#AFORISMO 617/BRISAS DE CERIMÔNIA DO ADEUS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



Epígrafe:


"No meio dos homens, sempre hei-de ser um esquizóide e um imbecil."(Manoel Ferreira Neto)


Desejo partir
As faces do ser de mim
Tanto queridas e desejadas
Re-fletidas no espelho do tempo,
Do mundo, da terra,
Haverem sido rabiscos in-consequentes,
Ilusórios, imaginários, puras ipseidades,
Dizendo "Au revoir mes amis.
Merci beaucoup",
Mister apenas delinear a mão suspensa no ar,
Burilar o aceno,
Perseguir os projetos e utopias
Na gruta mais íntima da alma,
De onde jamais deveria haver saído,
Buscado a claridade do dia, os raios do sol,
As revelações da natureza: brisa, orvalho,
Neblina, neve,
Não poderia adivinhar não faço parte
Do mundo que se apresenta no quotidiano
Das contingências,
Deste tempo que se mostra de revezes
In-vertidas e perdidas,
Dos versos e estrofes que metrificam
O mesmo mais comum das conjunturas
Históricas e existenciais,
Contudo, sinto ser sine qua non
Descrever de modo sucinto
Os últimos rabiscos das PÁGINAS DE UM SONHO.
Estimo isto realizar em tempo record,
E entrar nos cofres inconscientes da alma,
Lá não mais rabiscar, mas papirar os mistérios do ser.
Virão o instante e o momento,
Uma questão apenas de des-fazer o hábito que adquiri.
Quando escrevo, in-fin-itivo-me à luz de verbos do nada e vazio, não sou versos de utópicos sonhos, estrofes de oníricas esperanças, ritmos, melodias, acordes de poesia exalando sin-estesias, embriagando a alma de volos e desejos do belo sublime, da mística e mítica Verdade, Verso-Uno do Eterno, não me abstenho de angústias e náuseas, renuncio os dogmas e preceitos da redenção e ressurreição.


Quando escrevo, escrevo, sem mistérios, sem enigmas, in-audito o in-terdito de lembranças e memórias do tempo, arranco do inconsciente o silêncio, das palavras a solidão, do ser a erudição do tempo, do nada o vernáculo do in-finito.


Quando não escrevo sob a claridade do dia, raios do sol, revelações da natureza, mas na sombra pálida do crepúsculo visto de dentro da gruta, sinto as linhas vazias carentes de metáforas e metafísicas, e vejo a vida expandir-se por todos os in-finitos e in-fin-itivos. No meio dos homens, sempre hei-de ser um esquizóide e um imbecil.


Luzes, sons e versos
Verbos de conúbios multiplicam sentidos,
Subjetivas inter-pretações culminam de ilusões
Verdades absolutas,
Sonhos esplendem em horizontes diáfanos
Pectivas efêmeras de pers, eclipses versos
Estendem palavras eivadas de inter-ditas significações
Ao longo do tempo longínquo,
Espalhado ao léu além-mar,
Pervagando ventos, brisas anelantes de desejos
Plenos, perenes, perpétuos.


Volúpias, êxtases, clímaces de esperanças,
Abrindo de confins as bordas de arribas,
O astro-sol cochila brilhos incandescentes,
Vaga-lume, lume, lume, incidindo nas sombras
Pingos límpidos transparentes.


"Is" pingados, sombras artísticas, desenhos estéticos,
Re-velando interstícios de nonadas
Fantasias do espírito desejando o ser-gozo matizando
Clarividências, evidências res de pectivas,
A lenha queima na lareira dos sentidos,
As chamas de velas no cantinho fora da janela,
Re-flexando as estrelas na imagem etérea-eterna
De algures e alhures cintilâncias, long-itudes carnais,
Fruto permissivo, desde o genesis de origens abismáticas
Às travessias abissais do eterno-etéreo dos conúbios,
Desde os cânticos divinais da serpente inspirada
Na linguística do não-ser à mercê do ser-não
Alvorecer polar de cadentes astros a compor estrofes,
Tematizando o élan de liberdade quae sera eternitis
Lácias declinações, recitando deuterônimos
Perpétuos de nada...
A mão treme, sente-se pingando de letras e sentidos
O ser-de-mim amando à distância a outra esperança, sonho
Da sílaba que, dividida por hífen, é ser que se faz continuamente
E a continuidade é ponte trans-cendente para a etern-itude-etérea
Para a etern-idade-efêmera da vida-morte,
Trans-estrelada de melancolias, nostalgias, saudades
Do além-verbo-de-ser da con-tingência do aqui-e-agora...


Sou nada,
Sou vácuo,
Sou vazio,
Sou cinzas antes de ser carne e ossos,
Sou o eterno, sou o efêmero,
Sou a morte plena após a vida,
Sou hoje o amor por alguém,
Sou carícias, ternuras, toques,
Sou o eterno deste amor
Que se re-vela de etern-itudes,
Blowin´ in the wind...


(**RIO DE JANEIRO**, 08 DE MARÇO DE 2018)


Comentários