#VIAGEM DO NADA AO VAZIO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: FILOSOFIA
Há-de
existir ternura, singeleza, carícias nas imagens. Quem nunca sentiu enorme
prazer, alegria, numa viagem con-templar a paisagem? É um prazer indescritível.
Poesia não é
um fazer. Nem o fazer do dis-curso nem o fazer da língua nem o fazer da
gramática e suas trans-formações. É um con-sentir-se enviar pela Linguagem na
viagem das vias de uma paisagem. O envio é o avio da Linguagem. Con-sintamo-nos
viajar na viagem do nada ao Vazio, con-templando a paisagem do horizonte, do
uni-verso. Somos enviados ao In-finito. Deixar a viagem ser este envio por
todas as vias da paisagem é a poesia dos viajantes.
Viagem não é
apenas modo de conhecer os componentes de um espaço, mas modo de dar unidade às
partes aparentemente soltas do conjunto. Maneira de estender um espaço até o
outro e de envolver os tempos diversos num mesmo complexo. Viajante é a soma de
todos os seus caminhos. As fronteiras, ele as cria e re-cria de acordo com sua
capacidade de movimentação
O poeta
nesta viagem ao In-finito deve re-colher o discurso da liberdade da paisagem,
liberdade sensível, deixar a paisagem se expressar livre, dizer-se
espontaneamente. Assim, re-colhendo o discurso, deixa a paisagem vir a si
própria na Linguagem. O poeta não vai além, não ultrapassa, mas se re-colhe no
que escolhe. Só colhido pela Linguagem é que a verdade da paisagem o faz
a-colher o dis-curso na poesia. Ser poeta não é construir um outro discurso ao
lado ou além ou aquém das estruturas narrativas de uma gramática fundamental. É
restituir peso ao dis-curso da língua na gravidade da Linguagem.
O poeta é
poeta por des-cobrir-se tão imerso no mistério da Linguagem que toda a poesia,
sendo a impossibilidade de falar sobre a Linguagem, o leva a sentir nesta
impossibilidade a Linguagem de toda poesia. A Linguagem é ela mesma. Ser ela
mesma é re-colher sempre o viajante na viagem da impossibilidade de discursar
sobre a Linguagem. Deixar-se colher pelo re-colher da Linguagem torna o
viajante poeta nas vias da paisagem. É o pensamento pre-cursor que des-cobre o
espaço de jogo onde o poeta re-encontra na língua e na gramática de seus
discursos a poesia da Linguagem. Ser todo pre-cursor é, pois, a própria
essência do pensamento poético na terra linguística.
Nesta viagem
do nada ao In-finito, sendo enviado pela Linguagem às vias da paisagem, ouve-se
a música das con-tingências e utopias, o verbo do ser habitando ritmo, melodia,
acorde, arranjo, con-templando a paisagem do horizonte, do uni-verso,
re-colhendo o dis-curso da liberdade da paisagem.
#RIODEJANEIRO#,
16 DE OUTUBRO DE 2018)
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