#AFORISMO 672/ - DE NADA AOS PRETÉRITOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



De nada os favores con-cedidos, con-sentidos livremente por não havido haverem modos outros de realizar as intenções de esplender as utopias do sublime além das fronteiras da con-tingência.


De nada os obséquios lançados, pro-jectados aos limites do in-olvidável por eles sido haverem perfeitamente luzes no subterrâneo do espírito, iluminando as alamedas das idéias, pensamentos para a consagração da liberdade, da consciência que percorrem os tempos sob os ventos das ipseidades.


De nada as boas ações patenteadas no sentido de as dificuldades, dores e sofrimentos não se estendessem para além das angústias, tremores, temores, a continuidade das querenças e desejâncias fosse possível, sentir pudesse a estrada de por baixo dos pés, o destino qual seria, como estaria existindo as conquistas e no travesseiro o sono da consciência tranquila, comedida, calma, serena.


De nada as finesses das palavras, re-presentar, simular, dissimular, mentir fizeram-lhe pensar e sentir re-velava sentimentos inéditos, que abriram as persianas dos sonhos, venezianas das entregas, poder ver-lhes puros com a sensibilidade, ler-lhes com sabedoria e perspicácia. Nada re-velava, as re-presentações foram em demasia chinfrins, mostravam as ausências de verdades na fala, gestos, atitudes, comportamentos.


De nada a compaixão tão sensível, tão presente naqueles instantes em que a noite se presentifica e não se vê única estrela no céu, tudo escuro, as luzes dos postes na rua apagadas, perdição e desolação, nem mesmo se haverá outro alvorecer, não entendido havendo os silêncios da alma, li-os uma "performance" da hipocrisia, alfim não sou destrambelhado, enxergo bem as coisas, a perspicácia habita-me com toda a prepotência de seu ser.


De nada a solidariedade dos três tapinhas nas costas, desejando-me boa viagem, não esquecendo de que o futuro assina os papéis do retorno, as palavras jamais pronunciadas com tanta pujança, uma surpresa, de que não procuraria ninguém e ninguém teria quaisquer notícias, naquele momento uma despedida sem limites e fronteiras, o sorriso, o olhar de esguelha, e subindo os degraus do ônibus o aceno da mão, os esgares faciais de alegria, o nunca mais. Nada vence a consciência da solidão: a existência consuma-se na sabedoria de que a solidão é a essência do ser, a existência fundamenta-se nas concepções e gerações da liberdade, conquistas que a impulsionem a outros re-versos do verbo.


De nada as lembranças e re-cordações de que a moldura do retrato é confeccionada no tempo, apesar das dificuldades, tinha a sobrevivência, dizia não o olvidaria, residia-lhe a razão das coisas, mister haver o jogo da farsa e da atitude, a liberdade estava em questão, a diferença se a-nunciava vislumbrante, há sempre outras sendas a trilhar serem, muito fácil isto a acomodação, e nos silêncios do medo a cor-agem sendo gerada noutra circunstância e situação, a última viagem sem retorno, nada ao menos fisgava do que era verbalizado nas ações e comportamentos, não lhe habitava esta percepção de mim, quisesse ou não con-sentir, autorizar o intelecto faz grandes diferenças, um tolo e imbecil, sem consciência da vida, quem?


De nada os sorrisos e esgares faciais nos encontros, quanta tentativa de sentir as coisas, quanto desejo de a palavra dizer o que desejava, ria-me da imaginação de que no picadeiro, quadro dos palhaços, nem o cão vira-latas abanaria o rabo diante da ingenuidade e inocência do espetáculo, sairia ele de rabo e cabeça baixos, envergonhado de sua condição de cão, suas reações eram de humanos, dizendo-lhe: "Sente o que pensa e pensa o que sente. Em nossos encontros sempre o semblante, a fisionomia, os olhos faiscando para mostrar os sentimentos profundos..." Conhecia-o atrás do que re-presentava, a hipocrisia inerente à alma.


De nada a consciência de que os sonhos de saber o que habita a alma humana, as suas verdades, são realizáveis, e consciência de que o sol não teria qualquer brilho nem raios nem numinaria os sentimentos sem um coração a pulsar, borbulhando sentimentos, sem outro coração batendo a indiferença ao que há além das curvas, das serras, o mesmo cobrindo, envelando todas as coisas, a vida murcha e seca; e uma consciência que não agradece pelas boas ações com o digníssimo "muito obrigado por tudo", fá-lo-ia sentir-se solidário, humano, portador da humanidade do ser, mas que diz "de nada", por merecer a aprendizagem do que é isto - superar as dores, projetar o amanhã, merecia o prazer, a satisfação, a felicidade de existir, apesar de tudo a vida continua a sua trajetória, a maturidade do intelecto não faz apenas diferença, não é apenas uma questão de liberdade, os laços familiares ceifados com perspicácia e conhecimento, o vento leva o que atrás ficou, a maturidade do intelecto é a projeção do verbo no espelho do ser, a imagem a ser delineada no Canson, O Retrato, um dia será mais importante do que a pintora e o homem.


(**RIO DE JANEIRO**, 31 DE MARÇO DE 2018)


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