outros, a realidade muitíssimo diferente daqueles tempos, outros
questionamentos devem vir à luz. E o Aforismo volta à cena com o filósofo
alemão Friederich Nietzsche, articulando a Filosofia e a Arte, a Literatura, a
Poesia. Para entender Nietzsche é obrigatório conhecer a Literatura, a Poesia,
a sua obra completa foi construída de Aforismos, e até o presente momento
carece de estudos e mais estudos para conhecê-la, sabê-la com distinção. Os
tempos atuais trazem nas algibeiras outras necessidades, outras buscas,
des-questionar as verdades incólumes, aprender outros questionamentos sobre as
verdades.
Desde Nietzsche, Machado de Assis e mais recentemente Carlos Drummond de
Andrade, os Aforismos saíram das cenas da Literatura, Filosofia, estão em
extinção. Entraram em cena as "frases de efeito", se se quiser,
"frases feitas", que em nada trazem de Arte e Filosofia, Idéias,
Pensamentos, nem servem a questionamentos profundos.
A estrutura do Aforismo não deve ser deixada de mão, nem mesmo
conservá-la, mas re-criá-la, servindo às carências e ausências do ser.
Imagine-se o escritor escrevendo Aforismo seguindo Nietzsche, Machado de
Assis, Carlos Drummond de Andrade. Onde ficaria a Arte? Onde ficaria o
princípio básico dela: a criação? Seria apenas cristalizarem inda mais o
Conservadorismo, a Tradição. Seria melhor então plagiá-los. A Arte cairia por
terra, o escritor se enterraria numa cova bem funda.
Não tenho rabo preso com a estrutura dos Aforismos de Carlos Drummond,
Nietzsche, Machado de Assis e os gregos. Servem-me de inspiração, servem-me de
questionamento, querer des-cobrir outras verdades que coloquem em cheque as
tradicionais, as conservadoras, a articulação da Filosofia e a Arte no
concernente aos tempos atuais, novas posturas e condutas diante da Vida e do
Mundo.
Se querem relacionar a minha obra com o Barroco Moderno, esteja eu
modernizando o Barroco, conforme o crítico Paulo Ursine Krettli faz-se
obrigação ter consciência de que o Barroco é pura subjetividade, é subjetivo.
Ademais, lembrar-se de que a Arte é subjetividade, criatividade, subjetiva. E
tendo isto como pedra de toque, os aforismos de minha criação partem da
subjetividade artística, visão-de-mundo, à procura da
Consciência-Estética-Ética. Dizendo o crítico que "... o aforismo do
Barroco Moderno é o contraponto, é o contraste da “sentença moral breve,
conceituosa; apotegma, máxima”, não confiro nestes dizeres algo básico: os meus
aforismos se fundamentam na crítica ao racionalismo, especificamente ao
racionalismo kantiano, do que propriamente ao Barroco. O Aforismo visto aos
olhos do Barroco, do Barroco Moderno, tergi-versaria os princípios da Filosofia
que são essencialmente o questionamento, as perguntas sobre o Ser e Não-Ser. A
intenção é primordialmente crítica ao racionalismo, ele que se tornou
responsável pela cristalização do pensamento, das idéias. A articulação da Arte
e da Filosofia na constituição do Aforismo é a criatividade para novos
questionamentos.
E para elucidar inda mais esta "consideração" acerca da
dialética entre o Aforismo Clássico e o Aforismo dos tempos atuais, digo com um
Aforismo Nietzscheano: "Só se pode alcançar um grande êxito quando nos
mantemos fiéis a nós mesmos." A minha fidelidade a mim próprio é a
visão-de-arte, a visão-de-filosofia, a visão-do-mundo, a minha própria
existência. Portanto, o escrever Aforismo é a minha consciência-estética-ética,
que nenhum tradicionalismo, conservadorismo é capaz de atingir.
(**RIO DE JANEIRO**, 05 DE MAIO DE 2017)
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