#AFORISMO 971/ #À LUZ DE DIALÉCTICA DE SILÊNCIOS AS ALGAZARRAS# - PROJECTO #VERSO-UNO LITERÁRIO# - PINTURA: GRAÇA FONTIS/DESENHO: Manoel Ferreira Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Epígrafe:
"M esmo no vácuo das turvas paisagens
A s gotas de orvalho, o vento desfaz
N as entranhas do solo, força elementar
O espetáculo desencadeia espasmos e desproteção..."(Graça Fontis)
Em tempos de outrora, saí a semear as esperanças em versos, terras,
nuvens e estrelas, um viajante de silêncios e sublimidades, perdi-me mil vezes
nestas andanças, dores que adubei, tive de colhê-las, sofrimentos que reguei,
tive de re-colhê-los, medos que senti profundo, tive de armazená-los,
memorizá-los. Compreensível isso: esvaziei-me, era mister encher-me novamente.
Tudo em torno corria a passos largos, não movia sequer única perna, não era
necessário, a eternidade cuidava por si da continuidade da conquista, da
glória; permanecia estagnado e a vida era rio que fluía incessantemente, e era
eu navio encalhado em fantasmas, e era sargaço. Tudo em volta estourava,
explodia e era pavio que engolia o fogo e implodia fracasso (até as musas
perceberam o meu triste e indizível cansaço, assumiram o ser de mim, generosas
e solidárias que sempre foram, o objetivo era ajudarem-me, não queriam ver a
minha estrela apagada de todo) e naquele mundo pleno andava tão vazio, o peito
me dizia de modo eufórico e extasiante: “Re-nasça, re-nove-se, inove-se, os
horizontes e universos para si estão todos abertos e escancarados, entre por
essa porta e siga a sua viagem”.
Do turbilhão dos turvos pensamentos, retirei os que se fizeram luz, os
que a-nunciaram verdades outras que antes apenas intuía, e entreguei meus
melhores momentos à vida e ao mundo, estava presenteando-lhes como se faz a um
ser querido, à mulher estimada e amada, ao amigo de todas as jornadas e
itinerários, às amigas de todos os sextos sentidos e sensibilidades, um gole de
cachaça que me embriaga o coração, fá-lo pulsar sensações várias, re-versas de
minhas utopias e sonhos, in-versas de meus projetos e propósitos puros e
singelos. Seguirei os caminhos do tempo, tomei nos pés outras veredas, senti-as
bem fortes e presentes em mim, mostrar-me-iam outros horizontes e uni-versos.
Das luzes e contra-luzes das turvas paisagens do mar no alvorecer de
cerração, neblina, colhi a constante procura de sede e não de linfas, o que
exaure, desolado no seu ermo, con-templar é saciar a sede de conhecimento.
Seara orgulhosa, deserto de re-flexões, ornamento de melancolias, porventura de
carências pretéritas. Assim vos respondo aos versos de vossa obra acróstica, a
brisa da noite de inverno, a maresia do mar, a balada sai da boca
introspectiva, circunspectiva, en-si-mesmada, a brisa ma traz, e a leva a
brisa, não cantarei o riso que não rira, não chorarei o choro que não chorara,
só a própria balada a modelar campinas no vazio da alma, no nada das idéias e
pensamentos, no mesmo engano outro retrato emoldurado no quadro.
Um quadro não é soma de tela e de tintas, lápis, nem sequer de linhas e
cores, nem sequer sentimentos e emoções, projetos e sonhos, nem sequer a
síntese disso, nem sequer o que viso por inter-médio disso, sim a intenção com
que tudo isso trespasso e trans-cendo e re-construo, lá onde ec-siste o meu
apelo de beleza. Porque, então, o quadro ec-siste apenas como quadro que é e a
minha intenção como a voz da minha procura. Uma verdade não é apenas a
concordância que quiser e nela descobri, porque ela então é apenas a exatidão
de si, indiscutível, presente, petrificada.
