MARIA ISABEL CUNHA ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ANALISA O AFORISMO 580 /**ASES VELAM O PÔQUER**/
Quatro
ases, naipes diferentes, como diferentes as suas conceções do belo, mas todos
ascendem na sua trilha, na descoberta do mesmo , na sua poiética, na sua
dissecação. Os quatro buscam a essência do mesmo. Um dos ases fá-lo através da
dialética, do intelecto, na busca contante do espírito e da alma, outro faz a
pesquisa no silêncio e na dor, outro procura nos seus sentimentos inauditos,
inexplicáveis, outro procura-o em horizontes e universos longínquos. Todos com
um traço comum, a definição do belo. Os quatro singulares na sua demanda. O
infinito será ou não alcançado pelos quatro ases. Os quatro ultrapassam
momentos de angústia, de falha de inspiração ou desânimo próprio do explorador,
mas não desistem. Hoje, são "folhas mortas" mas que poderão servir de
húmus a outros ases, a outras diretrizes, a outras perspetivas e "
exalarão perfumes deliciosos, luzes para embelezarem a natureza e extasiarem os
olhares". Grande a responsabilidade destes ases que cortam os ares como o
condor e a águia, mas que não podem soçobrar, pois perder-se-ão as suas penas
no infinito que pretendem alcançar. Falta aqui mencionar o ás do mestre que
sobrevoa e que faz de ponta de lança ou guia, para que os quatro não se percam
na porfia, papel executado com maestria pelo autor do texto. Excelente. Um
louvor muito especial ao autor da ilustração, em absoluta consonância com o
texto como sempre. Parabéns.
Maria
Isabel Cunha
#AFORISMO
580/ASES VELAM O PÔQUER#
GRAÇA
FONTIS - PINTURA: #O JOGO#/ARTE ILUSTRATIVA
Manoel
Ferreira Neto - AFORISMO
Lágrimas
velam as estrelas sejam cadentes, sejam cintilantes - "Águia, conduza-me
por uni-versos e horizontes...", "condor guiai-me por in-finitos e
in-fin-itivos dos verbos, a estilística meta é a luz do gerúndio per-fazendo
outras dimensões e ângulos da tangência do espírito e da alma -, sentimentos
indizíveis, in-explicáveis, emoções in-auditas, in-inteligíveis. A outra
dimensão da alma, concebida e gerada à mercê do tempo de ventos, dada a luz por
inter-médio dos mistérios e enigmas da solidão do silêncio no instante de
lazer.
Tempo
de travessias.
O
que é isto - ec-sistir? É engalfinhar-se na teia de aranhas das decisões e
consequências que o homem "des-enleia com a exultação e a erudição do
habitar." Nesta inspiração que compõe esta baila, floresço, apesar da
quimera que é o seu eidos, floresço, teço alamedas e becos para as verdades
nostálgicas e dúvidas ancestrais. Avisto no Éden as exíguas constelações do
medo e da fuga... - o que é isto a aura surdir com sua aparência magnificente
nas sombras das idéias e dos sonhos?
Tempo
de metáforas versejando a noite ao longo de sua passagem ao alvorecer, versos e
estrofes inscrevendo nos ideais o som do "Ser" que se ritma e melodia
de querências e volos do eterno, lágrimas descendo faces, velando estrelas que
cintilam os silêncios do vir-a-ser. Tempo de metafísicas das turvas
elucubrações desorientadas havendo inúmeras passagens em que se re-vela um
segredo secreto, vontade cansada e incerta de pregar um verdadeiro retrocesso,
de pregar a con-versão, a negação das facticidades e ipseidades e dizer com
todas as letras na ponta da língua em riste: "Procurem a salvação noutra
parte."
Lágrimas
de alegria?
Emergir
de um desvario,
florar
de um devaneio na floração
de
um desejo,
não
da demanda de um revérbero
em
algum reflexo
na
imagem dos sibilos do tempo nos ventos.
Lágrimas
de felicidade?
Con-templar
ao longínquo, ao distante,
a
fragrância do in-cógnito,
Lágrimas
por o celeste estar
re-vestido
de tanta beleza,
beleza
pura,
beleza
inocente,
beleza
ingênua.
