O BEM É A CONDIÇÃO METAFÍSICA DA BELEZA# Manoel Ferreira Neto: DESENHO/Graça Fontis: PINTURA Manoel Ferreira Neto: FILOSOFIA
EPÍGRAFE:
"O
pintor apresenta a cor em sua barbárie, o poeta as palavras em sua natureza
não-semântica, não como aqueles que falam ou escrevem comumente e assim usam
sem fazer conhecer, já que elas conservam àquilo que aparece, a sua opacidade”
Criar não
significa inventar. Toda criação é conexa tanto por suas leis próprias quanto
pelas leis do material sobre o qual ela trabalha. Toda criação é determinada
por seu objeto e sua estrutura e por isto não admite o arbítrio e, em essência,
nada inventa, mas apenas descobre aquilo que é dado no próprio objeto. Pode-se
chegar a uma idéia verdadeira, mas esta tem a sua lógica, daí não poder ser
inventada, ou melhor, produzida do começo ao fim. Do mesmo modo não se inventa
uma imagem artística, seja ela qual for, pois ela também tem a sua lógica
artística, as suas leis. Quando nos propomos uma determinada tarefa, temos de
nos submeter às suas leis.
A criação
intelectual, com efeito, provém também da criação carnal. É da mesma essência;
é apenas uma repetição mais silenciosa, enlevada e eterna da volúpia do corpo.
“A idéia de ser criador, de gerar, de moldar” não é nada sem sua grande e
perpétua confirmação na vida; nada sem o consenso mil vezes repetido das coisas
e dos animais. Seu gozo não é tão indescritivelmente belo e rico senão porque
está cheio de reminiscências herdadas da geração e de parte de milhões de
seres.
Numa idéia
criadora revivem mil noites de amor esquecidas que a enchem de altivez e
altitude. Aqueles que se juntam à noite e se entrelaçam num baloiçar de volúpia
executam obra grave, reunindo doçuras, profundezas e forças para a canção de
algum poeta vindouro que há de surgir para dizer indizíveis prazeres.
O artista,
quando modela uma obra, exprime-se de tal modo a si próprio que o resultado
constitui um reflexo singular do próprio ser, daquilo que ele é e de como o é.
Isto aparece confirmado inúmeras vezes na história da humanidade. Quando o
artista plasma uma obra-prima, não dá vida apenas à sua obra, mas, por meio
dela, de certo modo, manifesta também a própria personalidade. Na arte,
encontra uma dimensão nova e um canal estupendo de expressão para o seu
crescimento espiritual.
Contudo,
há-de se ressaltar, sublinhar que muitas e inúmeras vezes é mais fácil para as
pessoas interpretarem a obra como a vida do autor, ele ali está mostrando as
suas coisas, entregando em mãos do leitor em toda a sua vida, e assim
recolherem e acolherem a obra, daí a reflexão e meditação dos caminhos do homem
à eternidade, à morte, à vida. Ninguém quer se ver frente a frente consigo
próprio, olhar-se no espelho, fazer suas confissões de modo sério e digno, em
busca de sua Vida. Ninguém. E também os críticos e os comentários não tocam
nessa questão, pois que eles também deveriam recolher e acolher a obra,
mostrando as suas verdades, identificando suas concepções, teria de meditar
também sobre eles. A obra se perde completamente na perspectiva da vida do
autor. Faca de dois gumes.
Enquanto a
estética envolve, sem saber, os pressupostos da tradição metafísica, a questão
sobre a origem da obra de arte terá como tarefa demolir esses pressupostos. Com
efeito, a obra de arte, por um lado, “abre um mundo”; por outro lado, retira
qualquer finalidade técnica dos materiais que a compõem; ela os emprega sem
utilizá-los.
O pintor apresenta
a cor em sua barbárie, o poeta as palavras em sua natureza não-semântica, “não
como aqueles que falam ou escrevem comumente e assim usam sem fazer conhecer,
já que elas conservam àquilo que aparece a sua opacidade” . Ora, o que designa
a “aletheia” senão o fato de que o ente se manifesta “em certa medida” como
não-velado?
As obras de
arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam o contributo
original que eles oferecem à história da cultura.
O tema da
beleza é qualificante, ao falar de arte. O olhar de complacência que Deus
lançou sobre a criação. Ao pôr em relevo que tudo que tinha criado era bom,
Deus viu também que era belo. A confrontação entre o bom e o belo gera
sugestivas reflexões. Em certo sentido, a beleza é a expressão visível do bem,
do mesmo modo que o bem é a condição metafísica da beleza.
#RIODEJANEIRO#.
18 DE OUTUBRO DE 2018)
Comentários
Postar um comentário