#AFORISMO 954/ PÔQUER DOS INSTANTES-LIMITES# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
PROJECTO #INTERCÂMBIO CULTURAL E CULTURAL#, CERIMÔNIA DO INTÉ ANO QUE
VEM.
"Esperança: tirar a carne do tempo, deixar o osso do eterno,
aliviar as pernas de tanto andar, nunca ficar passando a noite, madrugada,
observando os idílios". (Manoel Ferreira Neto)
Epígrafe:
"Saber-se no limite é o grande salto para a completude da
iluminação" (Graça Fontis)
Curvilíneos fragmentos de pretéritos abismos nítidos, nulos, obtusos,
oblíquos, trans-versalmente ardentes, cintilando aos raios de numinoso sol, não
seria fantasia, idílio porque entardecia, tempo neblinado, melancolias,
nostalgias de efígies e imagens que me habitavam o íntimo, sorrisos furtivos e
amareliçados de saber era infeliz e não sabia, conhecia a infelicidade,
restava-me a atitude insofismável, mas fui criando quimeras para envelar as
tristezas e a-gonias, porém no verbo delas, que gira o catavento do morro de
ventos uivantes, colina dos lobos nostálgicos e ferozes, de frente ao vale dos
vazios, saciasse a sede da liberdade. Quiçá necessitasse descobri-la nos
interstícios da alma, dando-lhe segmentos para a jornada rumo ao que
trans-elevasse, trans-cendesse a mim. Sem pejo e mediocridade, neste instante,
assim imaginei estes versos, lembrando-me de uma música, e comecei de sorrir.
Nonadas de vazios eram carências nos recônditos dos sentimentos de amar
o verbo de sonhos que se localizam no mais inter-dito do ser. Vivencial e
vivenciária era a infelicidade, mas as chamas de velas no castiçal no parapeito
da janela aberta para o in-finito mostrava-me por intermédio de vocábulos
apocalípticos a felicidade acenando-me de longe, chamava-me para o suculento
banquete, regado a vinho português, lá do Porto, aquela excelsa bacalhoada
acompanhando, onde as águas do mar, tocando as docas, concebiam a música das
etern-itudes, sorria circunspecto, os olhos brilhavam de introspecção. E, num
instante, manhã de chuvinha fina - esta chuvinha fina está presente em mim
sempre, quiçá seja ela o símbolo, metáfora da inspiração, como o rio de águas
límpidas é o signo da iluminação, como o re-verso e in-verso e re-verso, a
síntese, são linguagem e estilo da vontade de estética; alfim a
consciência-estética-ética só é possível, só se realiza com a síntese entre
"inspiração" e "iluminação" -, recostado à janela,
perguntei-me, absorvendo a nicotina do cigarro com tanta paixão que me
engasguei com a fumaça, tossi de modo enrouquecido: Onde este amor? Onde esta
paixão? Onde este carinho e ternura, amor lá das entranhas uterinas do
uni-verso pleno da verdade? Onde esta felicidade? E quando? E quando desvelar
para realizar?" Seguia o destino, destino este o útero do tempo e
ideologias da vida me reservaram, o olhar projetado ao além dos pretéritos
aquém do vir-a-ser. Este amor, quem sabe, revelar-se-ia, meu corpo aquecer,
trouxesse quem sou, imperfeito e louco, não enclausurado numa cela do perfeito
e imaculado.
O verdadeiro amor, concebido no silêncio da madrugada, far-se-ia
presente, alfim mesmo que a nonada do silêncio versificada de solidão do
não-ser, a liberdade haveria de se a-nunciar na luz da manhã, no trans-correr
da temporal-eresis, não iríadas, na simplicidade e humildade, sempre a mesma
praça, sempre o mesmo jardim, a esperança incrustada no meu ser.
"Esperança: tirar a carne do tempo, deixar o osso do eterno, aliviar as
pernas de tanto andar, nunca ficar passando a noite, madrugada, observando os
idílios".
A esperança não é só a luz pro-jetada ao in-finito, cântico dos cânticos
do ser por verbalizar o acontecer da verdade - que é aquilo que sobe do deserto
como colunas de fumaça? também ela tem o seu pretérito imperfeito, o mais dos
gerúndios que postergam as circunstâncias, mister, sine qua non deixá-las nas curvas
de poeiras que as estradas levam ao vento, alfim nascem num idílio de segundo
de angústias, tristezas, náuseas, medos, vômitos, e tudo à frente são reflexos
de luzes para olvidar o crepúsculo da morte.
Cumpre des-vencilhar os subjuntivos desta esperança pretérita, não
mostrará as perspectivas do absoluto, não a-nunciará os ipsis dos pers de
silêncios e solidões, simples esperança por nada, o nada efemerizando o há-de
perene ser. Esperança trans-lúcida, esperança sem margem que abre os caminhos
para a água, águas seguirem livres e seren-itudináriais... A liberdade precede
a esperança originária da fonte primeva, da vida, vivê-la é o des-velamento do
mistério do silêncio das ipseidades na solidão de peregrinar pelo deserto. A
liberdade tem os seus ases, quatro, de por baixo do punho da camisa
res-ad-jacente à superfície da mesa de jogo.
Então, primeiro ser livre, brincar como criança com as cartas, depois
sentir plena, na mente do ab-surdo o ser em-si mesmo, de estar em verdade à
busca do mais-que-pretérito, do mais-que-infinitivo, do presente mais que nada
da vida em essência da ipseidade do efêmero, dialética do nada e absoluto.
Tripudiar com as cartas das palavras e projectar o
"street-royal-flash", se enganado estiver, as dignissímas excusas,
mas é algo neste sentido do grande valor, revelando a liberdade e a ousadia e
perseguir a esperança do Verbo Ser.
Hoje - que palavra divina é esta! Quê palavra surda do "ab"
particípio da gnose da genesis! Contudo, sinto, verdadeira e espiritualmente, o
espaço do inter aos "stícios" do sempre estar andando, caminhando
re-verso e in-verso às imagens refletidas atrás do ser-espelho das nonadas do
tempo esquecido de memórias, lembranças, recordações do efêmero de ser.
Liberdade! Alfim sou livre, resta-me a esperança ao longo do tempo sob
os longínquos e distantes pre-núncios do nada e da náusea do jogar o pôquer dos
instantes-limites... se me ilumine e consiga re-versar e in-versar aquele
tripúdio com as cartas das palavras, o projecto de ganhar uma partida do jogo
com esta posse de naipes, mas re-versar as palavras de todas as jogadas até
colocá-las nas linhas de páginas...
(#RIODEJANEIRO#, 14 DE JULHO DE 2018)
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