#AFORISMO 372/RE-VERSOS SÃO OS SENTIMENTOS DO JOGO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Mãos que tecem de buscas do real, nas suas contradições e dialéticas do
encontro e des-encontro com a vida, com a existência, as linhas do horizonte a
serem percorridas trilha a trilha, tendo as con-tingências do nada e vazio, dor
e sofrimento frente aos olhos, o incólume desejo da nua matéria-prima com que
se constrói o ser, com que se sente os pés no chão, com que se vive a roda-viva
do pretérito e a realidade do futuro, crer o há-de vir, mas a luta constante do
há-de ser.
Inda que, acumuladas as quimeras, não são poucas, mãos que delineiam os
caminhos, eivados de sendas e veredas, digitando com as letras do desejo de dar
xeque-mate na vida, antes que a vida me coloque em xeque-mate, assim
registrando a linguagem concreta da vida, do nada que as quimeras deram a luz
ao querer o real, ao desejar a semente que, regada de esperanças, será fruto de
realização mesma, conquista sim, amor ao valor da con-tingência, caminhos do
campo, ora de terra coberta de poeiras, pedregulhos, ora de vegetação rasteira
e viçosa.
Coisas de todo mundo
Na vida do bem-virá...
Re-versos são os sentimentos do jogo, avessas são as razões dos
trambiques e artimanhas, caminhar com a vida na vida, quando, con-tem-plando o
que fora vivenciado ao longo do tempo, conquistas aqui, felicidades ali, dores
e sofrimentos lá e acolá, o nó górdio na garganta, será isto mesmo a vida, o
que está sendo vivido no presente, o fim concreto das ilusões, fantasias, as
mãos vazias que se estendem ao horizonte de além, esperando o ser da vida se
re-vele inteiro, enxergue em mim com lucidez o nada que sou, mas o verbo que
posso conjugar nos seus temas, temáticas do real. Há sempre lições a serem
aprendidas sejam quais forem os momentos, por prazerosos ou dolorosos. Amanhã
será outro dia. Nada vejo de valor nisto até agora escrito, de pobreza sem
limite, só um certo modo de escrever diferente. Amanhã terá um valor
inestimável.
Peço hoje
A memória do canto da salvação...
Graça está guardada num cantinho
Do coração.
Nada é nada, mas a esperança do verbo, tornado carne, feito carne,
dependendo das atitudes e ações, do con-sentimento, permissão de o outro que
são o sonho e a liberdade das esperanças, da fé, se revelar, o nada é princípio
da vida, é semente do ser. Assim, quimeras deitei-as nos abismos dos pretéritos
vividos, re-nasço-me, re-novo-me, sou agora o princípio, princípio de um fim
sabido ser de liberdade, mãos que tocam as con-tingências com carinho e
ternura, sentindo nelas a fonte do universo do amor a esplender os confins de
meu próprio ser, de meu ser particular e íntimo.
Ali, a vida... À beira da cachoeira, amor livre aberto ao ser da
liberdade, à liberdade da busca do ser, que estará sempre em questão, sempre as
mãos, sempre os passos, sempre o amor, inda mais, sempre des-aprendendo e
aprendendo a viver o real da vida, a vida do real.
Luzes... Inda ontem, entrando no escritório, pela manhã, vi-me sentado
na cadeira de balanço, olhando uma rosa que des-abrochava na manhã, sentindo na
face que se me re-fletia nítida a presença trans-parente do amor-verdade que me
mostrava os passos de um caminho sem fim, mas a cada passo a perspectiva do
sorriso e do brilho no olhar, resultados de minha entrega às mãos que concebem,
geram, dão a luz ao verbo do sonho ser, ao sonho do verbo ser, ao ser do sonho
verbo. Senti-me não apenas alegre e saltitante - isto são quimeras, larguei-as
nas metafísicas da poeira que o vento leva -, mas, contente e sábio dos
caminhos a seguir, realizando o amor que em mim sinto, de modo, estilo e
linguagem a caminhar na vida com a vida, de sendo-em-sendo a luz do ser, o novo
encontro, as novas lutas e labutas, as novas entregas - o amar é sempre o
desejo do outro no outro ser outro. Tudo começa com uma viagem, nove horas de
duração...
Graça, me dê memória
Perdido agora só no culto da razão,
A canção primeira, cantiga para eu poder cantar...
É assim... Assim é... Será assim... Assim é uma palavra: quase nada, é
uma palavra nada...
Sei disso... Mas "Assim" é o caminho que decidi seguir, seguir
para ser e não apenas para sentir que vivi, vivenciei.
Sei-me seguindo os passos no longo caminho que tenho a percorrer no
decorrer do sentimento de estar amando e estar desejando o eterno da vida
efêmera de sonhos e linces das utopias da vida numa ilha à luz do ser de verbos
do caminhar na vida com a vida.
Amar... Um dia direi: "Amei... E como amei" E com este amor
postei a imagem nítida e trans-parente das atitudes reais e verdadeiras do entregar-me
inteiro à vida, depois de tantas quimeras acumuladas, depois de tantas
angústias e náuseas sentidas.
(**RIO DE JANEIRO**, 06 DE NOVEMBRO DE 2017)
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