Ana Júlia Machado POETISA E ESCRITORA INTERPRETA E ANALISA A PROSA POÉTICA /**TRANSEUNTES ANÔNIMOS**/
A este
aforismo dos autores Manoel Ferreira Neto & Graça Fontis, que verbaliza que
por momentos cobiçou ser um desses caminhantes incógnitos,
E agregar-se
à plebe,
Ao pó do
alcatro ou
Ao sussurro
das bazares, eu vou chamar divagações….
Pois, a
serventia por este mundo é o enigma por desmascarar
Linha que se
solta sem se enxergar o começo
Sinuosidades
enovelam os dias e os assombram nas tenebrosidades.
Entre tempos
regressa-se a esta areia de primeira água
Ausculta-se
o murmúrio das vagas em ira destruída subitamente
Como se do
reentrante das idades nos procurasse rememorar.
Receia-se,
abala-se incessantemente de algo
Transitam
semblantes que não autenticamos, existências que omitimos,
Passamos por
nós sem notarmos
Jornadeamos
como se algo carecesse, nas profundidades do ser
Quão tempo
durará a voltar a achar?
Desconhecido
pressentimento de transitar, de viver, breve disposição...
Admiração.
Mundo mira-nos
aguilhoa de todos os seres,
Espera por
nós transeuntes no ininterruptamente em pesquisa de algo.
Apenas esta
areia de primeira água restitui a comparência de tudo
Velozes
fendas no enrugado das lágrimas vertidas na atmosfera.
Culteranismo,
obstina-se, aqui não descobrem espaço!
Tudo se
arruína em bruma onde já não se interpreta o colorido.
Deste
Extremo onde se enxerga o nada
Nas arribas
arruínam-se cegueiras e restaura-se em enaltecimento a claridade
E os
devaneios serão alucinação?
Com os
devaneios descobre-se a compreender a alma e a reinventar o planeta
Sem
pretender ou não pretender, entrada ao domínio do mais penetrante
Sem
estorvos, eficácia resultante de todas as evasões.
É além que
tudo se exibe no interior das dissimulações
E o que se
patenteia por querença nada almeja auferir.
Querença
fidedigna a si inerente sem abdicação ao manancial genésico,
Disciplinável
intenção escapulindo-se ao despotismo que nos mortifica
Para acatar
e cada vez mais amordaçar o latejar autor.
Transportamos
ónus de plangência, miremos o feroz enclausurado
Quer berra
irrefreável ora geme subjugado sob o açoite
Subjugador,
de nós pessoa insignificante, sem carácter,
Que se pode
manobrar à vontade como um títere…
Se por
acaso, eleger-se ceifar os ímpetos, algozes seremos e refreados,
Sem a
pujança dos sentidos frágil é a causa.
Os mastros
oscilam ao paladar do vendaval
O sangue
torna-os vergáveis e os ramais não britam,
Querença é
sangue do mastro que somos, quem o sofre é possante, quem o estanca cessa.
Os homens
arrancaram o físico do espírito, aniquilaram a Querença
E o planeta
imergiu no tumulto, não a babel primitivo, mas a babel emergida de ideais
E prejuízos
coibindo o sensitivo, padronizando atitudes,
Entrosagem
social que arredou o humano da Essência
Afastando-o
de si-mesmo adulterou a intelecção.
Quiçá um
Protector de gados atravesse a nossa vereda
Urze soltar
a querença aferrolhado
Da espécie
de coisa que se presenteia ou aufere.
Rancor é
despotismo que tiraniza,
Afeição
absoluta soltará a humanidade da servidão.
Seria bom
que deixássemos de observar os físicos que jornadeiam na rua, físicos cujo
fundo não se contempla e que são a opacidade das tenebrosidades doentias de
seus impulsos vivos como larápios, lagartos, encobrindo sigilos intangíveis, encarapuçando
temores inenarráveis. Imergir neste planeta violento, abalar para sempre deste
sepulcro assustador e gélido. Caminhante incógnito.
Ana Júlia
Machado
TRANSEUNTES
ANÔNIMOS#
GRAÇA
FONTIS: PINTURA
Manoel
Ferreira Neto & Graça Fontis: PROSA POÉTICA
Por
instantes desejei ser um
Desses
transeuntes anônimos
E
misturar-me ao povo,
À poeira do
asfalto ou
Ao
burburinho das lojas;
Fugir para
sempre deste mausoléu
Trépido e
frio
E mergulhar
neste mundo intenso,
Enigmático,
um colorido fantástico
Camuflando
segredos invioláveis
Subjetivados
em rostos e sorrisos
Atitudes
relevantes e previsíveis
Desconhecidos
casuais... sensuais
Por
instantes... imortais.
Ânsia do
existir: sentimento do vazio. Complexidade. Ausência de sentido da vida.
Entrega à leveza no existir. Fechar os olhos, esvaziar a mente de idéias, a
língua de palavras, enquanto observo através deste mausoléu os transeuntes
anônimos. Só me resta um fio de desejo, esquecendo-me da vigília de olhares de
esguelha, soslaio, de banda para os solstícios do "Ser" que
paraclitam o pássaro a re-duplicar o canto para a sinfonia e ópera da fé na
esperança do sonho. É importante estar acordado para ver o que tem de ser
visto, a poeira do asfalto, as folhas secas espalhadas na calçada, a menina,
transeunte anônima, carregando a pastinha, indo receber as lições do professor,
o boêmio cogitando ser importante dormir para sonhar com a falta de tempo, o
advogado, de terno e gravata, confere as horas no relógio de pulso, o som é
macio, sem a menor estridência, marcha como um cavalo de crinas longas, solto e
sem sela.
Que vazio?
Absurdo isto de dizer... O que é o vazio na vida? Na vida não existe vazio,
nada, nada disso existe. E o nada, então? Nada é nada.
Sentindo
profundo o demasiadamente humano, a imperfeição para auscultar o inaudito dos
mistérios e enigmas, ouvir os interditos minutos entre o pulsar de meu coração,
os sentimentos que lhe perpassam, sentimento de sentar-me no banco da pracinha,
ouvir músicas, ser mais um entre todos que deixam o tempo deslizar tranquilo,
passeando, conversando com os amigos, comendo pipoca, a mãe que, segurando as
mãozinhas da criança, ensina-lhe a caminhar. Em verdade, não estou sendo mais
um entre todos, anônimo? Quem sou, o que sou - importa isso a alguém? Nada
tenho a dizer, silêncio. Se porventura surge algo a dizer ao outro digo-o a mim
próprio. Nada menos estou senão agarrado a este mausoléu, esperando o sono
tomar-me por inteiro, viver, coisa que não conheço, sei lá se viver existe, se
existiu antes - antes de quê? quando?
Bem tarde os
corpos cansados encontram-se em sono profundo, ouve-se o estrepitoso e
ensurdecedor som anunciando a tempestade, raios fosforescentes riscam, invadem
o céu dentre a escuridão. Madrugada tensa, assustadora. Acordam... Sei lá se
existir vive, se viveu antes. Olho os corpos que perambulam na rua, corpos cujo
fundo não se vê e que são a escuridão das trevas malignas de seus instintos
vivos como ratos, lagartos, camuflando segredos invioláveis, encapuzando medos
indescritíveis. Mergulhar neste mundo intenso, fugir para sempre deste mausoléu
trépido e frio. Transeunte anônimo.
#RIODEJANEIRO#,
02 DE OUTUBRO DE 2018)
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