#AFORISMO 586/HÁ CONSOLO NO ESPÍRITO BRANCO DA ETERNIDADE, O AMOR# - GRAÇA FONTIS: PINTURA(TÍTULO: #INTERSTÍCIOS DO VOLÚVEL#//ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Entreabre-se,
em silêncio,
a singularidade, do clima frio,
às vezes, médio,
mostrando
a carne do rosto;
a
fisionomia é algo de uma ternura e amor sérios e sinceros.
As
infernidades escorçam-se na eternidade
Límpida, nítida, transparente
A eternidade
Desliza-se nas linhas da
contingência,
finge, atua,
re-presenta,
falseia, ilude,
aliena
Arrasta-se nas brumas e
solidões do outro
Brancas, claras,
translúcidas
As
atitudes são os meus passos...
A solidão de
quem sou.
Vertigem!...
Espécie
de mergulho nos recônditos dos desejos;
Aguça-me os sentidos
inteiros.
A
urgência de metamorfoses assiste, orgulhosa e inquieta,
A presença do carinho a
suceder no coração,
Não ser mais faminto,
tantas carências e ausências,
Acrescente-se mais esta sombra, dentre
tantas,
Mas, hoje, sensivelmente
completo...
A
bruma de prata flutuando pela manhã,
Sobre os prados inda
sonolentos,
É o
vestido da intimidade.
O
amor serve-me de companheiro,
íntimo,
tenha
eu a cor-agem de me enfrentar
saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como
se estivesse pleno de tudo.
A
intimidade nua
Sente as sensações mais singulares
Na
inteiração do gozo e prazer.
Apanho-me
sentindo uma leveza vinda de que sítio não sei, uma sensação suave na carne,
mas, devido à tensão existente no interior, não consigo nomear estes fenômenos
em mim. Talvez por estar havendo um obstáculo emocional de o tempo
entronizar-se no sentimento de meu amor, arrancando de sua memória as situações
de fracasso, colocando a identidade às claras. Talvez por estar havendo um
empecilho de a consciência penetrar no tempo de mais sentimentos, retirando as
arestas das lembranças das perdições, pondo evidentes as emoções. Talvez por
estar havendo uma dificuldade sensível de o intelecto adentrar nas fantasias,
entendendo-lhes, explicando-lhes, construindo o arsenal da consciência. As
fantasias precedem a consciência.
Ingurgitando no cansaço de um dia envolvido inteiro com a datilografia
de uma obra e feliz por haver descoberto em mim um amor antigo, filtradas as
impurezas no tempo, adquiro, pela primeira vez, uma espécie de cumplicidade com
as forças de decisões, com as firmezas das palavras, uma familiaridade e uma
simpatia com a franqueza.
É
evidente: este amor, desde os primórdios de seu nascimento, legou-me sempre uma
força de decisão, uma autenticidade das palavras, uma perspicácia no
entendimento de minhas circunstâncias da consciência, penetro-me fácil nos
liames de minhas fantasias, encontrando a verdade em mim. Descobertos tais
fenômenos, alicerçado no sentimento de rejeição, medo da solidão, necessidade
de compreensão, temi radicalmente os resultados, preferindo uma ambiguidade de
sentimentos, uma força e insegurança de decisões, uma autenticidade e desamparo
das palavras, uma perspicácia e desconsolo no entendimento de minhas circunstâncias
da consciência. Vivia com ferocidade a inquietude do próprio corpo. Respirava
uma verdade simples, quase higiênica e equilibrada. Reprimia as fantasias, por
uma questão de não desejar ir bem fundo na duplicidade dos sentimentos,
dizendo-me não ser sincero aceitar a imaginação. E, não sabendo mais distinguir
a fantasia da imaginação, transferia o significado de uma para a outra. Não me
é sabido como se deu o processo de filtrar as impurezas deste amor em mim, pois
o discurso estava envolvido das melhores fugas e mentiras. Conquistar o seio do
amor, em sentido de lhe sentir com seriedade e verdade, é tarefa dificílima.
Não
posso, em hipótese alguma, com convicção, afirmar que este amor seja puro, vez
que as impurezas residem em mim num sentimento de fracasso, começando a
fundar-se no início deste amor. Mágoas, ressentimentos, raivas, cóleras,
aborrecimento, nascidos a partir de inúmeras situações, esvaeceram-se com
efeito.
