#AFORISMO 570/MURMÚRIO DO SILÊNCIO# PINTURA/TÍTULO DO TEXTO: GRAÇA FONTIS Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Quem penso ser que um lânguido e tênue olhar entenebrece - como o céu -
onde vai relampejar, palavras soltas no ar sussurram-me, murmuram-me
silêncios - como a caverna - onde a serpente dorme o seu sono no ninho.
Afigura-se-me a imanência... Seria uma ausência lenta, a contingência...
Seria
um vazio abissal, abismático. O segredo da existência humana reside não
só em viver mas também em saber para que se vive. Uma palavra dita com
convicção, com plena sinceridade e sem medo, sendo a verdade íntima, traduzindo
a virtude inestimável vale muito mais que dez folhas de papel cobertas de
palavras.
O retorno nítido de uma cumplicidade com o sentimento do eterno
aglutinado à consciência da alma... Voluptuosidade! Volubilidade!
Susceptibilidade! Lembra-me de como, no silêncio de um monólogo interior, a
afetividade de mim aguçava os sentidos inteiros.
O significado é desordenado, invertido, despido de caracterização.
Busca com a sinceridade radical e exigente... (psiu!) de um olhar a quem
se ama um espairecer de ideias.
Uma gota de mais e/ou de menos no corpo de minhas ausências.
Postergam-se as emanações contingentes do absurdo e encontradas as
ideias de sossego e silêncio - extravio as sensações da perda, subverto os
desejos do efêmero, os volos das vontades in-verto-lhes e re-crio-lhes
almejando olhar as coisas aos linces da indiferença, as utopias da razão
in-versa re-verso no sentido de a liberdade estar em questão mostrar a cara. É
surpreendente o que um raio de sol pode fazer com a alma humana! O raio de sol
que entrou pela fresta entre as duas metades da janela fez-me compreender que
se não se tem o dom de mergulhar na alma humana, revelando o que nela habita na
sua plenitude, não deve de modo algum intitular-se escritor, ademais jamais o
vernáculo "escritor" con-sentiria legar-lhe o verbo do Ser, Caminhos
do Ser, por haver-lhe faltado o dom. Ter nas mãos o con-sentimento de todas as
palavras para serem utilizadas para a busca do ser é mister a franqueza dos
pro-jectos, utopias, sonhos.
Sou uma ironia mesclada de cinismo, sou a mescla de escárnio e sarcasmo.
Andam por aí pelos becos e esquinas dizendo que estou perdendo as oportunidades
de desfrutar os prazeres da existência, suficiente que escarnecesse e
satirizasse com veemência.
Milagre... quem pode sabê-lo? As ninfas outrora mudavam-se em flores, as
flores não morrem, para que o desejo de saber o porquê não morrem?
Brilha mais puramente a brancura da realidade. Se os raios da lua de
sons se fizessem, quiçá me lembrassem o murmúrio do silêncio. Se o silêncio
fosse banido do mundo, não seria a algazarra a habitá-lo, sendo impossível
viver nele, mas a saudade que as palavras sentiriam dele, pois para se
revelarem o silêncio se lhes doa, lega o verbo, para que possam dizer as coisas
do homem, do mundo, mostrar-lhe os campos do Ser.
Reconheço o tempo, uma sensibilidade no seu âmago. Ouça-me, amor!...
Trans-pareço o nível das palavras. Até o último limite, dilacero a consciência
e meus sentimentos, com o desejo nítido de viver, de existir, sentir, amar,
satisfazer. Olhe, amor, sou uma inquietude!
Ser-lhe-ei os êxtases das ondas, a volúpia de se esparramarem na areia.
Conciliam-se raízes que se afloram no fundo do tempo.
Não existe verdade relativa, precisão relativa acerca deste mundo de
devir. Equivalente epistêmico do salto ético do niilista passivo, de "não
existe o bem" ao "o mundo não tem valor algum." Nenhum deles é
garantido.
Concilio a intimidade com a imanência, num fervor de re-novação.
(**RIO DE JANEIRO**, 04 DE FEVEREIRO DE 2018)
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