#AFORISMO 482/SONHO SEM PALAVRAS - VERBO DO SER# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Só sei de mim...
Só sei de mim...
Só sei de mim...
Há tantos sonhos, em mim, que, por vezes, penso e sinto que não são
verdadeiramente sonhos, sim a vida em suas dimensões contingentes e
transcendentes todas.
Todos os artífices das palavras têm seus sonhos: escrever este ou aquele
texto, este ou aquele poema. Escrevo este ou aquele texto a qualquer instante,
é só ter a pena em mão. Componho este ou aquele poema, só ter os sentimentos e
emoções nas mãos feitas concha, forem a expressão de minha sensibilidade, de
minha sentimentalidade, de meu romantismo. Um "cara" louco que
brincou, dançou com as palavras à beira de fogueira, pintou o sete com elas,
pintou-as de sete. Não saberia mentir com o amor em mãos, revelar amor sendo
apenas a poética com esta ou aquela linguagem. Para ser com efetividade
"cara louco" há de ser a síntese do "cara" e da
"loucura", nas letras há de arrancá-las de dentro, e sentir o além da
"loucura" bem profundo, afiá-la, burilá-la, ornamentá-la,
artificiá-la, arrebicá-la, performá-la, a-graçá-la, a verdade da loucura, a
verdade do cara. Sou apenas a loucura, e loucura des-compassada, o
"cara" começo a senti-lo distante, na continuidade do tempo este será
o "cara", e em síntese com a loucura, quê loucura!
O maior sonho é escrever poema ou texto sem palavras, sem termos, e
todos lessem como se poesia fosse, como se prosa fosse.
Não posso fazê-lo. Não existe poesia ou literatura sem palavras. Mas
felizmente posso no sonho sonhar sem palavras escritas. Posso sonhar ao lado de
alguém re-costado no parapeito de uma janela, num crepúsculo. Posso dizer a
este alguém: "Esta é a vida que desejamos, mãos à obra." E emocionada
com estas palavras, este alguém se distancia do parapeito da janela, indo ligar
o aparelho de som, colocando a música SKYLINE PIGEON. Toma-me pela mão e
começamos a dançar. Deitada no meu ombro. Olho através da janela o crepúsculo,
em mim tantos sentimentos, tantas emoções.
Sou agora um estranho num momento estranho de minha vida. Sonhei um dia
compor um poema sem palavras, sem termos, um poema branco numa página límpida,
virgem. O poema não me foi possível, mas sonhei sonho de amor, sonhei sem
palavras um sonho de palavras ditas à luz de sentimentos e emoções os mais
profundos, saindo dos interstícios do ser. Poderia até tornar esse sonho poema
com palavras, metáforas, mensagens espirituais, mas prefiro guardar este sonho
em mim, viver este amor em mim, viver esta luz que ilumina os caminhos por onde
estarei trilhando.
Só sei de mim...
Só sei de mim...
Só sei de mim...
Mim não é palavra. Mim não são metáforas. Mim não são estesias. Mim não
escreve poema. Mim não escreve prosa. Quiçá Macunaíma pudesse ensinar-me esta
façanha, proeza! Mim é apenas pronome oblíquo referente ao "eu",
pronome do caso reto.
Poeta não sou, não escrevo poema sem palavras, sem termos. Mas sou homem
que sonha o Ser sem palavras, apenas a espiritualidade, a sensibilidade.
Sonho o Verbo do Ser...
(**RIO DE JANEIRO**, 06 DE DEZEMBRO DE 2017)
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