MARIA ISABEL CUNHA ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA O AFORISMO 566 /**SENHORA FONTE DAS GRAÇAS**/
Neste aforismo, o autor faz um regresso às suas origens, à sua raiz, ao
passado e agradece de mãos em concha todas as lágrimas, sonhos, amores, e chega
à conclusão que tudo serviu para a continuidade da vida que se anuncia agora
calma, dourada, brilhante, porque tem junto de si, a sua amada,Senhora Fonte
Das Graças, raio de luz que o tranquiliza e ilumina. A imagem da Senhora Das
Graças ilustra este trecho com a magnificência do mesmo. De tão bela, permaneço
bastante tempo a contemplar tal maravilha de arte. Parabéns aos dois amantes
das artes.
Maria Isabel Cunha
A polêmica está no ar. A intenção de causá-la foi e está concretizada.
Em primeira instância, a análise toca sine qua non o abismo da obra: sim, é um
regresso às origens, à raiz, ao passado, uma in-vestigação, avaliação da
existência no tangente à continuidade das aquisições, realizações, sonhos,
esperanças e utopias, às angústias, tristezas, fracassos, alegrias. Sim, é um
agradecimento às lágrimas, sonhos, amores, pois que foram eles a pedra angular
da consciência, do saber, do conhecimento. Tudo foi importante na construção do
"existir". Agora, não se pode dizer, após esta in-vestigação,
avaliação, a vida se anuncia calma, dourada, brilhante - considerar isto seria
o mesmo que dizer "Estou pronto e acabado", e não estou, ao
contrário, inda estou por ser feito. Pode-se dizer que seivado da consciência
do estar no mundo diante das tempestades, intempéries é solo para
aprofundamentos inda mais conscientes, para buscas inda mais invisíveis,
inauditas.
A grande questão do texto Senhora Fonte das Graças que suscita a
presença de minha esposa e companheira das artes, Graça Fontis. Há-de se
considerar veemente o legado dela na minha vida, são muitas as transformações.
Mas a obra não se lhe refere, assim como não se refere à Nossa Senhora das
Graças. A fonte das graças são a CONSCIÊNCIA, A LIBERDADE, estando elas
intrinsecamente ligadas, comungadas, aderidas, koinonizadas ao pensamento
filosófico, às artes, sem isto elas não teriam sido possíveis, não se
realizariam em nível transcendente, permaneceriam contingentes, seriam apenas
corrimão da ponte suspensa no abismo para a travessia ao outro lado. Agradeço
de mãos feitas conchas a presença da Filosofia nesta caminhada existencial. A
imagem é representação da Graça, ou seja, Senhora Fonte das Graças são a
Consciência e a Liberdade.
A análise não está equivocada, adulterada, errônea, há o que se
considerar verdadeiro nela. Ela abre caminhos para outras investigações, é a
luz para trilhar as sendas e veredas. Sendo que tive a intenção de criar
polêmica, as análises tergiversarem para a presença de Graça Fontis, para a
presença de Nossa Senhora das Graças, cri ser fundamental, sine qua non
esclarecer o que a obra traz no seu bojo. O autor não é mais do que a condição
primária de sua obra e a obra é sempre muito mais do que ela revela.
Muchas gracias, Maria Isabel Cunha. Abraços nossos.
#AFORISMO 566/SENHORA FONTE DAS GRAÇAS#
GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Para que o silêncio ressurja, o olhar suspenso, a aflição dos espaços, a
surdez absoluta da montanha, o intocável da noite se revelem, é necessário
transpor o limiar do imediato e aceder às origens de mim, aí onde a
consistência se dissolve e a eternidade se desprende da sucessão do tempo, e o
meu olhar se descola da apreensão do ontem e do amanhã, das situações e
circunstâncias que me algemaram ontem, que me libertarão amanhã. Suspensos os
meus olhos, o meu ser, um arroubo alevanta-me, vertiginoso ergue-me e o espaço
abre-se da comunidade de mim com o espaço sideral, o alarme e o augúrio, o
sufocante mistério, a profundidade da noite.