A
bruma de prata, que flutua pela manhã sobre os prados ainda sonolentos, é o
vestido da intimidade. Inalo, entre lacônico e lascivo, a pureza de sentimentos
e sensações, que, aglutinadas à consciência das dores mais substanciais,
desejam a mim calmo e tranquilo, vivendo e sentindo prazeres. Encoimo a
consciência perspicaz, por vezes, a empreender-se a favor do singular, e é a
sensibilidade a chincalhar os pensamentos.
Efemeriza-se
o vácuo no interior da memória e, de suas dimensões temporais, exala a
contingência dos desejos mais profundos, a necessidade da visão de vida mais
sentida e processada. A intimidade nua, a mostrar-se sobremaneira, sente as
sensações mais singulares de inteiração e desvencilhar do gozo e prazer.
Transcorro-me em termos afetivos. Concilio a intimidade com a imanência, num
favor de renovação. Insuflando interiormente, sinto-me estar. Não consigo
deixar de reconhecer que existe, neste sentimento de liberdade, qualquer coisa
de inteiramente espontâneo, às vezes, gratuito e irrevogável, que caracteriza o
encontro de percepções novas e escapa a qualquer fantasia. Postergam-se as
emanações contingentes do absurdo e, encontradas as ideias de sossego e
silêncio, extravio as sensações de perda.
Há
consolo no espírito branco da eternidade. Tenho uns desejos vagos e
incompletos, que me obrigam, inerente aos desejos, a fechar as pálpebras.
Parece-me, a princípio, haver sentido uma eclosão além do intangível e sou uma
ironia mesclada de cinismo, a sentir-se os pensamentos. Reconheço o tempo, uma
sensibilidade no seu âmago; transpareço a nível das palavras. Abro o jogo! Não
é intenção e nem interesse meu contar os fatos de minha vida: sou enigmático
por natureza, sou quem sou por liberdade e consciência, pelas consequências e
decisões, sou hermético por me habitar profundo, interstícios da alma, a sede
do erudito, a sede de sabedoria, a sede de pensar o pensamento que pensa
livremente. Há verdades que nem a Deus eu
contei.
E nem a mim mesmo. Sou um segredo trancado num cofre da inconsciência, a sete
chaves. Por favor me poupem.
Quem
sou? Uma gota de mais e/ou de menos no copo de minhas ausências, me surge de
verificar a distância de mim, a estender-se ao longo da alma, fluindo-se
espontaneamente. O exílio de agora não será apenas uma manifestação, ser-lhe-ei
os êxtases das ondas. A dança de uma evidência que se escova todas as manhãs.
Conciliam-se raízes que se afloram no fundo do tempo e da terra à beleza muda,
silenciosa. A fisionomia de uma ingenuidade proclama um silêncio indisciplinado
e o rosto da inocência perspicaz lança, na consciência, a sombra clara do
indivíduo.
Um
lânguido e tênue olhar entenebrece, como um céu, onde vai relampejar, raios
ofuscantes. Penso as contingências todas do passo sombrio – uma nitidez de ar
sem poeira, sem a vibração de raios tensos e densos. Intuo as arestas da
consciência, os resquícios da razão, os vestígios da indagação, da
in-vestigação, do in-ventário, da perquirição: sou a mesma abertura de silêncio.
Brilha mais puramente a brancura da realidade. Lá, das profundezas da solidão,
não devolvo as coisas nem as modifico. Um vento brando reflete no coração. A
fumaça do cigarro habita o escopo da intimidade. Fundo-me e me absorvo na
humanidade prolixa. Olho a claridade da luz. Afigura-se-me a imanência: seria
uma ausência lenta? As imagens retornam a encenar frente aos meus olhos. O
retorno nítido de uma cumplicidade com o sentimento do eterno aglutinado à
consciência da alma e suas voluptuosidades e volubilidades. O sentimento e a
emoção do amor.
Levantei
com o sentimento de estar sendo consciente hoje. Estou bastante acostumado a
estar em silêncio, mesmo junto dos outros. Não há senão uma atitude sincera e
de que, em verdade, só eu participo de uma orgulhosa liberdade; só eu, enquanto
a necessidade de doar-me vem ligeira à minha consciência, entregando-me inteiro
nos braços e ósculos do amor. Sou.
Chegou
o momento das mãos entrelaçadas, não
mais por solidão, por silêncio, mas como eu agora: por amor.
Um
equilíbrio imaginário???
(**RIO
DE JANEIRO**, 16 DE FEVEREIRO DE 2018)
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