#AFORISMO 407/COMÉDIA DE SINFONIAS DA SOLIDÃO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
I
Perfeita imperfeição defectivando verbos de sonhos, regências de desejos
nos interstícios da esperança, concordâncias de vontades nos âmagos de
projectos. Ser de ocasos perfeccionando defectivas im-perfeições do verbo de
fectivos verbos, imperfeições dos ocasos - vale, montanhas, florestas, mares,
abismos, panorama longínquo de um presente, paisagem in-finita do há-de ser,
aclives, declives, curvas acentuadas, consecutivas, e o ônibus vai cortando o
vale em direção ao sertão, de volta para casa, sobreviverei ao que há-de ser? -
verbo de sendas tecendo itinerários, miríades de verdades anunciam caminhos do
campo, areias desérticas e-nunciam marcas e passos, trajeto/confins, confins do
caos, arribas do cosmos.
Arribas do caos, confins do cosmos, intensos são os prazeres e alegrias,
a percuciência de ideais são consciências re-integradas, res-gatadas,
re-cuperadas de fantasias outrora vividas nos pretéritos adjacentes às
confusões e perdições in-finitas de querências alinhavadas de sentimentos do
não-ser, des-virtuando a alma, ter-giversando os instintos aos ossos da
plen-itude; verbo de veredas compondo o “blues” do caminho com as notas,
ritmos, melodias, musicalidade. Nos outroras, manque-d´être de saudades,
sentimentos de ausência, falta, falha, carências, manque-a-être de desejos,
vontades, volos do coração, con-jugados às incertezas e medos perenes.
Mãos à obra, pés na estrada sem limite, sem fronteira, sem bordas,
destino: começo, re-começo, numa origem de nova cultura, de um povo, condições
abaixo das razoáveis, mas seguindo as alamedas por onde decidi trilhar minhas
estradas, semeando esperanças, sonhos, fé. Andarilho quase...
O ônibus vai cortando o vale em direção ao sertão, de volta para casa -
sobreviverei ao que há-de ser? Lembrança longínqua: na infância, pelas ruas de
Itabira, cantando: "Se algum dia à minha terra eu voltar/ Quero encontrar
as mesmas coisas que deixei..." Hoje, ainda pela manhã, perguntava-me:
"Será que vim para morrer neste buraco de mundo."
O ônibus corta o vale, em direção ao sertão, de volta para casa!...
Sobreviverei ao que há-de ser? Sozinho, ninguém por mim, morto, esquecido de
cair.
II
Leito de águas cristalinas, iluminado à superfície de raios numinosos,
engolfando sentimentos em absoluta re-flexão do que há-de vir, do que há-de
ser, mergulhando sensações de dúvidas nos abismos de dores e sofrimentos, taça
de lágrimas às vergonhas, aos sentimentos de ofensas, as angústias da
humilhação, sentindo a vida em-si mesma, na sua luz se revela solene, sabedoria
do verbo sendo a carne do absoluto, carne sem ossos, carne sem veias, sem
sangue percorrendo nelas, realização contingente, de Antemão Às Revezes: Útero
Às Palavras, sim, o corpo do real comunga-se à realidade profunda da alma.
Miríades de a-nunciações de liberdade, perscrutando re-cônditos do
in-consciente, alegria efêmera, desenhando afora desertos inóspitos de
condições ec-sistenciais, de dogmas algemados às decisões, decisões
acorrentadas às misérias do não-ser, re-fazendo olhares ao longínquo de imagens
trospectivas das pectivas da res...
Sou imperfeito, defectivo as esperanças do perfeito, perfecciono o
defectivo das esperanças, das esperanças perfecciono defectivos - brincar às
palavras, à dubiedade dos sentidos e significações, o jogo, a tramóia, o
tripúdio, não é um recurso da beleza, versos de excelência, construção da
linguística dos verbos no tempo da estesia - imperfeitos os desejos
participando de instantes de luz nas trevas, luz nas trevas perspectivando
instantes de desejos - “perfeitos, imperfeitos, o que isto importa, se a
brevidade dos sentimentos, emoções, sensações é o advir, porvir, há-de vir
solicitando as brisas suaves e sublimes, bem-estar corpóreo...”
Sou a imperfeição esplendendo de sombras perfeitas os horizontes além.
Sou o defectivo resplendendo de brumas imperfeitas os confins de amanhã. A
imperfeição é a plena perfeição do não-ser, o não-ser é a perfeita plenitude do
imperfeito, o ser é a absoluta imperfeição do perfeito. Origem do futuro
con-templado à luz do perfeito passado, genesis do presente vislumbrado à mercê
caótica do futuro, fonte do pretérito alumbrado à mercê abismática dos
alvoreceres, crepúsculos, entardeceres, anoiteceres...
Sou a luz fosforescente do imperfeito luminando o tempo de nadas,
vazios, nonadas, náuseas, de efêmeros, passageiros, vapt-vupts, éresis,
con-éresis, an-éresis, o caos imperfeito das imperfeições que me habitam
participa do tempo verbalizado nas angústias do eterno efêmero, Inteirando do
ser enunciado as náuseas das travessias, interagindo do nada epigrafado as
contradições. Sou o imperfeito eterno efemerizando o tempo do caos, perfeito
imperfeito, imperfeito perfeito, mais-que-perfeita imperfeição numinando os
caminhos de ironias, sarcasmos, cinismos, compondo a sátira das vaidades,
orgulhos, odes dos êxtases da raça e estirpe, idílios das nostalgias,
melancolias, saudades, tributos, ainda que às furtivas da comoção e lágrimas,
ao poder, às glórias, às conquistas.
O ônibus corta o vale, em direção ao sertão, de volta para casa!...
Sobreviverei ao que há-de ser? Sozinho, ninguém por mim, morto, esquecido de
cair.
III
À sombra do imperfeito, dançando a ópera da solidão à luz das cenas
performadas de sons e imagens, performance de quimeras da redenção,
ressurreição, ilusões do perene, banquinho solitário, de por baixo da árvore.
Estrada coberta de neblina, paz, serenidade, suavidade da douta
sabedoria do divino e supremo, cenário de sorrelfas da eternidade, paraíso de
felicidade e alegrias, movimentos de fantasias do absoluto, a vida na sua
plenitude de perfeições perfeitas, sem as margens do não-ser à brisa suave e
serena da imperfeição, sentindo a dor gélida do tempo que não participa do
perpétuo, do perene.
Perfeita imperfeição do imperfeito perfeito ser imperfeito, do não-ser
perfeito.
Não-ser imperfeito do ser imperfeição...
O ônibus corta o vale, em direção ao sertão, de volta para casa!
Sobreviverei ao que há-de ser? Sozinho, ninguém por mim, morto, esquecido de
cair.
(**RIO DE JANEIRO**, 22 DE NOVEMBRO DE 2017)
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