#AFORISMO 644/SONETO AO SILÊNCIO NU - I PARTE # - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Pontes partidas...
Frestas à vista para a sinuosidade dos horizontes que mostram imagens
dispersas nos interstícios das perspectivas, nos absintos dos ângulos, no
íntimo dos acordes tri-angulares – "o melhor perfume está nos menores
fracos", sabedoria parisiense -, quiçá a-nunciando a verdade in-consciente
do verbo de tecer sendas ek-sistenciais, veredas con-tingenciais em direção à
vida do eterno desfigurado de dogmas, des-facelado de pecadilhos,
des-entrelaçado do absoluto hades. Quiçá, revelando a in-consciência estética do
sublime de compor o indicativo presente do que a a-mortalidade de princípios e
raízes, por vezes havendo sementes e húmus, do vazio em plena náusea do nada.
Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao
silêncio!...
Frinchas à luz dos linces dos olhos con-templando as linhas kambaias do
universo que desenham in-terditas palavras metrificadas de in-auditos mistérios
do des-nada sonet-ificando as tragi-comédias do absoluto divino, sonet-izando a
sátira lavada dos idílios compactos das sorrelfas subjuntivas do “era” verbo
defectivo da morte pretérita do gerúndio de ser que atravessa as pontes
partidas do jamais-sempre, do sempre-nunca, das arribas im-pretéritas da
essência, metafísica do nonsense, teoria do conhecimento das partícipes nonadas
do eidos-para a sepultura do além, tumba dos confins, mausoléu das arribas,
cárcere eterno do mais-que-perfeito in-fin-itivo, antropologia de lendas e
rituais das florestas onde se abrigam os mistérios, alfim o sem-ocaso à
re-velia do crepúsculo e entardecer da inolvidável sombra pálida do não-ser de
estrofes des-providas de sensibilidade e provérbio do espírito alvorece atrás
da colina coberta de neblina, e com o brilho dia-lúdico do arco-íris quê
esplendor de paisagem!
Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao
silêncio!...
Grimpas à sombra de vernáculos da palavra, linguist-ificando os ditos da
imperfeição, a fala do des-presente dos ideais e utopias, escarafunchando as
poeiras do nada, cobrindo os vazios do sem-nonada, “porfim” do in-concebível da
in-leveza do in-sustentável ser, ser de abas largas que diminuem ao longo das
vivências e experiências, no per-curso da morte para a vida, não a morte luz da
vida-para a perpetuidade, perenidade, não a escuridão da morte-para o aquém do
gênesis. A árvore do ser, por inter-médio das dia-lécticas das nonadas em
direção às pontes partidas carnaval-izam os abismos de ventos, ventos do
redemoinho, ares do catavento, atrás das montanhas que não visualizam o além da
inconsciência da travessia das con-tingências de lágrimas, enclausuradas aos
limites, obstáculos, impossibilidades do ser-para a vida... vida é sentir não a
sua profundidade, despertar espíritos para a realização do sublime amor ao
eidos da espiritualidade, ser vida é templ-orar no tabernáculo do ser o
buraquinho da sensibilidade e espiritualidade.
Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao
silêncio!...
Augúrio apaziguado, vagas plácidas, medos entupigaitados de nuvens
claras e escuras embatem na face das casas, deslizam pelos muros desenhados de
lodo, pichados de letras mortas, escorrem largamente pela terra. O meu
pensamento fosforece. Minhas idéias reluzem-se. Evola-se no ar umedecido dos
pingos de chuva que caíram por instantes, suspende-se o ergo non sum. Estou nu
por dentro, vê-se nitidamente a minha intimidade tímida, envergonhada, e a
inocência é aí, agora ainda, por sempre, na eternidade do instante, e a
ingenuidade é lá, por algum tempo, na etern-itude do momento.
A lua vai alfim aparecer. A neblina alastra ao meu horizonte sem fim,
aos meus uni-versos por serem, os olhos doem-me da nitidez estéril, do nítido
nulo, da aparência frígida, da folha limpa por escrever. Timbre de prata,
flutua. As cordas da lua tremem. Passam a legenda e os anjos, passam os mitos e
as fadas.
Passam os ritos e as bruxas. Passam as lendas e feiticeiras. E as coisas
que deveriam ser resolvidas antes não passam, trans-literalizam-se no tempo,
ficam à mercê das imensuráveis interpretações e jamais haverá uma res-posta
plausível. Que é que isto quer dizer? Ou nada quer dizer? Devo estar velho, a
solidão ec-siste insuportável. Ou quê por ela? De repente a vida ficou muito
mais extensa. Os olhos deambulam muito longe, a longitude da cor-res-pond-ência
entre o horizonte e o infinito, entre a náusea e o sabor da maçã. Tão extensos,
tão longe que tudo atrás fica lendário, tudo atrás é conto do vigário, é
estória da carochinha, profecia de monsenhor. Respiro devagar, trago a fumaça
do cigarro lentamente. Como se me balanceasse o corpo ao ritmo sereno do
universo. Noite ofegante, olho-a. Pela janela, ao alto, sobre o negrume dos
pinheiros, silencioso céu. Estendo-me na rede, extenuado das memórias do dia,
do cão que latia incansavelmente por estar preso pela corrente, do barulho da água
que enchia o tanque de lavar roupas...
É no silêncio que vivo, aprenderei outra linguagem? É na solidão que
prolongo os dias, aprenderei outro estilo? Não há palavras ainda para inventar
o mundo novo. Não há sentidos ainda para revelar o outro dos sonhos, utopias,
dos verbos que hão-de ser. Estou só, horrivelmente povoado de mim. Valeu a pena
viver? Valeu a pena trilhar as estradas de poeira? Valeu a pena passear pelas
manhãs, con-templando as folhas verdes umedecidas do orvalho da noite? Matei a
curiosidade, vim ver como isto era, valeu a pena. É preciso que tudo
des-apareça para que tudo possa re-construir-se - re-construir-se através de um
"deus único", um "deus final". Não sei ainda a linguagem do
mundo que terei de re-inventar, o estilo da ec-sistência que terei de re-criar,
a forma da imanência que terei de re-fazer.
Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao
silêncio!...
Astros submersos - a maior loucura do mundo se explica por certo modo de
perder esta outra cena, e o fantástico não é outra coisa senão a dissolução da
fantasia. Terra estéril, sobrevivente eu. Clamo a morte do homem, rogo o fim da
raça, anuncio a sua vinda. Choro meu de alegria, ó anjos da nova pura. Riso meu
de tristeza, ó querubins da nova inocência. Cântico dos anjos da anunciação,
dos anjos das trevas e do desastre, os sinos nos domos das igrejas, basílicas,
catedrais, bradam para o vazio do mundo, para o nada dos confins do infinito.
Virgindade do meu sangue, um Deus Menino vai nascer. Os deuses nascem sobre o
sepulcro dos deuses.
E
C
O
E um silêncio longo, feito da neblina ao longe, encobrindo a montanha,
da cidade sepultada em solidão, do cerco à volta do espaço para além, abre-me
de um abandono final - o de quem está ao pé e já nem se olha, já nem se sente,
já nem se vê, já nem se vislumbra. O espaço esvazia-me até ao limiar da
memória, onde alastra o meu cansaço, o afago quente de um coro, o aceno de
sinais que se co-res-pondem como ecos de um labirinto. Num bafo secreto, afloro
o que estremece sob os gestos alfim apaziguados.
Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao
silêncio!...
(**RIO DE JANEIRO**, 19 DE MARÇO DE 2018)
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