Mas o quadro, música, verdade, para que eficazes, proficientes e
eloquentes ec-sistam no mais abismático, insondável de mim, precisam de
encontrar-se com o insondável que me transcende e sou eu ainda no que sou mais
do que a vida e o mundo, mulher estimada e amada, a companheira de todos os
momentos e instantes, amigo e amigas, lilases a leste do éden. A todos o amor
propõe problemas e conflitos, quem é só, furiosamente sonha e crê ser sua
condição medonha, tenebrosa, e exagera a dor em seus poemas. Se pelo menos quem
não amasse com o ermo de si mesmo contentasse!
Há uma verdade além da verdade, há uma beleza além da beleza, há uma
poiésis além da estesia, há uma poesia além da metafísica, há uma filosofia
além de todas as razões puras e práticas, há uma prosa além da realidade do
quotidiano de situações e circunstâncias, do folk-lore popular, das lendas,
mitos e ritos, há um mundo além do mundo e só aí ele ec-siste, há caritas além
da amizade sincera e séria pelas sensibilidades que extasiam, conquistam, pelos
sentimentos e emoções que o coração, prazerosamente, guarda no seu lugarzinho
bem singular, como o belo e o verdadeiro, como o absoluto e o eterno, como o
amor, síntese do desejo e da liberdade de tornar realidade as letras e os
desenhos.
Espírito informe de uma fugitiva presença, luz incerta que se acende por
dentro do que é iluminado, invisível realidade visível, é quando vem a mim o
raro privilégio de assistir ao encontro desse espírito e do que o manifesta, é
quando o visível e o verificável se encontram com o que se furta à verificação
e visibilidade, é então que a verdade se incendeia de fulgor, o belo de beleza,
o eterno de eternidade, o imortal da imortalidade, o ec-sistencial de
ec-sistencialidade, o historial de historial-idade, o histórico da
historic-idade.
O silêncio lentamente cala no peito, cobre-se no sudário da re-flexão e
meditação, em serena displicência vou vivendo acostumado a ser mais-do-que
imperfeito do indicativo, a ser-mais que perfeito do subjuntivo, carente, o
peito a chorar de tristeza e falta, ausência, a alma a soluçar de carência e
falta-{de}-ser, a carne a rogar a presença do verbo, ajoelhado aos pés da vida
e dos desejos da ressurreição e redenção; o cotidiano compõe minha agonia, da
vida se deduz o que se vai morrendo e anulo meu ser a cada dia, e a cada dia
busco-lhe de outros modos, em estilos e linguagens outros, até de manhãs
diferentes em que trilho os mesmos caminhos vou tecendo outras ilusões de
arrebiques, contudo os olhares e sentimentos se dirigem a outros panoramas e
vou acreditando que ele é o que me fora dado desde a eternidade, desde o
nascimento no per-curso da minha jornada sem limite e fronteiras em busca de
mim, na querência de outras luzes e incidência delas na imagem dos louvores e
conquistas reais, verdadeiras, a verdade sob a luz do DIVINO e do ESPÍRITO.
Do divino e espírito,
Tecendo ilusões de arrebiques,
Bordando ornamentos de fantasias,
Em estilos e linguagens outros,
O imperfeito se veste de perfeito,
Sentimentos se dirigem a outros panoramas,
As retinas fotografam a forma e o conteúdo
Da realidade,
Visão e sonhos do belo e sons do vazio,
Vazio de silêncios, silêncios de vazios sons
Transformam isso em estesias
Nada de vazio no silêncio das vozes
Do sonho,
Da utopia,
Das idéias e pensamentos...
Com o vosso acróstico, tomando o tempo e as conquistas da ec-sistência e
do amor, gostava de lhe re-velar acerca de vosso amor e companheirismo,
esclarecendo o quão o que dizeis e sentis dessedentam a sede de conhecimento e
verdades.
O nosso Amor, Carinho, Ternura por jornada tão enriquecedora d sublime.
Gracias muchas pelo acróstico.
(#RIODEJANEIRO#, 24 DE JULHO DE 2018)
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