#ÍMPETO ALADO DO CAMINHO PARA O SER, SEM PALAVRAS DIVIDIDAS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Caminhando
em silêncio, revolvo um sentimento que se me apresenta.
Encolho
os ombros, cerro os olhos, como um homem que aprendeu à custa de duras, duras
penas, a linguagem da renúncia, o estilo da refutação, da renúncia e refutação
à cor-agem de tecer as contingências com a linha da consciência. Toda a sorte
de idéias de liberdade, de devoção absoluta, de sacrifício, invade-me
deliciosamente – enquanto os olhos se esquecem, se perdem, enlevados na reliosa
solenidade deste princípio de noite de início de inverno.
Com
uma voz dolente, sob a frente fria deste início de junho, permaneço deserto e
desconsolado. O olhar alegre com que sou envolvido, resultado do amor pelo
inverno, sentindo no seu brilho ameno, no sorrir suave, quando está em mim. A
respiração leve, serena, comedida, creio eu, re-vela sentimentos e emoções que completam,
abrem leques para a felicidade, mãos entrelaçadas, utopias e querências, o amor
se faz continuamente.
A
bruma de prata flutuando, pela manhã, sobre os mangues inda sonolentos... É o
vestido da intimidade. A intimidade, nua, sente as sensações singulares -
interação do gozo e prazer. Sou a mesma abertura de silêncio... Brilha mais
puramente a brancura da claridade. Lá das profundezas da solidão, não devolvo
as coisas nem as mortifico. Um vento brando reflete no coração.
Anteontens
de idéias, ideais, sonhos, utopias performando os passos, ritmo e melodia de
viagem, quase dançando uma balada, deixar o tempo se suceder, o que houver-de
ser sê-lo-á, é seguir a estrada. Imagens, perspectivas. Hoje de pensamentos,
consciência de que tudo passa, tudo passa, é seguir as veredas e sendas.
Constelações atrás da lua.
Anúncio,
do que jamais foi, na pálida auréola do ar, das casas silenciosas, da copa das
árvores de perto, raiadas de pingos de chuva, aquando o silêncio é tão profundo
que me ouço ser, as ondas do mar espraiando-se.
Não
é absoluto preciso, nem mesmo imaginável e desejável, tomar partido de meus
interesses e achaques pernósticos: ao contrário, uma dose de curiosidade e
bestialidade, hostilidade e irreverência, insolência e hospitalidade, como
diante de um oponente frágil e taciturno, com uma resistência irônica de não
assinar ou endossar a nota promissória que me apresenta, juiz que insiste e
persiste em não conceder a liberdade de expressão no município, não aceita que
a liberdade de expressão é a expressão da liberdade, me pareceria um
comportamento e postura incomparavelmente mais sutil e inteligente em relação a
mim.
Anteontens
de existia a viagem desde sempre; anda em mim algo indescrítivel, "impeto
alado do caminho para o Ser". Encoimo a consciência perspicaz, por vezes a
empreender-se a favor do singular, e é a sensibilidade a colchetear os
pensamentos. Sou uma alegria, tristeza a caminhar na linha tênue da lembrança e
do esquecimento. Postergam-se as emanações contingentes do absurdo e encontradas
as ideias de sossego e silêncio - extravio as sensações da perda.
Degustáveis
os instantes, instantes-limites, Idéia, em princípio, simples, simplória,
gerando questionamentos, indagações, causando polêmica. A comunicação com as
coisas é impossível, não tem subjetividade, a comunicação com as pessoas é
impossível, tem subjetividade. Falando sozinho
Atrás
da esperança não há senão a esperança. No silêncio absoluto, as palavras de
outrora estremecem de insanidade.
Um
vento surge ininterrupto, procurando-se. Contudo, criando margens a
contradições de toda ordem, ambiguidade de toda natureza, sinto exigir de mim
um
comportamento, atitude.
Há
um instante em todo esse sentimento em que devem estar todas as coisas nascendo
– há um momento não sei quando.
(**RIO
DE JANEIRO**, 31 DE MAIO DE 2017)
Comentários
Postar um comentário