#AFORISMO 643/SONETO AO SILÊNCIO NU - II PARTE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Quem me dera agora tivesse a pena para escrever o pretérito da
solidão!...
Inestimável a palavra que pré-figura imagens do verbo dos tempos
trans-corridos à luz dos instantes de desejos de gerúndios continuando a busca
do eterno in-finitivo de quimeras e sorrelfas inscrevendo no vazio epígrafes
líquidas de imperfeitos sonhos, post-scriptuns de ipseidades registrando no
sentimento de ausência de mim - não me sinto, não me vejo, não me reconheço, o
corpo é simplesmente um despautério; quanta vez presencio isto e não me é dado
saber a origem, não me é dado saber o que precede, uma emoção, um sentimento -
epitáfios de compl-etudes, particípio de utopias e fantasias epitafiando, no
nada esgarçado no cerne do efêmero, idílios e odes projetados às fin-itudes de
vontades e aspirações do absoluto ocaso que é esplendido aos mistérios, enigmas
na noite da floresta às primeiras luzes do alvorecer pleno de outros genesis da
esperança lúdica da espiritualidade, no silêncio trans-lúdico do absoluto.
Inestimável o in-terdito da palavra que a-nuncia, e-nuncia no ser do
verbo de ampliar a inspiração aos ilimites de arribas e algures, quando as
estrelas velam os sentimentos e emoções a evangelizarem a alma, torná-la
vernáculo de estesias e êxtases das peren-itudes do além, partícipe do
crepúsculo, do aquém, álibi da coruja que canta solitária a sabedoria da
etern-idade, cúmplice da águia que esvoaça no espaço a omnisciência das
imortal-itudes, a omnipresença das verb-itudes da memória e do esquecimento.
Quem me dera agora tivesse a pena para escrever o pretérito da
solidão!...
Esplendorosa a metáfora da palavra inaudita que pre-nuncia,
pré-a-nuncia, pré-e-nuncia o tempo dos verbos trans-elevado ao subterrâneo do
espírito à luz das memórias subjuntivas de pretéritos de orvalhos a cobrirem o
campo de centeio da estesia eterna do sempre simples, do sempre natural, da
beleza imortal, perene da vida que se faz de querências e desejâncias de
sonhos-sementes da felicidade, de utopias-húmus da sabedoria, antropologia de
lendas e mitos egrégios da cultura que se perdeu, ovelha desgarrada no
tempo-nada do silêncio sibilando as sinuosidades de im-pretéritos
mais-que-perfeitos, signo, símbolo do há-de vir dos imperativos do
conhecimento, cujo eidos é saciar a angústia da perpetuidade junqueira do
simples, perenidade camoniana do amor, o fingimento pessoano da tabacaria do
nada aberta à noite, por toda a madrugada, para receber solenemente o andarilho
solitário que, à parte a solidão, traz dentro de si todos os silêncios do
verbo, almeja o chocolate da essência-para o nada húmus do eidos-de verbos do
vazio, ócio, o lugar de uma entrega não re-flexiva à mera existência. A síntese
esperando, no fim do caminho, para absorver todos os contrários, eliminando a
estrutura paradoxal da existência humana. O nada desde a eternidade até a
eternidade con-templa o vazio para nutrir a alma de fugas e má-fé do
estar-no-mundo, jogado nas con-tingências e imanências do sofrimento e dores,
equilibrando-se no trapézio das tristezas. Por que sempre acreditei que a
condenação do homem a existir concebe o vazio? Seria mister saber que deuses o
condenaram e os acontecimentos que precederam e deram origem à condenação?
Re-tornando a este instante de "ausência", saio de mim, pela primeira
vez hoje, na madrugada, elucubrei o nada que era antes de existir. O sentimento
de vazio na tenra infância concebeu a busca da existência, fora eu quem me
condenara desde então a esta busca. E por que, após longos anos, consigo agora
verbalizar este sentimento de ausência, se é que posso chamar-lhe
"sentimento"?
Quem me dera agora tivesse a pena para escrever o pretérito da
solidão!...
Místico, mítico, legendário o soneto de palavras que perpetua, pereniza
de versos e estrofes, satirizando a prosa do apocalipse permeado de ingênuas
pers das pectivas retros do sublime pulo de inocência, o uno e o múltiplo do
ser-verbo para a cintilância das estrelas que vestigiam a imagem da luz que se
projeta no vidro da vidraça exposta ao léu da noite que custa a passar,
permeada da lareira imaginária que erradia as chamas ardentes da travessia de
nonadas sorrélficas nuven-itude diáfana do infinito trans-figurado de cores do
arco-íris, após as chuvas de março fechando o verão, encruzilhadas noturnas
ligando o passado ao presente, o amor à tortura, a barbárie da escravidão à
barbárie do nazismo, Paris ao Rio, numa trajetória em que não se sabe mais qual
era a cidade tropical. Após o verão, o outono, após o outono, o inverno, após o
inverno, a estação da primavera, flores desabrochando, perfume exalando, beleza
esplendente configurando os eclipses do sol, aluminando as travessias no
trans-correr de palavras místicas, míticas ao longo da eternidade desde a
eternidade.
Quem me dera agora tivesse a pena para escrever o pretérito à
solidão!...
(**RIO DE JANEIRO**, 19 DE MARÇO DE 2018)
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