#AFORISMO 583/RIBALTA DO VERBO E DO SER# - GRAÇA FONTIS: PINTURA(#TÍTULO#O SER E O NADA#)/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Venho
do nada, a minha genesis é o nada.
Nada
sou. Nadificando tristezas, angústias, vers-ifico o sonho do In-finito, sentir
a presença do que me trans-cende, ser livre, do nada à verdade de mim, da
verdade de mim. Nadificando instantes-limites, absurdos, nonsenses, palavro
algum horizonte alhures, con-templo o que está ao meu redor, ser perspicaz,
olhar as coisas com solércia, aos homens com indiferença, não vers-ifico poesia, vers-ifico a
sensibilidade do desejo, do volo, da esperança, do sonho, o eu-poético do nada
é a nadificação da contingência, ser a trans-cendência das verdades
con-ting-entes, à busca da sublime-verdade do verbo, do ser, degustando com
alegria, prazer, satisfação o sabor das dores e sofrimentos.
Venho
do nada, a minha genesis é o nada.
Nada
sou. Nadificando melancolias, nostalgias, saudades, versejo não a sensibilidade
de um poema, suas estesias estéticas, seus ex-tases espirituais, sim a
subjetividade do não-ser que aspira, angustiadamente, a luz da ribalta do
verbo, do ser, e só nas viagens pelas paisagens do In-finito vou colhendo,
re-colhendo, a-colhendo imagens do vir-a-ser, perscrutando as nuvens que
ficaram para trás, pensando noutras que estão presentes, cobrem-me, passam,
ininterruptamente.
"Nem
todos os caminhos são para todos os caminhantes", diz-nos o imortal,
eterno poeta Goethe. Nada, não posso trilhar os caminhos de quem, através do
eu-poético, diz-se poeta, disse poeta; fazê-lo, estaria nadificando o nada que
sou, ser unicamente poesia. Idéia bem ambígua, tudo bem de lê-la com a
sensibilidade, a entonação da voz se fará presente, os sentimentos que dentro
trazem florarão na floração dos verbos.
Venho
do nada, a minha genesis é o nada.
Nada
sou. Não sou poeta, não poetizo, não poematizo, sigo a minha trilha de nada à
busca não do verso, da estrofe do In-finito, sim do verbo do Ser. Atrás de mim,
vou deixando nas estradas de poeira, de solo árido, nos campos de silvestres
flores, nos campos de nada devido à seca plena, calçadas e calçadões, alamedas
e becos os passos de nada quem sou, sempre à busca do Ser. Vou nadificando o
"eu-poético", vou criando, recriando, inventando, re-inventando o
"nada-verbo".
Venho
do nada, a minha genesis é o nada. Nada sou.
Se
me perguntardes vós se não sou re-verso ad-verso, in-verso das revezes, o que responderia ou nada res-ponderia,
preferiria o silêncio a qualquer palavra, in-versaria e re-versaria o re-verso
e o in-verso, nada mais restando de inteligível, dizendo vós em verdade sou a
farsa até às cinzas... Qualquer comunicação entre nós resulta no vazio pleno.
Como é mesmo aquela frase de efeito que adora dizer? Ah, sim... "A
comunicação com as coisas é impossível porque não tem subjetividade e a
comunicação com as pessoas é impossível porque tem subjetividade."
Venho
do nada, a minha genesis é o nada. Nada sou.
De
si mesmo por onde andará o crente? O mundo se lhe mostra indiferente? Por onde
o “si” do crente andará mesmo? Vive regendo estranhas contradanças no baile de
corpos? Por si mesmo, onde andará o crente? O ritmo das ruas e avenidas
convida-o a entrar no bulício quotidiano?
Venho
do nada, a minha genesis é o nada. Nada sou.
Seria
mesmo? Re-verse "a genesis é o nada", (o nada é genesis) e in-verse
"venho do nada", (nada de vir)... Poderás dizer, corroborar, endossar
com tanta empáfia, embófia dizer isto: "Venho do nada, a minha genesis é o
nada. Nada sou." Digo-vos em resposta à posição e questionamento tão
eloquentes e divinos: "Nem todos os caminhos são para todos os
caminhantes".
(**RIO
DE JANEIRO**, 14 DE FEVEREIRO DE 2017)
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