#AFORISMO 426/SUM ERGO NON COGITO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO & SÁTIRA
Odes amorosas ou melancólicas - quê delícia para o coração romantizado
de quimeras e sorrelfas do amor eterno! -, galhofa e primores níveos ou
lilaseiros, avermelhados ou rosáceos, abrilhantem o fatal propósito, o mortal
intuito, o perpétuo fado, o cobiçado ser independente, ser das proximidades,
das longitudes, para o despovoado arrebatar fundo, no âmago e ser seu,
noctívago do entendimento, vigília da compreensão e humanitismo, flectido já em
existência sob a concepção do auge enlouquecido, ciente da plúmbea expectativa
do babel ressuscitado, eis o que me pretere a existência em todas as suas
extensões susceptíveis, razoáveis e intelectivas, a sensualidade e os ossos,
até mesmo as vísceras das entranhas.
Ser autónomo é apreciar a essência e entender com agudez e acuidade
que o ser humano é a pessoa mais relevante do cosmos, do caos, e que faz
fragmento inseparável da existência, e sem ele nunca existirá contentamento,
aquela felicidade inconcebível até no tradicional Paraíso Celestial, em
realidade o universo, a terra, a vida, sensibilidades e abalos que desimpeçam,
desobstruam, desobtusem as entradas para auferirem diferentes luminosidades a
conduzirem os andares em comando ao imenso do bem-querer e da afeição. E,
noutro estilo de olhar, e in-vestigar as sombras da imagem, há
"trocentas" coisas no homem que infundem espanto! A terra,
con-templando-lhe os tempos e ventos, tem sido a tempo inestimável um asilo de
dementes,
dementes de glória,
dementes de sucesso, fama,
Nomeai-vos
com diplomacia e etiqueta
um médico
de "açougueiro da humanidade
ou um artífice das palavras
artífice de plantões,
sentir-se-á denegrido,
imagem difamada,
quaisquer sibilos de vento
escuto nos regaços da alma...
Idolatraria, sim, coonestar as flores níveas, uma a uma, com as cores
que deixei, do arco-íris ou do espectro que com elas criei, com o pincel que
abandonei nalgum cacifo do tempo, com o pó de giz que espalhei pelo chão,
solicitar-lhes júbilo às minhas lágrimas, trilho a esse afecto oculto nos
abraços protelados, carícias e ternuras postergadas, nos contemplares
afastados.
Antigamente, idade da minha vida! Antigamente, idade das colorações
fundamentais! Antigamente, época de cadências ressurgidas! Após de tudo, depois
a pacificação, o vórtice!... Antigamente, época de poemas e estâncias
insólitas! Antigamente, época de prosas e nonsenses da razão e das idéias!
Antes das consonâncias e maviosidades, musicalidade, depois da satisfação, a
calmaria, tropeça a solidarização, a comiseração, bailam o afecto, expectativa
e convicção, a dança da declinação, o tanguear da escuridão, lullaby das
sombras e brumas, o fadário da alvorada.
Antigamente, tempo da mesa frequente, sobre o solo onde disseminei
origens dissemelhantes, lavrei milho e rebanhos!
Antigamente, tempo dos reencontros, defronte de rostos em volta de mim,
com os repletos e os despojados, com a insignificância e o total, com o fugaz e
o inextinguível, com o imortal e o susceptível, da veras!
Nunca a satisfação breve, deleites momentâneos, lerdices velozes, nem as
fantasmagorias e concepções que ambicionam o imortal e o pleno, o
encarniçamento que cata, o amor que respira a adivinhação do divo - porque
impingem, devo considerar de ineptos olhos para a boniteza, para o que
deslumbra a consciência e o mais penetrante, para o deleite da concupiscência
aprazível e insaciável de deleites petulantes.
O que acarreto dessa existência breve tanto Comba se é a fama - não
existe elevador para a fama, tem-se de subir as escadas, degrau a degrau! -,
reputação, bem-querer, saber e existência, estar pisando solos íngremes da
terra, como se fosse somente a memoração de um exulto bem planejado e
delineado, a incógnita da vida, por ser perpetuamente concludente mistério,
desobriga minha sabedoria, per-verte do aforismo latino “penso ergo sum”, aos
olhos do sentir e da alma real dislate, a esfinge infausta ou deslumbrante do
fenecimento, por ser suficientemente transcendente, escusa o vulgar a que
acho-me mais que habituado, e sou apto de altear-me ultra do Empíreo, onde as
eloquências representam a ligação eminente de seu princípio apegado à
desinência, as locuções proferem o imortal de ser condoído. Delibero, para os
convenientes termos e análogos, abonar o confim de mim, afugentar-me pros
contérminos, muito além do viridário e das sete porções de Campari, as
alcoólizes(alcoólices) com eles são fatais, nem mesmo o invulgar Engov dá conta
da mensagem, depois a sossega, nem mesmo a água colhida na fonte, transparente
e aprazível, trata a ressaca.
(**RIO DE JANEIRO**, 29 DE NOVEMBRO DE 2017)
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