RESPOSTA DE GRAÇA FONTIS POETISA ESCRITORA CRÍTICA LITERÁRIA E PINTORA AO MINI-ENSAIO #A POESIA ÍNTIMA DO FOGO EM GRAÇA FONTIS - #IMPREVISIBILIDADE#
Maravilhoso,
meu querido escritor, você diz Mini, pois eu digo Grande-ensaio, pela dimensão
que destes ao conteúdo tão simplório deste Poema prosaico, ficou simplesmente
divino, sua interpretação trouxe outras perspectivas do dito, para mim,
inimaginável... grata por esta nova visão a possibilitar meu olhar a uma maior
percepção aos meus escritos, por mais esse belo feito: PARABÉNS! Beijos e
gratidão sempre amor!
Graça Fontis
A POESIA
ÍNTIMA DO FOGO EM GRAÇA FONTIS - #IMPREVISIBILIDADE#
GRAÇA
FONTIS: PINTURA
Manoel
Ferreira: MINI-ENSAIO POÉTICO
O fogo é o
elemento da transformação que opera sobre as duas outras massas que formam o
mundo – o mar e a terra. As coisas se consomem no fogo e se criam a partir
dele, o fogo e as coisas se permutam como as mercadorias e o ouro.
O tema sine
qua non do poema #IMPREVISIBILIDADE" de autoria da poetisa Graça Fontis é
o "fogo", e neste âmbito encontramos versos que expressam a poética
do fogo ou a poesia do fogo.
Para
perscrutarmos o poema da poetisa é mister sentir o fogo que a queima no desejo
de mergulhar nas artes, na poesia, na literatura, na imagem. Assim pensemos
algumas diferenças de idéias que habitam o interdito de sua obra.
À diferença
do que significava a água para Tales, o fogo segundo Heráclito é antes a fonte
contínua dos processos da natureza que propriamente sua matéria-prima original.
A imagem do fogo inspirava aos pré-socráticos essa dupla fabulação: de um lado,
o movimento das chamas parecia dotar o fogo de uma natureza cinética, de um
poder de transformação sobre os demais elementos; e, de outro, a busca pelo
constitutivo material originário reconhecia o fogo como o mais sutil dos
elementos.
O rio é a
ancestral metáfora do tempo, por isso a morte heraclitiana, que a poética de
Bachelard valorizará, é "tornar-se a alma em água", isto é,
dissolver-se na matéria do tempo. A água corrente ilustra a sensação de perda e
dissipação: "Que chore as águas...". Sua natureza fluida – a
impossibilidade de captar as coisas em estado de imobilidade – é representada,
por exemplo, nos relógios derretidos pintados por Salvador Dalí, e essa fusão
com a imagem de objetos palpáveis, dando-lhes uma aparência deformada, serve,
ademais, para aludir à corrupção da matéria no tempo.
O próprio
processo de combustão, em que a emissão de fumaça parece guardar a medida da
matéria consumida, podia simbolizar a regra de proporção das mutações da
matéria e, por extensão, a conservação da unidade a partir da guerra dos
contrários. Evanescentes as chamas de arrosto/A funesticidade íntima e
silenciosa/Das almas tremeluzidas"
Nenhum outro
elemento é tão nitidamente capaz de receber duas valorizações tão contrárias, a
ponto de simbolizar, ao mesmo tempo, o bem e o mal, e que essa contradição
fazia do fogo um dos princípios de explicação universal. Heráclito supõe que o
fogo, elemento cósmico, devia compor também a alma dos homens, e aduzia, para
tanto, duas explicações: em primeiro lugar, a natureza do fogo parece dotada de
um princípio diretivo em relação à matéria (o corpo), uma vez que é capaz de
moldá-la; além disso, o corpo vivo é quente, ao passo que um corpo morto se
torna frio porque a alma se desprende dele.
