#AFORISMO 947/ FILOSOFIA DO AFORISMO DE ÁGUAS DESCENDO RIOS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
#... se a resistência mora, de hospedar a palavra não esqueça, de
acolher o silêncio lembre-se." (Manoel Ferreira Neto)
Rios descendo águas. Si... Lê... Lê... Si... Lê... Descendo águas rios.
Descendo águas, rios. Si... Lê... Si... Lê... Si...
Se a cítara retinir, o sino sibilar, as taças sussurrarem, númidas faces
deslizaram nas encostas; se o violão tocar “Disparada”, a terra estampa cordas;
se a guitarra retinir “Caminhando”, tapetes murmuram rios descendo águas. Si...
Lê... Si... Lê...
Sonhos. Amanhã... Rumores nas pedras. Pedras não escondem sombras; não
fazem imagens no chão...
Águas descem rios. Lá... Mi... Lá... Mi... Re-presença de música.
Movimentos tecendo curvas na posição de fugidias interpretações. De
escorregadias representações em tablados do nada. Se a mentira habita, reside
nela a sinceridade de arriscar a mão segurando vazios; se o medo reside, habite
nele a lealdade de projetar o olhar apalpando o vácuo; se a resistência mora,
de hospedar a palavra não esqueça, de acolher o silêncio lembre-se.
Rios descem águas. Mi... Ré... Lá... Mi... Ré... Lá... A re-ausência de
sons, ritmos, tons não risca o tempo. Mas o silêncio... Além das Águas escreve
na lousa o giz, no quadro a imagem. Se a cítara tocar “Disparada”, lembre a rua
e o dia de introspecção em que o rosto refletiu na distância, o real; recorde
as experiências gostosas e o desejo de tê-las na retina.
Rios, águas descem. Mi... Ré... Lá... Mi... Ré... Lá... A letra no
papel, as imaginações, no corcovado da folha, descrevem homens em páginas e
seres; no palco, gestos cobrem abismo.
Escrever algo revelando algo da contingência de meu sonho. Brincar com o
esquisito e risível, exercitando a mão para roçagar o tomar da pena. Os
sentidos fornecem prova da verdade. A verdade além da verdade... a verdade
aquém da verdade... e a contingência arrasta-se solene no nada de sua vontade
de conhecimento e sabedoria. Seria necessário negar o conhecimento, de modo a
abrir espaço para a fé?
Descem águas rios. Sol... Lá... Si... Mi... Sonhar... Ai de mim que os
sonhos são prolixos, complexos, em torno a mim se dispõem possibilidade claras
de questionamentos e perquirições inestimáveis, verso novo, efígie lunar, oh
quimera que sobe do chão batido... O sonho era sonho, e falso. Sombra robusta
desce o rio, penetra os túneis seculares.
Se deixo lembranças, se escrevo recordações, “Ando entre os homens como
entre fragmentos do futuro”. Se aqui tento recuperar o passado, que é você,
“Ando entre os homens como entre fragmentos do futuro...”
Águas descendo rios. Não fique agoniado. A agulha deslizará notas. “Fica
mal com Deus”. O som saltará no riso incisivo; amanhã, conte-me as emoções de
ejacular cenas no enviesado, sinuoso, flexuoso. Não poderei mesmo estar aí, mas
aqui o olhar esguicha ondas. E, além, o carinho coscuvilha presenças.
Dó... ré... mi... sol.. fá... lá... si
HASTA A LA VISTA...
A sinceridade existe, quando desejamos que o seja; a sinceridade redige
projetando no proscênio o que somos; rios descendo águas...
Dó... ré... mi... soó... fá... lá...
(#RIODEJANEIRO#, 10 DE JULHO DE 2018)
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