Na mesma concha das mãos,
Con-templamos,
Vislumbramos,
Des-lumbramos,
A-lumbramos
as cores vivas da natureza, e do ar o invisível,
inspirar nelas para construir
outras realidades,
considerar dádiva de viver.
A verdade é imagem
Nua,
Crua,
A imagem de pouca razão
Rota,
Baça,
Às vezes enganação
Sufoca,
Condensa.
A imagem é pers-pectiva
Do olhar percuciente
Do que habita a intuição
Da verdade,
Do que reside na busca
Do ser
De sonhos e utopias,
Do que há nos recônditos
Da alma,
Do íntimo,
Delineada no desejo
De sua perfeição,
Liberta o coração
De suas algemas e correntes
De sentimentos de não.
O abismo, onde tudo a pó se reduz,
Tão fundo que nem o eco aí segue a sua lei,
Ante meus olhos serenos...
A voragem,
Que não tem cimo e que nem sequer tem margem,
Ali está, sombria, imensa; nada nela mexe.
Perdido no mundo infinito eu me sinto.
A verdade é eco sombrio
Triste, sem razão,
Alegre brio do viver,
Do viver passageiro,
Da morte eterna.
A vertigem
Que não tem essência e tampouco possui centro
Quiçá no limite das forças e dos poderes
Haja-se aboletado
Surpreso no mundo das contingências encontro-me
Indagando e perquirindo,
Se em verdade superei as agilidades e habilidades
De ver-me, con-templar-me
Sob di-versos e ad-versos prismas,
Ou se suprassumi a vida,
Ora, se me dá...
Quero-me vida, quero-me efêmero...
Do antiqüíssimo de mim, onde têm raiz todas as rosas de maravilha, todos
os lírios de magia no branco de suas pétalas, todas as samambaias de puro
verde, balançando à mercê do vento que passa, após o sibilo dele entre as
montanhas, cujos odores são esperanças que amo, porque as sei fora de relação
com o que há na vida, uma vontade estranha, oculta, e deliberada de verter
lágrimas quentes e fáceis, talvez porque a alma é infinita e a vida, finita,
talvez porque a fé é horizontal e a vontade dela, vertical, na uni-versalidade
dos ponteiros do relógio que se movimentam lentamente, a-nunciando o porvir de
outros amores e sonhos nas bordas do tempo, o vir-a-ser de outros projetos e
objetivos a serem cumpridos para a continuidade da vida e a feitura do ser, no
canto da coruja em madrugada alta, no voo do condor no pálido crepúsculo de uma
apaixonante sexta-feira de quaresma, a querência dos verbos nos sonhos de
fin-itude, nas utopias de eternidade, na cont-ingência da morte e do
esquecimento.
Rompe, em claridade, o madrugar, dissolve na bruma o raio fugitivo e a
natureza chora gotas de sereno cristalizadas, observo eu da sala de estar,
olhos ensimesmados e questionadores, o tempo ensimesmado, e ainda penso como
será o amanhã no aceno da memória; no picadeiro do sonho, raio de luz passeia nas
ruas e avenidas, solto, brinca no jardim ensaiando cânticos na primavera
noturna da ilusão, quiçá no outono do dia da verdade e do absoluto, em vigília
a essência do olhar, o ser dos sentimentos que perpassam a vida em busca de
evangelhos do amor e paz, em busca da EFEMERIDADE.
A compaixão surge na existência contínua, cíclica, com grandes fontes de
alegria como a misericórdia, o que desejo é que ilumine a todos como tem
iluminado a mim, e deito tranqüilo e sereno, sonho paraísos, sonho florestas
silvestres, sonho sendas perdidas, sabendo que vós, Senhora FONTE DAS GRAÇAS,
estais junto a mim em todo instante.
(**RIO DE JANEIRO**, 31 DE JANEIRO DE 2018)
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