Noite
- noite sim!
Instante-limite
da alma
que
sente
o sentimento do vazio,
nasce
um sonho
de
verbo
que
regencia a liberdade.
As
perguntas, para as quais não há
res-postas,
são
apenas chamas de achas
das
utopias, vontades
do
Ser,
endossam
os limites das
possibilidades
humanas,
traçam
as fronteiras
da
ec-sistência.
Mas
não é momento mais lindo, mais mágico? Princípio do alvorecer, genesis do
amanhecer, quando a vida sente no espírito o boreal de sua glória, voar, voar
por todos os horizontes, realizando sua essência, o "Ser" em todas as
suas dimensões contingentes e trans-cendentais. Na penumbra, na poeira e na
fumaça, parecem muito mais re-vestidas de perspectivas a serem in-vestigadas e
avaliadas.
Lágrimas
velam as estrelas. Estrelas são veladas por lágrimas.
Elucubração...
Fantasia...
Imaginação
fértil... Nada de falta de inspiração, nada de palavras haverem-se re-colhido
para renascerem outras. Esvaeceram-se. Secaram-se.
O
meu sacrifício é re-duzir-me à existência pessoal. Fiz do meu prazer e da minha
dor o meu destino disfarçado ou o disfarce foi o destino da dor. E ter apenas a
própria existência é, para quem já presenciou e viveu as lágrimas, velar as
estrelas. Mister tenha a modéstia de existir. Quiçá o que sou faculta a garra
de coalhar-me num AÍ, caracteriza uma INTELECÇÃO.
Nada
há que se possa considerar nestas linhas preenchidas, contudo ficará
registrado, testemunho de quê? De nada, em verdade. Não vou jogar fora algo que
me custou angústia sem limites para ser produzido, ao longo dos ventos o
vômito, ao longo do tempos, a náusea, não vou desprezar o quão refleti e pensei
sobre estas lágrimas que velam as estrelas. Há coisas que nascem póstumas,
tenham ou não valores que endossem, a posteridade que cuide de jogá-las fora ou
re-colhê-las.
O
ás do pôquer,
Que
esplendorosa e esplendente
jogada:
quatro ases,
naipes
diferentes,
o
desejo da jogada consumada,
é
a perspectiva
da
outra jogada,
é
o sortilégio de cortar o baralho,
a
etern-idade não é a poesia da luz,
a
etern-itude não é a poiética da sombra,
a
etern-escência não é a poemática
da
contra-luz, da luz,
da
contra-sombra, dos raios de sol,
é
intenção do jogo a glória
da
harmonia
entre
a dialéctica das sombras
que
ventos perpassaram,
e
o diá-logo mon-ológico
dos
abismos do ser
desejos
da palavra
que
superou e suprassumiu o silêncio,
o
que ela exorta com a sua magia,
o
que ela expele na fumaça do cigarro, efêmero,
o
que ela exulta com a estética da expressão do estilo,
o
que ela concede des-abrochar de prazer e náusea,
alfim
as sensações de beleza, de belo,
carecem
da exultação das sensações do Ser,
carece
do exalar o ser das con-tingências.
Deixando
de lado palavras secas, falta de inspiração, ausências de molhados sonhos de
desejos totens e totens de vontades, as palavras se re-colheram para
re-nascerem outras, sendo hoje tão alheio, tão disperso, tão inexistente no
tempo e existente neste ínfimo e esvaecente sentir seus tempos, nada me diz
quaisquer respeito, tão indiferente, se o abismo se trans-cender, tornando-se
paisagem no In-finito, estou-me nas tintas, pouquíssimo se me dá. Já-já o
anoitecer, virá o sono, estarei dormindo.
Aquela
velha e eterna coisa: "Amanhã será outro dia..." Murmúrio eleva-se,
mas desta vez dá margem a sentir que traz em seu bojo segredos e mistérios.
Folhas
secas caídas, húmus para outras, serão concebidas no tempo - flores, exalarão
perfumes deliciosos, embelezarão a natureza, êxtases dos olhares.
Folhas
secas no chão hoje.
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