#AFORISMO 966/ DOCE IMPRESSÃO DE AGUARELA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Epígrafe:
"Pretéritos perdidos no tempo afloram sinfônicos saudosismos no
presente" (Graça Fontis)
"De vozes que ecoam nos lamentos, os cânticos de
melancolias..." (Manoel Ferreira Neto)
Falas silenciosas, vozes mudas...
O sábado amanhece esplendido e preguiçoso numa soberba de tentação de
azul, fresco e transparente. As montanhas da baía, o Pão d´Açúcar, os Orgãos,
e, lá longe, o Corcovado, sem um floco de nuvem no topo, desenham-se na eteral
limpidez do ar calmo, dão a vista uma doce impressão de aguarela. Bela manhã
para um bródio sobre a água! Quiçá os benefícios dos dons e talentos para dar a
este sábado umas tintas de paleta rembrantesca! Dou-lhe todas as perspectivas
de meu sonho que especula, e lhe colo metafísicas, enigmas, mistérios, causas
primevas e primeiras.
Sabe, viajante do sublime, acreditava poder ser feliz, jogando glórias
fora, esbanjando conquistas. Acreditava num mundo grande, onde os homens
pudessem se saber solidários, compassivos, humanos, onde de mãos dadas se
satisfaziam com as conquistas dos outros. Acreditava que a minha rua daria nas
estrelas... a fresta de uma árvore, em verdade, uma mangabeira, daria no
infinito, na eternidade.
Fios de outono nos anéis do orvalho, centelhas de primavera na floração
orquidisíaca do amanhecer de simples estesias, pormenores tão menos são cobras
que se auto-devoram pelo rabo, nuanças de dores e sofrimentos adentro longas
noites de insônia, vigília de letras e sons, de cores e imagens, luzes e
contra-luzes, de vozes que ecoam nos lamentos, os cânticos de melancolias,
nuances de verdades e vazios que se entre-cruzam.
Que saudades têm os homens da fronte em busca do poente, do riso atirado
na luz de orquestra e flores. Que saudades têm os homens do antiquíssimo fora
de si, do turbilhão lento de velhas canções, serestas, serenatas, vesperatas,
na imaginação sobre os olhos da vida regrada, acompanhada de linhas que traçam
a essência da Vida revelada como Amor, um amor total destituído de todo
egoísmo, particularismo, sentimentalismo – é este amor absoluto de um homem por
outros seres, onde reside o poder de criação, mergulhando raízes na mais
Verdadeira Tradição, a glória de intenções da estesia das utopias
sin-estéticas. Somente quem se tornou livre de si mesmo pode empenhar-se
altruisticamente pelos outros.
Arrebiques de raios de sol crepuscular incidindo na soleira da montanha
onde as ondas tocam, batem, que espetáculo de fino esplendor, poente de imagens
nas nuvens, pássaros sobrevoando o oceano, parece um homem passeando ao léu...
quiçá o talento de plasticiar na tela a pintura desta re-velação
artística-espácio, recolheu-se, outras nuvens cobrem o espaço, outra imagem se
a-nuncia.
Falas silenciosas, vozes mudas...
Imagine, viajante do sublime, arquitetei dizer o que habita a alma em
todas as suas dimensões, arquitetei ouvir o silêncio, ouvir-me sendo.
Arquitetei, de passo a passo, descer os degraus da escada, arquitetei o
conhecimento de quem sou, de onde a-colher, re-colher as seivas de sonhos e
utopias, do espírito da vida. Cri poder compor a sinfonia da liberdade,
phylarmonica do verbo ser.
Peregrino estelar, seguindo a luz diáfana em ondas de raios faiscantes,
luminosos, a busca itinerante de a-nunciações de estrelas cadentes que mostrem
o sítio inicial de outras definições, concepções, acepções da verdade,
regências e conjugações do verbo-ser poético, in-versas metáforas e estesias
dos princípios de relíquias do eterno-divino, liberdade absoluta à luz dos
tempos.
Assoma-me que só subsisto em momentos de ápices eternamente in-vulgares.
Alvoroços e sensibilidades são distintos. Como se experimenta no mundo,
a veracidade é o isolamento. É o ser quem aporta sofrer e comover-se,
estremecer-se mesmo. Terá aprofundado por integral em seu âmago, Integrado
dele, pesaroso. Isto a que cognominam jazer-se, é-me in-executável
encavacamento, exíguo confrangimento. Atinjo-lhe a profundeza, submergindo mais
e mais no que está despontando em mim. Não alcanço perceber mais o termo
isolamento.
A comparência breve no tempo. Agencio a singularidade no imo e alma.
Atalham-me de achar um adeus genuíno, causais a plangência e a insipidez de tão
imensuráveis são.
(#RIODEJANEIRO#, 21 DE JULHO DE 2018)
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