AFORISMO 495/KAYROS: À LUZ DO SILÊNCIO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Kayros
Tempo de chegar à chocante conclusão de que este mundo se resume a um
turbulento devir, recusando-se a condenar o mundo como culpado, os outros
algozes e proclamar a inocência. Aceitar o mundo, admitir as coisas da vida,
escalafobéticas, con-sentir o mundo é como é, mas o celebrar como uma inocente
e ingênua brincadeira das situações e circunstâncias, tempos e conjunturas.
Afirmação da vida - tão simples assim!
Kayros
Tempo de re-fazenda - se o amor não realizou o eidos da trans-cendência
verbal de sentir o espírito da alma, degustando o sabor divino do sonho eterno
do sublime, re-fazê-lo de esperanças outras, con-templando-lhe o sublime dos
sentidos.
Kayros
Tempo de re-novação - se a estesia da alma do espírito não inspirou o
verso uno da felicidade, a uni-vocidade do prazer e êxtase pelo feito, não foi
a seiva do ser, o cerne do inconsciente divino na trans-lucidez do lúdico, não
despertou o núcleo da sin-estesia do belo, pureza da beleza, re-nová-la de
outros desejos das metáforas do absoluto, de outras vontades do prazer da
liberdade que voa horizontes e uni-versos perscrutando os interstícios
eidéticos da plen-itude, de outras volúpias da etern-idade que esvoaçam as asas
sobre as águas vivas do mar, it dos recônditos do que transcende a vida, sobre o
silvestre das florestas, sobre o vento ad-vindo das profundezas do abismo à
busca da solenidade de alhures, que ad-stringe e ad-nomina os crepúsculos do
ocaso com a madrugada que a-nuncia o alvorecer de pássaros trinando os sonos de
outras metáforas no sonho de vida.
Kayros
Tempo de sentimentos - queria estar chorando lágrimas ad-vindas de dores
e sofrimentos da existência plena de luzes que deixei nas sombras do picadeiro,
sítio do uni-versal sonho das alegrias, sob o trapézio solitário inerte no ar, mas
verto gotículas ardentes de esperanças e sonhos, alegrias e utopias por saber
intimamente nos interstícios da contingência as estrelas brilham na solidão da
noite para depois, na aurora, os raios numinosos do sol brilharem no arco-íris
das imanências, queria do pretérito, sem etiquetas, diplomacias, uma entrega
simples dos "trechos" que ed-ificam, artificiam o hodierno, para
des-abrochar na minha incumbência e ec-sistir à baila das dialécticas,
contradições, absurdos, à dramaturgia dos nonsenses, doenças da mente,
con-tingências das condições, peregrinar pelos becos, na convicção de um
espairecer as idéias.
Kayros
Tempo de criação, recriação, invenções, imagens, cores, letras -
desejava estar con-templando-as, vislumbrando-as, sentindo o íntimo eivado de
alegrias, contentamentos, a querença de ampl-itude, esplender ilusões,
de-lusões, o sentimento presente da con-templação, sê-lo no sendo-a,
vice-versa, a magia, a declaração afirmativa da vida das buscas, dos desejos e
vontades - "a vida é bela", diante de seus horrores e tumultos todos,
superar a mim próprio, ir além de mim; desejava residir a claridade deste
agora, deste instante-limite, momento, o instante de hoje, como se fosse breve
a-nunciação de algo no íntimo, como se fosse o movimento do tempo,
o-ir-ele-passando, os sentimentos breves de a-nunciação deixaram vestígios - se
revelando, pensamentos, idéias, ideais, a verbalização, estar sendo no
quotidiano o que sinto e posso dizer com clareza, andar de mãos e pés juntos,
as utopias presente.
Kayros
Sem amor, as esperanças são perdidas,
Sem carinho, os sonhos são vagabundos,
Boêmios, à-toas, andantes,
Sem entrega, a fé são efemeridades.
A fé na sua accepção é uma dimensão divina, é a que o homem experimenta,
sente a sua relação com Deus; a fé fecunda, a fé febunda, a fé besta, a fé
basta, a fé que sensibiliza mais as mãos para regenciar os verbos para frente,
projectar as regências ao que há-de vir, hei-de ser-me, ouvir-me, essa a fé que
empreendo na jornada da ec-sistência.
Essa é a vida que sempre habitou o eidos de minha sistência pelo ec/ek,
sempre sonhando em palavras versificadas estrofes, versadas versos/verbos, e na
alma do espírito vou seguindo com o amor verdadeiro de minha vida, o que
concebeu no meu ser o sublime da plen-itude, o pleno de minhas sublim-itudes, o
amor que me revelou a felicidade de querências do êxtase de ser amado à luz do
silêncio a cintilância do abraço e beijo no amor feliz. Kairos... Kairos...
Kairos... Kairos possui faces, rostos, semblantes, fisionomias, maquiagens de
arte e largadas, um incumbe-me, outro impingi-me aos devaneios, desvarios,
viagens florais astrais, e senti-los no mais recôndito dos interstícios da
alma, eivar-me de seus perfumes, refletir, refletir, em movimento, deixar as
coisas rolarem livremente, criar o destino, outro silencia-se.
(**RIO DE JANEIRO**, 23 DE DEZEMBRO DE 2017)
Comentários
Postar um comentário