Pode-se
considerar que as propriedades poéticas do fogo, o fogo é íntimo e universal,
vive nos nossos corações e no céu – entretêm forte relação de analogia com o
fogo da física de Heráclito. #Na regulamentação dos instantes/Ao entorno que
revolve, extorna/Impulsos viscerais de trancar o tempo/Para que não se tornem
intermitentes/Dias e noites/No grasnar silvestre da dor/Na selva ocre vertentes
de muitas lágrimas/Haja o saber, a natureza expõe.../
No que diz
respeito à constituição das almas, uma coincidência se assinala. Para
Heráclito, as almas virtuosas têm destino diferente do das almas comuns:
enquanto estas se diluem em água com a morte do corpo, aquelas sobrevivem para
unir-se definitivamente ao fogo cósmico. No calor da noite/O vento inesperado
da morte/Ao antes fértil/Ora esturricado, sem vida/Sob uma luz morna da
tarde/Olhos tingidos pela cor dos desvalidos/Onde o cinza se estende nos
sombrios vãos/Do que era abrigo de todos os cânticos e cores..."
As almas
virtuosas, para Heráclito, pertencem aos homens que morrem em batalhas: como
suas vidas são ceifadas na plenitude da ação, a constituição de suas almas, no
momento da morte, é de fogo intenso.
Mas o poeta
não poderia ser digno dessa morte virtuosa? "O vento inesperado da
morte/Ao antes fértil/Ora esturricado, sem vida/Sob uma luz morna da tarde/
Como vira o filósofo Heidegger: ruína e decadência só se apresentam numa luz
negativa para uma exposição superficial. A ruína é a contingência que
possibilita o Ser abrir-se para a claridade de si mesmo.
Manoel
Ferreira Neto
#IMPREVISIBILIDADE#
GRAÇA
FONTIS: PROSA POÉTICA/PINTURA#
Que esta
manhã nebulosa
Não turve
meus pensares
Nem o olhar
vítreo
Vencido
pelos signos
Ao
declararem angústia e dor
Ainda que
haja inspirações suspensas
No varal de
meus sonhos inauditos
Com o
coração tido em compassos ruidosos
Na
regulamentação dos instantes
Ao entorno
que revolve, extorna
Impulsos
viscerais de trancar o tempo
Para que não
se tornem intermitentes
Dias e
noites
No grasnar
silvestre da dor
Na selva
ocre vertentes de muitas lágrimas
Haja o
saber, a natureza expõe
Que chore o
rio
Lamentem os
pássaros
Chore a
terra
Suas tetas
já murcham
Troncos
lacrimejam
Tantos são
os emaranhados
Entorsos
declinam galhos
Esboços
disformes sobrepondo
Difusa nesga
do mar
E de
encontro ao ciclópico ar maléfico
Que a
maresia expele
Deslizante,
fétido
Sincrônicas
as línguas candentes
Ao
crepitarem o verde em desolação
E chore o
vento em sua inconstância
Porquanto
sol e terra agonizam
Ardem
imensurável lamento
Formas
redondas entrelaçam-se no ar
Evanescentes
as chamas de arrosto
A
funesticidade íntima e silenciosa
Das almas
tremeluzidas
Nos últimos
instantes do presente
Que se
tornaram passado
Olhares
petrificados conferem
O
imprevisível, o caos
No calor da
noite
O vento
inesperado da morte
Ao antes
fértil
Ora
esturricado, sem vida
Sob uma luz
morna da tarde
Olhos
tingidos pela cor dos desvalidos
Onde o cinza
se estende nos sombrios vãos
Do que era
abrigo de todos os cânticos e cores
Manhãs
pintadas de sons
Quando
pássaros tinham ninhos
Árvores,
suas raízes
Que falem as
folhas esmagadas
No abismo da
danação
Recônditas
lembranças
Simbolos
fálicos de cor, sons e paisagens
Fincados na
solidão a serem esquecidos
E muitas
coisas a serem enterradas
No granítico
meio da destruição
Em que o
hálito desvairado
Da cobiça
oculta crepitou-se como livre dardo
No âmago da
terra sem lei.
#RIODEJANEIRO#,
16 DE OUTUBRO DE 2018#
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