#AFORISMO 581/TUDO NUMA CASA É BIOGRAFIA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA - ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
No
instante da proximidade comigo, encontro-me distante. Instante distante,
proximidade de encontro?
No
momento em que me sinto distante, encontro-me o mais próximo da verdade. Eu,
que de mim só consegui foi me submeter a mim próprio, sou mais inexorável do
que eu, mais implacável do que minhas atitudes, e o jogo de minha vida maior
não se fará.
Esvaece-se
a fumaça, o tempo, que cosita mais furtiva o ser, que coisa mais difícil de ser
ouvido, ouvindo-me sendo... ritmo, melodia, arranjo, musicalidade, acorde
musicalizam ao som das atitudes, ações... a música tocando no gravador,
avenida, ruas, alamedas, a loucura desvairada pelas futilidades serão
lembranças de instantes, de idéias, questionamentos entre carícias, beijos,
serão recordações de carências, as luzes dos postes iluminando a rua de por
baixo das copas das árvores, escuridão, subindo a Espírito Santo, destino Praça
da Liberdade - liberdade: onde estás que não me ouves?
Alhures...
Algures...
Horizontes
espalham-se nas arestas sensíveis de um tempo em que o homem é uma consciência,
em que o homem é um sentimento de prazer e tristeza, de angústia e solidão.
Universo
esparrama-se nos emocionais ângulos de uma consciência e o amor é sempre uma
indagação de sensibilidade, de sentimentos, de autenticidade, a consciência e
verdade do silêncio; e o carinho é uma postulação de sensações de busca e
procura do Belo, de sentimentos de Beleza e o Homem deseja a Paz.
Sinta
as emoções infinitas e universais a desligarem-se espontâneas, livres, a
revelarem-se simples!
Sinta
os sentimentos absolutos e imortais a processarem-se fáceis, a desenrolarem-se
calmos!
A
luz inflama os vitrais coloridos onde os apóstolos e os santos ostentavam sua
glória, onde os querubins e os deuses corroboravam as vicissitudes.
Os
grandes silêncios do campo, os verões crivados de uma luz esmagadora, as tardes
brumosas enchem-me de uma perigosa volúpia, o silêncio nesta Praça da Liberdade
é inominável, indescritível, no entardecer, por volta das cinco e meia,
deixa-me extasiado, ansiedade pelo encontro inestimável da consciência
estética, custar-me-ão longos e longos anos. O olhar perde-se no céu e na
neblina à procura de alguma coisa que não posso encontrar, perscruto com
insistência as profundezas azuis para nelas descobrir uma imagem querida, a
quem talvez, por um privilégio especial, ser-me-ia permitido manifestar-me uma
vez mais.
Sinta
as sensações verdadeiras e lindas, resvaladas, a desenvolverem-se
tranquilas,
a formarem-se suaves!
Sinta
as ideias reais, autênticas a canalizarem,
a existência a delinear
os
mistérios...
Dormitar
as ilusões, dormitar as angústias, dormitar as tristezas; "...amanhã,
terei aula de Filosofia, o esplendoroso Heidegger."
Lá
longe, lá onde, na curva, o último vagão do trem sumirá, visto de quem se
encontra sentado no portão de sua residência observando-lhe passar... O que
isto era? Quiçá intuição dos conflitos e desejos, e só o tempo seria capaz de
consumar, o longínquo era o verbo de querenças, vontade, mister conjugá-lo a
critério e rigor.
Lá longe... Silêncios
distantes,
Sensação de solidão
metafísica,
Lá onde... Estou só,
distante,
À hora tardia!
O
mundo enlanguesce nas praias das vontades e desejos de uma vida vivida na
alegria, de um viver sentido na felicidade. E o indivíduo? Busca sua
consciência no universo do corpo, no corpo e carne do mundo.
Afim
de que não me entristeça, interrompo-me. Intenciono ser, isentar-me de mim, ir
ficar no meu interior, ser ele, entregando-me inteiro.
Sou
feliz por esquecer pretéritos, outroras, coisas presentes, acontecimentos
atuais. Afigura-se-me ser a subjetividade, a sensibilidade humana. Busco, em
mim, o ritmo de árias antigas, palavras a serem cantadas, cânticos de verbos,
uma ópera e sinfonia em atos, a "humanidade do ser". Só me recorda o
seu modo demasiado im-perfeito, estilo e linguagens in-fin-itivas.
Abaixo
concepções...
Abaixo
definições...
Abaixo
acepções...
Enveredar-me
por outros caminhos
Embrenhar-me
noutras sendas, nossos bosques
Enfiar-me
noutra gruta, noutra caverna
"Ser
não é mostrar-se e mostrar-se não é ser",
À
frase, aconchegando a cabeça na almofada do divã,
O
verbo é movimento e continua,
A
dramatização do sujeito é perceber
O
verbo em ação, descrevendo-lhe o trajeto.
Olho
o infinito através da janela aberta,
Res-pondo
com um sorriso,
Não
me lembra ter-lhe revelado nalgum momento,
A
casa é a concretização de um tempo.
Até
especifica posição ou cor de cada objeto
Estão
relacionadas com acontecimentos.
Tudo
numa casa é biografia.
Sou
feliz por esquecer pretéritos, outroras, coisas presentes, acontecimentos
atuais.
(**RIO
DE JANEIRO**, 10 DE FEVEREIRO DE 2018)
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