#AFORISMO 503/O NADA É MAIS IMPORTANTE QUE A BÍBLIA# - GRAÇA FONTIS: ESCULTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Nada.
Vazio.
Efêmero.
Vazio efêmero, tudo parece muito estranho, tudo é in-concebível, tudo é
in-inteligível. Nada vazio. Mas quem pode afirmar a critério e rigor que o nada
é cheio de vazio? Ao re-verso: o cheio é nada? Não é cheio nem de si mesmo. Não
é vazio nem do "si-mesmo." O que habita o nada são o vazio, a
liberdade, são-lhe o eidos, por mais estranha, escalafobética, disparate,
despautério seja a idéia. Há-de se enfiar por inteiro nos miolos, espremer-lhes
para conceber a noção disto.
Papel aceita tudo, então... Se o nada não fosse vazio, virar-lhe-ia as
costas, julgar-me-ia ensandecido, dando-lhe todas as atenções, creditando-lhe
todos os méritos de ser pedra angular para o ser. No século XXI, não teria o
menor sentido. O ser se perdeu no tempo, esvaeceu-se na história. A humanidade
já se encontra no abismo, daqui para frente é cada vez mais mergulhar nele, até
as pre-fundas da consumação dos tempos. Como é comemorar um Ano Novo, todos os
objetos de prazeres, volúpias, bebidas e comidas as mais exóticas nas pre-fundas
do abismo? Chamomo-lo BANQUETE ABISMÁTICO. Depois do banquete, serão trezentos
e sessenta e cinco dias abismo a baixo. Descobri quando os abismáticos
descansam um pouco da queda no abismo: no Revéillon!
O não-ser não é o nada e o nada não é o não-ser. Nada efêmero. A cada
passo o nada se efemeriza, a busca do ser torna-se outra conforme as situações
do mundo, conforme os sonhos e esperanças do indivíduo. Se o nada se
absolutizasse, os homens estariam todos com os pés presos no mata-burros,
empacados por todos os milênios. Conheci um jovem cristão do "papo
roxo", quem tinha aversão pelo nada, estremecia-se só de ouvir esta
palavra; tal ojeriza dizia-se respeito ao Cristianismo, era-lhe a pedra angular
da Vida e do Ser, porque inconsciente vangloriava o nada, através dele
glorificaria ainda mais o orgulho que lhe era inerente, orgulho de família. À
luz do nada, a humanidade desde a eternidade caminhou, peregrinou, a estrela
guia. O nada lançou um mundo real do Ser contra um mundo tão só aparente do
devir. Se a caravana dos ideais, sonhos, esperanças, utopias perdeu os freios,
burros e cavalos que a conduzia, a responsabilidade não deve ser atribuída ao
nada, mas às interpretações, análises, opiniões re-versas e in-versas que foram
realizadas - resgatar, recuperar interpretações, opiniões percucientes fazem
mister restituir a sensibilidade e todas as dimensões sensíveis dos homens e da
humanidade. Quiçá não seja trabalho de Sísifo, embora isto vá custar a
acontecer. O Nada é mais importante que a Bíblia - e não me venham dizer que
retirei isto da fala de Lennon serem os Beatles mais populares do que Jesus
Cristo -, queira-se ou não é a luz da vida do ser, quem o compreendeu e
entendeu, trans-cendeu a lápide, trans-elevou o epitáfio, eternizou-se. Hoje,
descansa no In-finito, curtindo as belezas do uni-verso, nada daquelas
maravilhas do paraíso celestial, lugar de humildes e temerosos a Deus, lugar de
quem abaixa a cabeça, tira o chapéu às ofensas, Deus é a Justiça Suprema.
Seja eu sincero e verdadeiro. Os dons e talentos para vencer as
con-ting-ências da vida me foram doados desde a concepção, por que colocar nas
mãos de Deus as dificuldades, cabe-me a entrega às lutas por tudo vencer, o
resto é silêncio, mistérios e enigmas do estar-no-mundo. Jamais serei crente ou
descrente a Deus. Fique Ele lá em cima, fico eu aqui no mundo. Seja ele eterno,
seja eu mortal. No Juízo Final, pingaremos os nossos "iii".
Nada.
Vazio.
Efêmero.
(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE DEZEMBRO DE 2017)
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